Um adeus restante

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Dylan reclamou que Lark não havia dito que ele tinha ajudado na água. Min deu luvas a mim e Lan, tinha combinado com Marian.
Eu tinha pego minhas coisas, apenas a mochila que agora estava abarrotada de coisas graças ao meu lobo preto que eu tinha decidido chamar de Sebastien, é um nome bonito e parecia combinar com ele. Gui tinha dito que chamava o seu de Bai.
Eu soube por Trent que eu usaria o uniforme da guarda quase por todo o dia e não me empolguei nem um pouco.
Nos despedimos ainda na porta de casa, recebi um abraço apertado de cada um. Liang, Gui, Min, Claren e Adam ainda acompanharam Lan e eu até a estação. O trem deveria chegar em breve. O caminho foi silencioso e parecia que íamos para um cemitério para prestar nossas preces pelos falecidos. Gui abraçava seu lobo e segurava minha mão, ele a apertava muito forte e aquilo me deixou triste.
Quando chegamos à estação ela estava vazia. Os tiquetes já haviam sido comprados e entregues a nós duas. Antes de seguirmos para a plataforma Gui começou a chorar, Claren e Liang iniciaram a missão de fazê-lo parar. Eu tentava confortá-lo, mas se tratava de uma missão impossível. Adam se agachou e falou com ele.
- Ei garotão, voce gosta de lobos?
Gui fungou e continuou a chorar, mas antes concordou.
- Eu sou um lobo, sabia?
Ele tentou resistir, mas que criança não sucumbiria a aquilo que mais gosta?
- É mesmo?
Adam sorriu satisfeito por conseguir acalmar o pequeno.
- É. Quer ouvir tudo o que sei sobre o grande lobo negro?
- Mas... Não sabemos muito sobre ele.
Gui hesitou.
- Ah! Mas os lobos sabem muito mais uns sobre os outros.
Gui começou a pular, as lágrimas já esquecidas.
- Me conta?!
- Claro!
Adam se levantou e olhou para mim.
- Eu vou manter ele distraído. Acho que tenho que me despedir agora.
Acenei. Eu não queria ter que fazer aquilo, dizer adeus era muito difícil. Ele me deu um abraço apertado e quando me soltou sussurrou para Lan.
- Conto com você.
Ela balançou a mão para ele.
- Eu já recebi pressão demais. Saia logo daqui.
Ele sorriu e tomou a mão de Gui.
Liang chamou por Min, disse que devriam acompanhar Gui. Liang me deu um abraço ainda mais forte que o de Adam, ela disse que eu tinha de ser forte. Min me deu um abraço fraco. Acho que ela ainda estava ressentida pelo que a irmã tinha feito comigo.
Seguimos eu, Lan e Claren para a plataforma. Diferente da estrada da estação ela não estava vazia. Havia uma única pessoa nela. Shun.
Meu coração disparou e eu senti mais ainda o peso de partir. Ele esperava em pé próximo aos trilhos. Lan gargalhou atrás de mim.
- Claren, tem como irmos ao banheiro?
- O que? Por que? ... Ah! Bem... podemos ir sim, eu acho.
As vozes delas sumiram de volta para a estação. Eu me aproximei de Shun e ele de mim. Assim que o alcancei lancei meus braços ao redor dele. Talvez chorasse agora. Ele também me abraçou.
- Achei que não te veria antes de ir.
Reclamei.
- Eu não podia deixá-la ir sem me despedir.
Ele apertou o abraço e eu soube que não podia mais mentir ou esconder algo dele.
- Shun, eu preciso dizer... meu nome...
- Eu sei.
Tentei me afastar e ver seu rosto. O que ele tinha dito? Mas ele apertou ainda mais o abraço.
- Eu sei, Tirya.
Eu prendi a respiração.
- Como?
- Eu escuto muito bem. Eu soube quando você chegou. Eu já sabia seu nome. Eu sei de tudo. E eu entendo. Não precisa explicar nada. Eu estou com você, Emi.
Ele afroxou o abraço e eu pude ver seus olhos, seu leve sorriso.
- Eu sempre estarei.
Então a coisa mais incrível da minha vida aconteceu. Ele se aproximou. Mais e mais, até que nossas respirações se mesclaram, o ar se tornou um e então o espaço entre nós grande demais. Ele se aproximou mais, nossos narizes e lábios se roçando. E então eles se tocaram. Shun tinha me beijado. Eu não entendi o porque daquilo, não entendi porque ele tinha feito aquilo naquele instante, mas eu estava feliz. Feliz por estar com ele, feliz por receber o beijo mais incrível de todos.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosWhere stories live. Discover now