30. Ataque de Fúria

Start from the beginning
                                    

Meus dedos tremeram ao digitar a resposta:

"Eu estou bem. Kai não me procurou mais. Acho que ele finalmente enjoou de mim."

Damon não pareceu muito satisfeito com aquela resposta. Em parte ele ficou aliviado, por outro, ficou irritado. Xingando Kai e dizendo que ele não podia me usar daquele jeito.
O acalmei, mudando de assunto.

"Como estão as coisa por, aí?"

Damon estava estranhamente distante durante todos esses dias. Sempre evitando o assunto, como sempre. Assuntos complicados o deixavam assim, principalmente quando bancava o babaca da cidade.

Damon: "Nós estamos bem."

Não gostei de sua curta resposta.

"Desenbucha, Salvatore."

Damon: "Você por acaso tá fazendo aquela cara séria, como se quisesse me causar um aneurisma?"

"Como adivinhou?"

Damon: " Porque eu te conheço, Bruxa Má do Oeste."

Esperei mais alguns instantes, sabendo que ele ia acabar cedendo à qualquer momento.

Damon: "Bom, digamos que transformamos a cidade em uma área isolada de possíveis pescoços para hereges. E que temos uma louca na nossa cola."

A situação parecia realmente ruim.

Damon: E pode ser que eu tenha... assim... acidentalmente arrancado o coração do filho preferido da Lily, Malcon, e começado uma guerra com os vampirinhos bruxos, dela. Mas, claro que isso não se compara à Ray-Ray."

Franzi o cenho.

"Ray-Ray?"

Damon: "Apenas um nome carinhoso para nossa Caçadora preferida. Ela... Ela marcou o Stefan com uma espada que contém uma pedra mágica que prende a alma dos vampiros. Estamos fugindo desde, então."

Eu podia sentir a dor em suas palavras. Damon pode ter sido nosso pior pesadelo no início. Mas apesar de todos os defeitos irritantes, irreversíveis e insuportáveis, ele amava Stefan e fazia tudo para protegê-lo.

"Eu sinto muito, Damon. Queria poder estar aí para ajudar."

Damon: "Também queria, mas Kai resolveu levá-la para dar uma volta no Oregon. E por isso vou arrancar cada parte do corpo dele bem devagar. À começar pela mais importante."

"Estarei esperando, ansiosamente."

Sorri.
Voltei para as pastas de mensagens e como sempre haviam muitas de Renly. Ele estava preocupado comigo.
Devia ser horrível para ele, estar tão perto e não poder me ajudar como queria. Mas, não podia envolvê-lo mais nessa situação...
A porta do closet foi subitamente aberta e não tive tempo de esconder o celular.
Meu coração explodindo em minhas costelas.
Sol entrou, segurando uma bandeja com o almoço que ela preparou em tempo recorde. Ela usava outro vestido, sem resquícios de sangue e seus cabelos estavam presos em um coque ajeitado.
Seus olhos castanhos recaíram sobre o celular.
Coloquei o indicador contra os lábios, indicando que ela não deveria dizer nada. Rapidamente, guardei o celular e voltei a colocar a gaveta de sapatos no lugar.
Sol parecia preocupada com o que estava acontecendo.
- Señorita...- começou.
- Por favor, Sol...- implorei- Não conta pra ele. Eu preciso dar um jeito de escapar daqui.
Ela ainda parecia relutante, mas acabou assentindo, me dando um sorriso carinhoso.
- Obrigada!- levantei e corri para abraçá-la, quase derrubando - a com bandeja e tudo.
Ela riu. Era um som doce e gostoso.
- Necesita de alimentó- e me puxou de leve. O contato de sua mão contra meu pulso dolorido me fez soltar um ganido de dor.
Tentei esconder meu punho machucado, mas Sol viu os nós arroxeados dos meus dedos e a pele levemente inchada.
Havia um questionamento silêncioso em sua expressão.
- Eu dei um soco nele- murmurei, orgulhosa.
Sol sacudiu a cabeça, murmurando coisas em espanhol. Deixou a bandeja em cima da cama e saiu do quarto.
Sentei na beirada dela, me perguntando o que eu havia feito de errado. Ela parecia brava.
Quando voltou equilibrava um monte de coisas nos braços.
A vi sentar- se ao meu lado, ainda murmurando coisas e dispersou algumas ervas e outros ingredientes esquisitos sobre a bandeja.
Observei enquanto ela moía algumas delas e misturou tudo numa pasta verde e estranha. Soledad pegou minha mão e a lambuzou com aquela gosma verde, em seguida enroscou tudo com uma gaze limpa.
Quase que imediatamente a dor latejante diminuiu.
- Você é uma bruxa, também?- eu ri, flexionando os dedos levemente, quase sem sentir dor.
- No. Yo tive filhos llevados... levados- emendou, com um olhar sério- Mi hijo, Enrico, teria brigado com usted por não saber bater em alguém.
Aquilo me fez rir de novo.
- Quantos filhos você tem, Sol?- questionei, ficando curiosa. Eu não sabia quase nada dela, apenas que tinha um restaurante onde trabalhava.
Mostrou a mão aberta diante de mim. Cinco.
- Enrico, Manuel, Eduardo, Javier y Alejandro- enumerou com os dedos, sorrindo ao lembrar.
- Qual deles é...?- não terminei a frase, mas ela pareceu entender. Ficando subitamente pesarosa.
- Alejandro- disse, tensa e séria. A saudade era evidente em seus olhos.
Franzi o cenho.
- O que aconteceu com ele?
Ela não respondeu, mas seu olhar triste disse tudo.
- Eu sinto muito por isso- sussurrei, apertando minhas mãos nas suas. Ela retribuiu.
- Hace mucho tiempo- murmurou em sua língua- Faz muito tempo.
Eu sabia como era perder alguém tão próximo. Todas as pessoas importantes à minha volta estavam mortas.
- É por isso que gosta tanto de Kai- não foi uma pergunta- Ele a faz lembrar de seu filho. Alejandro.
Ela assentiu.
- El era un bom menino- explicou- Pero conheceu personas... pessoas erradas.
Afirmei com a cabeça.
- Mas você sabe que Kai não é um bom menino, como o seu filho, não é?- ela assentiu tristemente- Ele me machucou, Sol. Muito. Eu não consigo sentir o mesmo afeto que você nutre por ele.
Ela acariciou meu rosto. Parecendo compreender.
Soledad era realista o suficiente para não alimentar nenhum pensamento bom em relação à Kai. Mas ela o amava, como à seu filho. Era difícil separar o certo do errado.
- Coma- disse, voltando ao seu modus operandi.
Revirei os olhos e ataquei a bandeja de comida.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now