19 - Recordação

5.3K 677 166
                                    

Permanecemos algum tempo deitados juntos, e entre beijos e conversas, vez ou outra ele comentava sobre mim em outra vida, sobre como eu era corajosa e o quanto ele se apaixonou por mim quando percebeu que eu não era como outras garotas.

"Chata, sim, mas de um jeito apaixonante." Disse ele.

De tanto ouvi-lo falar, fiquei um pouco cabisbaixa. Afinal, não era justo ele se lembrar de tudo, guardar tudo ali, em sua mente, e eu me recordar de pequenos detalhes. Eu não queria pequenos detalhes. Eu queria tudo. Queria nossa vida, minha vida. Minha história, e infelizmente não podia tê-la.

— Isso não é justo... — Comentei.

— O quê?

— Eu não me lembrar.

— Su...

— Luca, eu queria tanto entender tudo isso. Você não faz ideia do quanto é difícil para mim...

— Acha que é fácil para mim?

Hesitei.

— Não, mas você se lembra.

— Sim. — Ele se sentou. — E amo cada detalhe do que há em minha mente. Mas amo cada detalhe do que está aqui, agora. O passado está lá, onde deve ficar, e você é o meu presente, e é isso o que importa.

— Tudo bem.

Ficamos algum tempo em silêncio. Eu realmente não soube o que dizer depois daquele argumento.

— Su...

— O quê? — Sussurrei.

— Tente dormir... quero mostrar uma coisa a você.

— Em sonho? — Sorri.

— Sim. — Beijou minha testa.

Em seguida, deitou-se atrás de mim e envolveu minha cintura com o braço, permanecemos assim por longos minutos. Em silêncio, tudo o que eu ouvia era o som de nossa respiração suave e de nossos corações batendo mansos. Luca me acariciou durante muito tempo, até que eu finalmente caí no sono.

Sal.

Som de água.

Abri os olhos e sentei-me. Estávamos numa praia, seria esta comum se não fosse pelas gigantes estrelas no céu azul marinho. Levantei-me e peguei a mão de Luca. Ele sorria para mim. Senti o vento fazer meus cachos dançarem contra meu rosto e fechei os olhos. Era mágico. Mas então, algumas das estrelas começaram a cair e se partiram em milhares de pedaços, como se fossem pequenos diamantes. E, subitamente, era dia. O céu continha várias cores mescladas, como azul, rosa, laranja... E as nuvens eram como grandes algodões. As ondas no mar formavam-se tão altas e bonitas que, só por um momento, esqueci-me de Luca e fixei meu olhar nelas.

— É muito lindo...

— E é só seu. — Afirmou-me.

— Você é melhor do que pensa, Luca.

Ele riu.

— Como eu já lhe disse uma vez... minha vida não é um mar só de rosas, está longe disso, mas você expulsou grande parte dos meus espinhos, Susana.

Nesse instante, meus joelhos caíram com um baque sobre a areia macia, não havia o que mais eu pudesse fazer. Luca havia tomado conta da minha mente de uma forma assustadora. Ele se aproximou, tocando-me meu ombro.

— Luca... é você...

— O quê?

Era ele.

Era eu.

Era nós.

Foi então que eu me lembrei. Lembrei-me do nosso amor, lembrei-me de tudo, foi como uma enxurrada de lembranças, que estavam se encaixando em minha mente. Eu era Susana, a antiga Susana novamente, e as lágrimas escorriam pelo meu rosto sem que eu pudesse controlá-las.

— Luca...

— Su...? -Ele tocou meu rosto.

Então, levantei-me e o olhei com fulgor.

— Eu amo você.

Um brilho de reconhecimento passou pelos olhos negros do meu anjo caído e ele me pegou no colo, beijando-me de forma intensa. Ele chorava, mas de alegria, assim como eu. Aquele foi nosso reencontro, o reencontro da nossa alma, o reencontro que ele havia acreditado que nunca aconteceria. Seus lábios estavam trêmulos, mas buscavam pelos meus como se fossem um tesouro.

De repente, estávamos em seu quarto novamente. Ele, ainda comigo em seu colo, desceu a escada. Eu sabia o que ele planejava, e eu queria. Quando já estávamos dentro do boxe escuro, ele começou a me despir delicadamente, ligou o chuveiro e entramos debaixo da água. Deus, como eu queria aquilo! Fechei os olhos para sentir os beijos quentes dele em meu pescoço enquanto este vinha a me pegar no colo outra vez, então, cruzei minhas pernas ao redor de sua cintura e agarrei seu cabelo, trazendo-o para mais perto.

Havia desejo, sim. Muito. Mas acima disso, amor.

Após o banho, Luca me levou para o quarto e continuou a me beijar, a todo o momento segurando meu rosto com delicadeza, como se eu fosse a coisa mais preciosa e delicada do mundo para ele. Deitamos em sua cama e ele deixou apenas a luz de um dos abajures acesa. Eu via o desejo em seus olhos. Então, como que para me provocar, beijou-me por inteira de forma suave e terna. Sua mão a todo momento desenhando as curvas do meu corpo, como se estivesse checando que eu era mesmo real, como se quisesse ter certeza de aquilo não era um sonho. Ele fechou os olhos e sorriu.

— Você é tudo para mim... — Sussurrou em meu ouvido.

— Sou toda sua, Luca...

— Para sempre?

Sustentei seu olhar.

— Além.

Não sei explicar o quanto me senti completa ao me entregar a Luca novamente, mas não me arrependi de tê-lo feito. Pelo menos naquele momento, todos os problemas dos quais eu havia me recordado pareciam não ser nada enquanto eu estava ali, com ele. Foi, sim, inesquecível. Não é exagero de uma garota apaixonada, foi realmente o melhor fim de tarde da minha vida. Luca estava completamente entregue a mim e eu a ele, não havia nada contra nós. E tudo o que eu ouvia era o seu coração batendo acelerado e o roçar terno de sua pele na minha.

Quando acabou, ficamos um longo tempo deitados de frente um para o outro, apenas nos observando. Seus olhos estavam mais brilhantes do que o de costume, e ele fez questão de deixar meu corpo muito próximo ao seu. Vez ou outra, beijava-me na testa ou nos lábios. Então, deitei-me mais perto dele, apoiando minha cabeça em seu peito, e ele permaneceu enrolando meu cabelo com os dedos. Ficamos assim por mais de uma hora, o tempo era como um presente para nós. Quanto mais tempo eu pudesse permanecer ali, aninhada junto a ele, melhor. Afinal, era o único lugar onde eu realmente me sentia protegida.

— Su...

— Sim?

Levantei-me um pouco, apoiando meu queixo na palma da mão e o encarei, seus olhos me encaram intensamente.

— Nunca mais vá embora, eu não sei se suportaria tudo outra vez.

— Shhh... — Aproximei-me mais dele e apoiei minha testa na sua. — Não diga isso, seu idiota... por favor...

Ele riu.

— O que você quer que eu diga? — Questionou-me, arqueando uma das sobrancelhas, e sorriu maliciosamente.

— Que me quer como eu o quero.

Luca segurou minha cintura e deitou-me novamente na cama, colocando-se sobre mim, então roçou seu nariz no meu.

— E como você me quer? — Perguntou ele enquanto alisava minha coxa.

— Assim...

Puxei-o para mais um, dois, três... quantos beijos ele quisesse. Eu realmente estava disposta a tornar aquela noite, a nossa noite, infinita.


Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora