21 - Bons sonhos

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Após nosso pequeno agarramento na cozinha, Luca me levou até a sala outra vez. Já passava das 17h quando meu celular começou a tocar. Fitei a tela luminosa do aparelho e respirei fundo. Afastei-me um pouco de todos e atendi.

— Oi, Pai.

— Susana, onde você está?!

Hesitei, mas decidi não mentir para ele.

— Com Luca e uns amigos.

Ele limpou a garganta.

— Onde você passou a noite?

— Pai, eu não vou mentir, eu...

— Não precisa dizer mais nada... — Sr. Albuquerque bufou, furioso. — Venha para casa... agora.

— Mas...

— Susana Albuquerque, não me faça ir buscá-la.

Desligou. Olhei para Luca.

— Tenho que ir embora... — Avisei-o.

— Vou levá-la para casa.

— Tudo bem.

Despedi-me de todos com um abraço, mas demorei-me um pouco mais nos braços de Enrique. Na verdade, eu não queria me desgrudar dele, mas era preciso, ou Pedro Albuquerque daria um jeito de encontrar a casa de Luca e me tirar de lá aos gritos. Luca me levou para casa e quando toquei a campainha, meu pai apenas abriu a porta e encarou nossa mãos unidas.

— Entre.

— Pai...

— Nem uma palavra. Entre, agora!

— Susana, por favor, entre. — Luca me encarou e apontou minha casa com a cabeça.

Olhei feio para ele.

— E você, rapaz, quero que fique a um quilômetro de distância da minha filha. Você me entendeu?

— Sinto muito, Sr. Albuquerque, mas isso não será possível. — Luca afirmou, com a voz firme o bastante para meu pai nem sequer tentar se opor.

O anjo deu meia-volta e foi embora. Meu pai apenas encarou sua silhueta enquanto ele caminhava rumo à sua casa novamente, em seguida, fechou a porta e me encarou, irritado.

— Conversarei com você amanhã, agora vou arrumar minha mochila e sair.

— Sair?

— Carine está doente, tenho que cuidar dela, então, se puder faltar às aulas amanhã, eu agradeceria, senão terei que pedir à babá que cuide de Heloíse.

— Ah, coitada... está doente e o senhor vai lá ajudá-la. Que lindo.

— Susana, não estou com paciência no momento. — Seu olhar se dirigiu a mim com ferocidade. — E se Heloíse me disser que aquele rapaz veio aqui, juro que nos mudamos no próximo fim de semana. Não estou brincando, filha.

— Eu já tenho dezoito anos, não sou uma criança, pai!

Ele me fitou com descrença.

— Você mal o conhece e já... — Ergueu as mãos, impaciente. — Não quero pensar nisso agora.

— Se eu fosse um filho homem não era isso que eu estaria ouvindo agora, não é? — Acusei-o. — Seria algo como "Parabéns, filhão!". — Debochei. — Ou então, "Finalmente, não é?".

— Susana, quer parar? Você está errada e ponto final.

Assenti e respirei fundo, tentando me conter, afinal ele não sabia que eu conhecia Luca há muito mais tempo, e não entenderia se eu lhe contasse.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora