Máscara

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Acordei em um susto. A imagem daquela máscara assombrosa ainda estava em minha mente, ele aparecendo do nada bem na minha frente. Vasculhei o quarto com os olhos, observando as sombras mais escuras e me atentando aos cantos, tudo aparentava estar tranquilo. Ainda era noite, talvez eu houvesse acabado de cair em sono, mas duvidava que dormisse logo. Me deitei e fiquei olhando para cima, por que ele insistia naquela máscara? Não é como se alguém fosse roubar o rosto dele. Qual a utilidade daquilo? Tinha certeza que limitava a visão dele. E mais, já que usava uma máscara, tinha mesmo que ser tão assustadora?
Cobri meu rosto com o lençol esperando que me protegesse dos medos, que impedisse mais pesadelos. A noite não foi fácil.

◇•°•◇

Pela manhã minha cabeça doía com a falta de sono, meus olhos ardiam e ameaçavam se fechar a qualquer segundo, eu estava sem um pingo de coragem para levantar e como já era dia talvez pudesse dormir sem me preocupar com pesadelos, afinal é sempre assim, durante o dia o sono é mais leve e tranquilo.
Fechei meus olhos e me encolhi nas colchas satisfeita. Estava quase no estado que leva ao sono quando três batidas na porta excluíram qualquer chance de eu dormir. Não me mexi. Logo as batidas se repetiram acompanhadas de um chamado.
- Maika?
Continuei quieta. Talvez fosse embora. A porta se abriu.
- Tirya?
Era Claren. Resmunguei em resposta. Ela veio a minha cama.
- Tem que se levantar.
- Não tem aula.
Era o dia de folga para todos ali. Ela se agachou e puxou minhas cobertas. Me encolhi para manter o calor aconchegante.
- Você tem visitas.
- Tas?
Ela concordou e jogou o lençol ao meu lado, o puxei e abracei.
- Quem?
Ela se levantou e foi em direção à porta fazendo bastante barulho, fechei meus olhos.
- Lan e Akira.
Abri um olho para vê-la sumir na porta. Fechei novamente o olho bufando.
Cinco minutos depois levantei, cambaleei até o guarda roupa e peguei as primeiras que chegaram às minhas mãos. Fui para o banheiro e quase dormi debaixo do chuveiro. Me vesti lentamente e saí.
Um degrau de cada vez ou eu caía foi como desci as escadas. Meus olhos se fecharam assim que cheguei ao térreo e andei às cegas até um sofá, me joguei nele e me escorei no encosto, mas bati em alguém. Abri os olhos e vi que era Lan. Ignorei, fechei meus olhos novamente e fui para o outro lado, mas bati em outra pessoa. Abri os olhos e vi Britta. Ela indicou a cabeça para o lado e me virei de frente. Uma cara vermelha assustadora estava me encarando. Soltei um grito e me joguei para trás.

◇•°•◇

Estava bem desperta depois do susto. Britta riu de mim. Lan quase se atirou ao chão de tanto gargalhar. Akira continuou com os braços cruzados imóvel. Evitei olhar para ele. Lan iniciou uma conversa. Disse que conseguiu um meio para ir comigo à Cidade dos contos. Algo haver com irmandorato ou uma palavra assim. Depois a sala caiu em silêncio e percebi que tanto ela quanto Britta encaravam Akira.
- Cara, você realmente está horrível com isso.
Lan falou séria.
- Essa deve ser a cara do demônio porque isso está bárbaro! Parece que juntaram todas as caras dos monstros que apareciam nos meus pesadelos e criaram essa máscara. Tem tudo de mais macabro aí. E esse vermelho só deixa a coisa mais sinistra. Além de tudo você usa uma roupa dessas! É quase-
Akira pigarreou e Lan parou.
- Essa é a intenção.
Eu olhava para Lan, já que olhar para Akira apenas me assutaria. Ela ergueu uma sombrancelha.
- Assustar crianças quando sair nas ruas e virar o maior medo delas?
- Sim.
Ela fez uma careta.
- Que louco! Por que mesmo os tengu fazem isso?
- Não mostramos nossos rostos a desconhecidos.
- Por que?
- Maldições e podemos ficar presos por essas pessoas.
- Como na história do espelho?
Eu não o escutei responder, mas deve ter afirmado. Me virei para Britta.
- Que história de espelho?
- Existe um espelho que aprisiona as pessoas refletidas neles.
- Ele pode se mudar. - prosseguiu Lan - A qualquer instante o espelho na sua casa pode se tornar seu carcereiro e você vira um eterno reflexo sem corpo.
Engoli em seco. A sala prosseguiu em quietude até Claren entrar e olhar para todos confusa.
- Por que esse silêncio?
Lan se levantou.
- Já vou!
- Já?
Ela se despediu e foi sozinha à porta e partiu.
- Veio fazer o que mesmo Yamabushi?
Ele se levantou.
- Ensinar.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosWhere stories live. Discover now