16 - Sublime

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— Eu não consigo acreditar nisso tudo... Sinto muito.

Ele me encarou firme e decididamente. Depois, sorriu.

— É uma pena, porque... se você se lembrasse... — aproximou sua boca do meu ouvido — não estaríamos aqui, conversando.

Fiquei sem resposta, é claro que entendi de imediato o que Luca quis dizer, mas era estranho pensar que eu já o havia beijado, quando eu realmente queria fazer isso naquele exato momento. Para mim, seria como beijar pela primeira vez quando acontecesse, mas eu podia sentir que Luca estava esperando o momento certo, talvez apenas queria que eu me lembrasse primeiro.

O problema era que eu não queria esperar.

— Como... como você ficou quando ela, quando eu, bem...

Os olhos de Luca ficaram pesados -tristes- de repente. E eu me questionei se realmente devia ter feito aquela pergunta.

— Não posso dizer que pensei que não viveria sem você, eu te amava, mas seria capaz de viver. O problema foi que eu não queria ter de fazer isso... mas fiz, por vinte e um anos. Nos primeiros anos, todos os dias eu tinha a expectativa de encontrá-la em alguma esquina, algum café, ou floricultura... — Sorriu. — Sabe, esperava que de alguma forma você tivesse voltado. Mas não. Foi aí que entrei em desespero, e mantive em mim um sentimento de culpa pela sua morte... Pelo menos, até agora.

— Eu queria poder lembrar...

— Susana, eu realmente queria que você se lembrasse de mim... Mas não suportaria vê-la se lembrar do que teve de fazer, então... não importa se você irá conseguir recordar ou não. — Seu olhar era terno. — O que importa é que eu vou ficar ao seu lado até quando você não precisar de mim, e até quando não me quiser. Essa é uma promessa que eu jamais descumprirei.

Algumas lágrimas ficaram dançando em meus olhos. Eu me sentia culpada também. Culpada por não me lembrar dele e do que havíamos vivido. Culpada por ter dito a ele que havia desejado beijar Hector. E, acima de tudo, culpada por não beijá-lo ali, naquele minuto. Mas eu não podia, pelo menos não enquanto ainda estivesse confusa sobre tudo aquilo.

— Obrigada. — Foi o só o que consegui dizer.

— Sei que está confusa, e triste... mas eu e os outros a ajudaremos a entender o que você é. Desculpe por tentar esconder de você no início, eu só temia que se afastasse de mim. — Ele tocou minha bochecha com o polegar.

— Ah, lembrei-me de uma coisa... que combinado você e Hector fizeram?

Luca respirou fundo e encarou-me.

— Para protegê-la, mas avisei que não era para tocar um dedo sequer em você, ou eu quebraria aquela cara de...

— Espere um pouco... — Interrompi-o. — Hector também não é humano?

— Ele é um demônio, como eu.

Estou mais cercada por essas coisas do que eu imaginava.

Minha mente se encheu de perguntas. Será que Luca tinha asas? Por que ele havia caído? Ele se tornara do mal? Aliás, havia mesmo essa história de bem VS mal? Como seria Deus? Ele o conhecia?

— Já vi que há muito que preciso saber... — Comentei, cruzando os braços.

— Sim, mas não agora. Nem hoje, na verdade.

— Sei, sei... Ainda é cedo.

— Não, quero apenas que descanse. — Beijou minha testa. — E se prepare.

— Para quê? — Indaguei.

— Amanhã começaremos seu treinamento.

— Meu o quê?

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora