Visita

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Meus saltos de alegria chamavam a atenção de todos na rua, talvez na verdade fosse o meu acompanhante mascarado, mas também olhavam para mim. Meu sorriso estampado denunciava minha felicidade tanto quanto o caminhado saltitante.
O caminho para a volta estava mais recheado de pessoas que o comum a aquela hora, já estava escuro e os portadores andavam pelas ruas como se fosse uma tarde de feira.
- Por que tem tantas pessoas na rua hoje?
Perguntei para Akira, mas tudo que recebi em resposta foi uma leve contração de ombros. Contraí meu rosto e parei de pular. Ele estava mais falante mais cedo. Até mesmo se propusera a me acompanhar de volta para casa. Sorri com a lembrança. Akira dizendo:
- Vou com você.
Fiquei surpresa, mas ainda mais feliz. Meu treino tinha sido um sucesso naquela tarde, eu consegui manifestar uma flor perfeita e uma serpente perfeita de fogo depois de Ah! Agora não podia dizer não ter momento de grande felicidade ali, a gratificação de conseguir controlar algo em você é gigantesca, mesmo que seu mestre dissesse que não era o suficiente. Chegamos à rua final. Olhei para Akira me lembrando do que tinha dito que me fizera mais forte.
"- Você não é uma aberração, não é uma coisa qualquer. Você é forte. É capaz. É Tirya e Maika. É você.
Eu não conseguia tirar meus olhos dos dele. Eram ainda mais bonitos que os de Shun, ainda mais bonitos que os do lobo.
- O que a prende, a enfraquece é apenas você mesma. Mas é para isso que estou aqui. Eu devo ajudá-la a abrir o caminho em si mesma, a encontrar a própria força e controlá-la.
Céus! O que eu poderia dizer daqueles olhos? Sei que a aparência de uma pessoa não deveria importar tanto, mas de algum jeito Akira se tornou outra pessoa quando tirou aquela máscara.
- Tirya?
Eram uma mistura harmoniosa de azul, verde e dourado. Pareciam brilhar. Eram perfeitos. Como eu gostaria de ver aqueles olhos todos os dias! Ainda mais naquele rosto. Se encaixava perfeitamente nele. Elgante e marcado onde deveria, não havia uma mancha, um sinal de barba o que o tornava muuto jovem apesar de eu ter certeza que ele era bem mais velho que eu, mesmo sem ela ele era maduro, o cabelo preto era como a própria escuridão contrastando com a pele clara e estava completamente assanhado devido à máscara. Eu poderia ficar olhando para ele pelo resto de minha vida.
- Tirya!
Eu pisquei tentando dar atenção a ele e não a... ele.
- Sim?
Ele exibiu um riso de lado, do mesmo jeito que eu o imaginara tanto fazer quando eu errava alguma coisa.
- Você entendo o que eu quero dizer?
- Sim.
- Estava mesmo prestando atenção?
- Sim.
- Eu sou tão feio assim?
Quase deixei sair um sim automático.
- Não! Por que diz isso?
Ele sentou na grama de frente para mim.
- Nunca vi meu rosto.
Me inclinei para frente surpresa.
- Como isso é possível?
Ele me encarou e eu quase me perdi em seus olhos mais uma vez.
- Tengu não podem ver a própria imagem em espelhos. Apenas pinturas. E só os maiores recebem a honra de ter um retrato seu.
- Por que?
- Tradição.
- Por que achou que era feio?
- E eu não sou? Bem, é o natural. Considerando minhas procedências. São raros tengu bonitos. Mas isso não importa, de qualquer forma.
- Por que?
Ele me olhou por um longo tempo. Achei que mais uma vez fugiria da pergunta.
- Apenas os mais fortes conseguem esposas.
- Esposas? Você não vai casar? Por que? Tenho certeza que é muito forte.
Ele riu, aquela mesma risada que dera há alguns dias.
- Tirya, por que estamos falando de mim?
Eu me endireitei. Sabe, se alguém me dissesse há alguns meses que um dia eu conversaria com um homem como aquele tranquilamente eu diria que essa pessoa tem uma imaginação mais que fértil, mas ali estava eu, na frente dele, em uma Cidade estranha, com amigos incríveis e com superpoderes, acho que não podia me dizer tão azarada.
Ele realmente estava falando meu nome. Aquilo era emocionante. Lembrei do que ele dissera em nossa primeira conversa.
- Qual o seu nome?
Ele pareceu surpreso por alguns instantes.
- Talvez eu também deva dizer meu nome, não é mesmo?
Acenei, esperando.
- Kuroki.
Sorri para ele e estendi minha mão. Ele não fez nada, não parecia entender o que eu estava fazendo. Ignorei a vergonha e tomei a mão dele na minha e a sacudi.
- É um enorme prazer conhecer você, Kuroki.
Ele estava espantado, mas logo me exibiu um sorriso.
- É uma honra conhecê-la, Tirya."
Ah! Como tinha sido uma tarde feliz, apesar de meu momento de crise, estava feliz por ele ter acontecido e levado a tudo aquilo.
Quando alcançamos a casa exibi mais um sorriso para ele.
- Até amanhã!
- Até.
Quando ele colocou a máscara mais uma vez tinha voltado a falar resumidamente, ela realmente devia ser um incômodo.
- Boa noite.
- Boa.
Eu sorria feito boba, devia parecer uma palhaça.
- Um caminho de volta tranquilo!
- Obrigado.
Estendi a mão para trás de mim para pegar o trinco sem tirar os olhos dele, esperando ter um vislumbre daqueles olhos mais uma vez, mas a máscara escondia tudo.
- Tenha uma noite agradável.
- O mesmo.
Eu ri. Ainda não tinha encontrado o trinco.
- S-
- Ah! Por favor, até quando vai continuar com isso? Nem quer que ele vá embora, não é? Que coisa, Maika, para quê dois?
Eu pisquei e me virei surpresa por escutar aquela voz. Ela sorriu para mim se divertindo.
- Sim! Olá! Também é ótimo te ver!
Lan colocou as mãos nos quadris. Aquela seria uma longa noite.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosWhere stories live. Discover now