Memórias ligadas

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A sala de Liang estava do mesmo jeito que me lembrava. Escutei vozes vindas do cômodo atrás de mim, vi Gui entrar e eu ficar parada na porta. Liang entrou na sala, mas não me viu, parecia olhar através de mim. Quando passou ao meu lado a acompanhei com o olhar, escutando as vozes conhecidas gritarem uma com a outra. Quando Liang sumiu através da porta Lan surgiu da mesma exibindo um sorriso e olhando diretamente para mim, eu de verdade.
- Então é assim sua primeira lembrança. Ficou ali, quietinha feito um filhote sem mãe.
Ela indicou o outro eu na porta.
- O que está acontecendo?
Ela descansou as mãos na cintura.
- Britta está nos amaldiçoando.
- Por que?
Ela olhou para mim e exibiu um sorriso de divertimento.
- O grandalhão disse que era o único jeito que encontrou para ficarmos juntas na Cidade Maldita.
- Grandalhão?
Ela saiu da frente da porta despreocupada quando Liang retornou e me convidou para dentro. Ela observava tudo despreocupadamente.
- É, o vampiro que gosta de usar preto. Acho que o nome dele é Duent ou alho assim. Você parece um vampiro esperando para convidarem para entrar.
Ela riu.
- Trent?
- Hã? Ah! É, é isso aí.
- Por que uma maldição? O que ela vai fazer?
Lan e Min entraram na sala e a lembrança começou a mudar. Ruas se formaram e prédios.
- Não é bem uma maldição. Assim que tiver terminado vamos estar amarradinhas pelo resto da vida, como um casamento.
- Por que não me perguntaram nada antes?
Ela deu de ombros.
- É mais fácil pedir perdão que permissão. Não se preocupe, não vou atormentar você tanto. É só desfazer a maldição depois, só vai ser meio complicado.
- Por que?
- Falta de ingredientes para a poção. Por isso maldições ficaram perigosas.
- E por que Trent sugeriu isso?
Me vi andar atrás de Lan ao lado de Min. Percebi que desde aquele dia nunca mais falei direito com Min, antes ela parecia mais receptiva e falante comigo, agora era mais isolada.
- Ele disse que só uma maldição nos amarraria forte o suficiente pasa não nos separarem.
- E o que, afinal, ela vai fazer para que não nos separe?
Olhei para ela e a vi sorrir sombriamente.
- Vai ligar nossas mentes e corpo. Digamos que o que você sente eu sinto e vice versa.
Olhei novamente para a outra eu. O wendigo apareceu, eu corria enquanto Min e Lan se abraçavam protegidas.
- Sabe, eu não fiz nada porque estava com medo. - encarei a vampira, ela mantinha os olhos na cena - Nunca tinha visto um consumido na vida e quando vi um fiquei apavorada, mas não pude correr para mais longe e te deixar sozinha.
O fogo explodiu. Ela sumiu da crna e foi quando mais pessoas surgiram, ela voltou acompanhada da guarda que tinha me escoltado de volta para casa. Não a tinha visto fazer isso antes.
- Ele já tinha matado uma mulher antes.
A imagem começou a mudar.
- Eu vi o corpo dilacerado dela. - seu rosto se contorceu - Mas aquele monstro ainda queria mais. - Nossos olhares se encontraram - Que bom que ele está morto de verdade agora.
Era o tribunal escuro. Quem estava no meio era Lan. Não a tinha visto lá naquele dia, mas é claro que chamariam testemunhas. Ela gritava nervosamente, dizia que aquilo era um monstro. Talvez ela tivesse tentado me ajudar antes, estava tentandl me ajudar agora, tentando compensar o que tinha feito, mas ainda era um pouco pesaroso, perdoar sempre era difícil, por mais que você quisesse. Podia até gostar dela, mas ainda seria difícil.
No negrume, Lan foi substituída por mim e Trent. A imagem começou a mudar logo depois. A academia, era um dia mais recheado de alunos, bem a nossa frente estava Lan, em uma roda de garotas fofocando.
- Eu soube que a garota incendiária foi aceita imediatamente.
Outra se inclinou mais para o meio.
- Parece que não foi aceita pela Corvilus e entrou na Calipers.
- Mesmo com aquele fogo estranho?
- Você viu?
- Sim eu estava lá!  Existe mesmo alguém com o poder do fogo.
Me virei lara Lan.
- O que é isso?
- Todos os calouros sabem do seu poder. Inclusive...
Ela exibiu um pequeno sorriso. Mais lembranças surgiam, minhas, dela e misturadas, todas envolviam a nós duas.
- O que?
- Você está na boca do pessoal de novo.
Ela deu mais um risinho.
- O-
Mais uma vez fui interrompida. Tudo sumiu e eu estava no meio de uma completa escuridão e então uma dor me invadiu, uma dor aguda em meu braço esquerdo.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosWhere stories live. Discover now