34 - Um simples toque

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Caminhei por minutos -ou foram horas? Eu não sabia dizer. Mas foi tempo suficiente para me fazer tropeçar e cair várias vezes, tantas que nem me dei ao trabalho de contar. Eu só queria ir para casa, mas a imagem de Juliana se desfalecendo em meus braços não saía da minha mente, seus olhos castanhos angustiados tomaram conta dos meus pensamentos e eu chorava, silenciosa e dolorosamente enquanto tentava encontrar a saída daquele bosque frio e calado. Havia muitas árvores num determinado local, então parei de andar e agachei-me no chão, recostando-me numa delas, cobri meu rosto com as mãos sujas de terra e finalmente me permiti chorar de verdade. Acredito que eu nunca havia chorado tanto em toda a minha vida, nem mesmo quando minha mãe havia falecido. Eu estava triste por tudo: por Juliana, por Luca, que não conseguia manter-se em paz, pela criança que Devon havia assassinado cruelmente anos antes, e por Jacó. Era tudo tão complicado, que eu me perguntava onde estava Deus. Será que ele não estava vendo? Será que ele não se importava pelo fato de eu ser filha do Diabo? Eu não tinha culpa. Eu não havia escolhido isso.

— Como está frio... — Murmurei enquanto abraçava meus joelhos.

O cansaço já tomara posse do meu corpo e eu me deixei levar por ele. Uma onda de sono me invadiu por completa e minhas pálpebras ficaram extremamente pesadas...

Acordei com o perfume de lírios. E eram muitos, eu sabia. Abri os olhos e logo alguém me puxou pelas mãos, erguendo-me, e em seguida, abrigou-me em seus braços como se fosse meu protetor. O perfume de hortelã do sabonete de Luca invadiu minhas narinas, misturando-se com a intensa e inebriante fragrância das flores. Estávamos no meu campo. Juntos.

No entanto, era apenas um sonho.

— Luca... — Sussurrei.

Suas mãos alisavam meu rosto e seus olhos percorriam cada detalhe do meu corpo, como se buscassem algum ferimento. Era como se ele não acreditasse que eu estava ali. Então, beijou minha testa e apertou-me contra si outra vez.

— Desculpe-me... eu devia ter ficado com você todos os dias, mas eu fui um tolo, sei que você só não queria me ver sendo um monstro outra vez...

— Tudo bem...

— Não, Susana, não está tudo bem. Você está perdida, e eu não faço ideia de onde esteja.

Luca enfiou os dedos entre as madeixas arruivadas, deixando-as completamente bagunçadas.

— Ei... — Sussurrei, mas ele não pareceu me ouvir.

— Eu sempre faço as escolhas erradas, sempre acabo ferindo você...

— Não, Luca. Não! — Peguei suas mãos. — Olhe pra mim... — ele olhou — você nunca me machucou

— Achei que fosse perder você de novo... — Confessou-me com amargura, como se estivesse com ódio de si mesmo, então, lágrimas começaram a cair por seu rosto. — Droga... — Resmungou, limpando as gotas salgadas que insistiam em umedecer seu rosto bronzeado, limpou-as como se elas o tornassem um idiota.

— Luca... — Segurei sua mão outra vez, para que ele parasse de tentar conter sua tristeza. — Você não precisa ser forte o tempo todo.

Ele assentiu e abaixou a cabeça, ergueu minha mão, e quando estava prestes a beijá-la, seus olhos paralisaram na cicatriz em formato de "L". Nesse momento, eu percebi a amargura voltando aos seus olhos.

— O que foi isso? — Questionou-me enquanto acariciava a cicatriz com o polegar, sua voz estava contida, mas eu pude notar o tom ameaçador por trás daquela pergunta, eu sabia que Luca queria estraçalhar a pessoa que havia me machucado daquela maneira.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora