36 - Em paz

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— Susana... — Chamou-me a mãe de Juliana.

— Sim?

— Obrigada por ser tão amável por todo esse tempo...

Pouco mais de cinco meses havia passado desde a morte de Juliana, e infelizmente, fui incapaz de contar a verdade à senhora Sanches, não conseguia sequer imaginar o que ela pensaria se soubesse que sua filha havia sido brutalmente assassinada numa tentativa de me salvar. Um longo e doloroso processo se estendeu durante esse tempo, já que ela acreditava que a filha havia fugido com alguém. Não sei se foi a melhor escolha que tomei, mas como eu poderia explicar a ela que a filha, ao morrer, tornou-se pó? Então, decidi que, pelo menos dessa maneira, ela ainda poderia acreditar que Juliana estava bem -mesmo que em algum lugar bem longe dali.

— Visitarei a senhora sempre que puder. — Afirmei, dando-lhe um beijo na bochecha rechonchuda.

Luca e eu nos despedimos dela e saímos com certo alívio, já que ela finalmente havia desistido de procurar pela filha. Estávamos caminhando de mãos dadas como qualquer outro casal, mas é claro que não éramos comuns. Comecei a rir.

— O que foi? — Perguntou-me ele.

— Nada, só acho que seria engraçado se essas pessoas soubessem o que realmente somos... Imagina: um anjo caído e uma fênix andando no meio deles.

— Seria um tanto arriscado, poderiam querer nos caçar.

— Seria divertido. — Comentei, ainda sorrindo.

— É bom que finalmente possamos descansar.

Luca estava se referindo a Devon, claro. Ele nunca mais havia aparecido em meus sonhos, o que me deixou muito aliviada, apesar de não termos consegui salvar Jacó, como eu gostaria, pois seu corpo não foi forte o bastante quando se livrou da possessão de Devon, sua morte me abalou muito durante um tempo. Mas depois de tantos meses, eu me sentia um pouco mais tranquila, é claro que Devon devia estar maquinando algo enquanto estava preso em seu mundo, mas esperávamos que ele esperasse algum tempo.

— É... podemos descansar, Devon resolveu nos deixar em paz por um tempo.

Observei Luca enrijecer seu maxilar.

— Não me referi somente a ele. — Respirou fundo e continuou andando, deixando-me sem resposta por alguns segundos. — Hector, ele desapareceu.

Era verdade, desde que Luca havia me salvado de Jacó, e Angel -um anjo da natureza- salvara Enrique, nunca mais tinha visto Hector. Não podia negar, sentia um pouco de falta da sua companhia. Fiquei pensando por um instante se nunca mais o veria, e pensei que se não o visse, não o esqueceria, afinal, foi graças a ele que eu fui salva, já que Angel era a amiga dele, capaz de manipular elementos da natureza, o que foi essencial para que eles me encontrassem.

— Sim... — Respondi, somente. — Enrique está cada dia mais interessado em Angel, parece que eles já se conheciam de uma lanchonete, algo assim... — Comentei, para evitar falar sobre Hector. — Ela parece ser divertida, inteligente... além de ser muito bonita, meu irmão não poderia desejar algo melhor.

Luca assentiu. Depois de algum tempo, finalmente chegamos à minha casa. Paramos no portão. Ele me olhou profundamente e esboçou um pequeno sorriso. Então, abracei-o por alguns segundos, aproveitando que a rua estava completamente vazia, ciente de que ele não era fã de demonstrações de carinho em público.

— Mais tarde venho buscá-la.

Ele beijou minha testa, então se virou para ir embora.

— O que vamos fazer mais tarde? — Indaguei, com os braços cruzados.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora