Encontro pelos olhos dele

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Narrado por Luca


O dia passou muito tranquilamente, todas as salas nas quais dei aula foram agradáveis e no mínimo silenciosas, sem discussões ou coisas do tipo. Eu caminhava até a sala catorze para minha última aula do dia, quando ouvi uma certa agitação vindo desta. Andei um pouco mais rápido até a sala e deparei-me com um aglomerado de alunos num único canto da sala. Mas quando entrei, eles foram cessando o tumulto aos poucos e afastando-se do que quer que fosse o motivo para tal agitamento. Então eu vi a garota dos cachos avermelhados, ela estava batendo em um aluno, que estava caído no chão. Custei a acreditar no que via. Aquela garota que me pareceu tão delicada naquele mesmo dia, estava aos socos com um rapaz!

— Peça... Desculpas. — Ela ordenou a ele.

Mas essa voz...

— Não! — Gritou o garoto, enfurecido.

— Solte-o. — Exigi.

Mas a garota nem sequer me olhou, o que me deixou com raiva. Então, ela pediu, ou melhor, ordenou novamente ao moleque que pedisse desculpas, ele hesitou por algum tempo, mas pediu, levantando-se antes dela. Mas no instante em que ela se levantou e olhou para mim, meu mundo despencou. Eram os mesmos olhos... tinham o tom castanho esverdeado mais lindo que eu havia visto em toda a minha vida, era o par de olhos mais enigmático que eu tive o prazer de poder fitar. Eram os mesmos lábios, avermelhados e cheios... lábios que naquele momento, jurei ser capaz de morrer só para poder beijá-los. Tudo naquela garota me lembrava ela, até mesmo o nariz, um pouco longo, cuja ponta era fina e arrebitada, o que sempre achei que dava a Susana um certo ar de uma arrogância sexy... O cabelo era exatamente igual, longo e cacheado, porém, avermelhado, como quando o espírito de Fae se revelou.

Era ela, tinha de ser!

Não, ela está morta... Mas é tão parecida!

Eu sabia que a estava encarando como um louco, com os olhos cheios de desejo e alegria ao vê-la, mas não me importei.

— O que aconteceu aqui? — Indaguei, sem muito interesse, pois tudo o que eu queria era passar o resto da aula, ou melhor, do dia, olhando-a.

— Ele a assediou! — Esbravejou uma outra aluna. — O cara é um babaca!

Não tirei os olhos da moça à minha frente a princípio, eu não conseguia, não quando seu olhar me lembrava tanto o de Susana, mas ao mesmo tempo se diferenciava, uma vez que essa garota tinha olhos mais ferinos. Respirei fundo e voltei-me para o rapaz que havia apanhado, voltando ao mundo real, e senti raiva, como se ela fosse mesmo minha Susana. Eu queria acabar com aquele moleque, fazê-lo lamber o chão por onde ela passou, mas não podia fazer isso.

Decidi não puni-los com alguma advertência, afinal, ele fora um cretino, mas ela já o tinha feito pagar. Depois de dizer que nada faria a respeito do ocorrido, ela me encarou, havia um contraste sublime em seu rosto, pois seus olhos demonstravam que ainda estava com raiva do garoto, mas seu sorriso terno conseguiu desmantelar minha alma. Desviei o olhar de forma brusca, negando a tormenta de sentimentos que me consumiram naquele momento. Os alunos se sentaram em seus devidos lugares, o desgraçado do cara que a assediou até afastou um pouco sua carteira, o que achei ótimo. Apresentei-me de forma rápida e objetiva, já dizendo que aquela aula seria livre. Depois de me sentar, observei a menina que se parecia com Susana.

— O que aconteceu naquela hora? — Ouvi a amiga dela perguntar, afinal, anjos podem ouvir minimamente melhor que humanos. — Que loucura, cara! Ele praticamente te comeu com os olhos...

— Então mais alguém percebeu. Ótimo, significa que não estou ficando louca.

Peguei um livro rapidamente e abri em qualquer página, enquanto sua amiga fazia um comentário, e fingi estar lendo, pois por alguma razão eu sabia que ela me olharia, e não queria que me flagrasse prestando atenção em sua conversa.

— Mas ele é bonito. — Ouvi a garota admitir.

Foi quase impossível não sorrir nesse momento. Não me preocupei em ouvir mais nada da conversa das duas, aquela frase já me fizera ficar extasiado. Encarei-a e, alguns segundos depois, ela também olhou para mim, e não desviou o olhar, assim como eu, que fiz questão de observar cada detalhe de seu rosto. Todos os seus traços eram perturbadoramente parecidos com os de Susana. Ela se endireitou em sua carteira, e corou um pouco, mas não desistiu de me encarar. Era como um desafio.

E, sinceramente? Eu não fazia a mínima questão de perder.







Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora