29 - O louco

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Desperto.

Abro os olhos sem dificuldade, uma vez que eu me encontrava num lugar completamente tomado pela escuridão. Estava numa cama -supus que fosse uma- macia e cheirosa, sentei-me e tentei compreender onde estava. Foi então que me lembrei. Jacó. Ele havia me levado para lá. Mas por quê? Questionei-me se estaria no Inferno, meu... pai o enviara para me levar ao meu reino? Passei as mãos por meu cabelo, minha cabeça doía, como se alguém a martelasse. Coloquei os pés para fora da cama e quase caio ao tentar descer, pois esta era alta. Começo a caminhar com cautela, temendo esbarrar em alguma coisa, o problema foi que não me importei se poderia pisar em algo, e assim ocorreu, acabei tropeçando no que me pareceu um tapete e caí sobre algum móvel, fazendo um grande estardalhaço ao derrubar os objetos que havia sobre ele. Nessa hora, uma porta se abriu, gerando grande luminosidade no quarto. Estreitei os olhos e olhei para fora, não havia ninguém no corredor, então, vi uma janela ampla de madeira. Fui até ela e a abri, mas arrependo-me no mesmo instante, pois eu estava num cômodo no terceiro andar de uma casa, o que fez minha barriga gelar quando vi a altura na qual eu me encontrava.

— Nem pense nisso. — Era Jacó.

Respirei fundo e virei-me. Ele usava um terno inteiramente preto, e eu não podia negar, estava incrivelmente bonito. Mas seus olhos me enojavam, havia um humor maligno naquelas íris, algo que fez meu corpo todo se arrepiar.

— Jacó.

— Bom dia, espero que tenha dormido bem.

— O que você está fazendo?

— Seu café da manhã.

— Sabe a quê me referi!

Ele caminhou até mim e tocou minha bochecha com o polegar, mas não foi um toque gentil, depois passou a unha, arranhando meu rosto, o que ardeu bastante, provavelmente ficara implantada uma linha fina e vermelha ali. Mas não me movi, não tive coragem.

— Desculpe, você está um pouco pálida.

— Por que está fazendo isso? — Eu praticamente gritei.

Senti lágrimas em meus olhos, respirei fundo para contê-las, sem querer dar a ele o gosto de me vir chorar, mas foi inútil, as malditas lágrimas traidoras já escorriam por meu rosto.

— Alguém já lhe disse que fica linda quando chora? — Ele sorriu. — Acho que devo fazê-la chorar mais vezes.

— O que aconteceu com você?

Ele pegou uma mecha do meu cabelo e colocou atrás da minha orelha.

— Sei que está muito interessada, mas... eu gosto de bolo de chocolate. Você gosta? Preparei um especialmente para você.

Ele está louco. É isso. Louco.

— Onde estou?

— Em nossa casa, minha querida.

Como assim "nossa casa"?

— Jacó... — Resolvi entrar em seu jogo. — Estou feliz em vê-lo de novo, mas...

Antes que eu pudesse terminar, ele acertou um tapa em meu rosto, eu nem sequer revidei, aquilo havia me pegado de surpresa.

— Não minta para mim. Não. Minta. — Ordenou.

Nessa hora, o medo que eu estava sentindo se intensificou. Comecei a entrar internamente em desespero, nem chorar mais eu consegui, quanto mais gritar. Fiquei completamente imóvel, apenas fitando aqueles olhos que um dia eu havia julgado serem infantis e honestos.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora