NOVEMBRO

36 - O Show

Esquecemos de falar para Rose que Fernando não estava me dando aulas de graça e sim fazendo uma troca por aulas de futebol, mas não interrompi os elogios dela, porque apesar de as aulas de violão dele não serem gratuitas, Fernando encontrou Clarice e Antenor sem me cobrar nem um "obrigado".

Os elogios morreram logo depois de entrarmos em um engarrafamento.

– Acha que vai demorar muito? – perguntei já assustada com a fila de carros.

– Não sei... Talvez... – respondeu nossa motorista tamborilando os dedos no volante.

Substitua esse "talvez" por um "é claro", porque depois de um tempo ficou óbvio que não havia expectativas de sairmos do engarrafamento tão cedo.

– Vamos cantar alguma coisa para passar o tempo, então – sugeriu Gabriel tirando o cinto de segurança, ficando de joelhos no banco da frente e se virando para nos encarar.

– Temos de poupar nossas vozes – respondeu Fernando.

– Mas só você é quem vai cantar.

– Então vamos poupar nossos ouvidos.

Gabriel cerrou os olhos para Fernando.

– Just because I'm losing... – ele começou a cantar baixinho.

– Ah, não – gemeu Fernando. – Coldplay não!

– DOESN'T MEAN I'M LOOOST! – Gabriel cantou em plenos pulmões se virando para voltar a sentar em seu lugar.

– DOESN'T MEAN I'LL STOOOP! – Pedro acompanhou a cantoria do irmão.

Fernando fingiu um choro, puxando seu boné pela aba até que ele cobrisse todo o seu rosto.

Chegamos à casa de Rose e logo fomos recebidos pelos três gatos dela.

Por causa do engarrafamento, só tive tempo para ligar para o meu pai rapidamente avisando que eu estava bem, para comer alguma coisa, e para tomar banho e nos trocarmos para depois irmos à Batalha de Bandas. Tudo isso em menos de 45 minutos.

Fernando havia nos dito para nos vestirmos mais rockers. O máximo que consegui me aproximar daquilo foi com um All Star vermelho e uma camiseta preta. Com os Fernandes foi mais fácil, eles já se vestiam mais ou menos daquele jeito, tinham várias camisetas de bandas de rock. Gabriel foi com uma camiseta do Coldplay e fez questão que Fernando a visse.

Rose nos levou de carro até a Batalha de Bandas, com nossos instrumentos ainda no porta-malas. Chegamos lá pouco antes de estarmos definitivamente atrasados.

O local do evento se chamava Memphis e era um desses barzinhos rockers, e era um pouco menor do que o local da última batalha de bandas que eu fui. Ali tinha muitos letreiros com luzes em neon para indicar diferentes locais de dentro do barzinho (entrada, saída, banheiros...). Seguimos o pequeno letreiro não neon que dizia "recepção para as bandas". Confirmamos nossos dados, pegamos nossos crachás, deixamos que olhassem nossos instrumentos, que nos revistassem e depois que nos levassem até o nosso "camarim". Nos despedimos de Rose antes de partirmos rumo ao local indicado junto com um rapaz da staff do evento. Ela ficaria junto ao restante do público para acompanhar os shows.