27 - Um novo inimigo

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— Isso é um problema seu.

Levantei-me e saí do quarto, sem sequer olhá-lo para me certificar de que ficara ferido. Sim, eu queria demonstrar indiferença com relação a ele e aos seus sentimentos, mas a verdade é que aquela confissão -direta e sincera- havia, sim, deixado-me muito abalada. Hector estar apaixonado por mim complicava muito minha situação, ele faria de tudo para impedir meu casamento com Luca, e talvez, isso incluísse contar toda a verdade a ele. Caminhei até a cozinha, que era pequena e muito bem limpa -cheirava a limpador de maçã verde-, eu poderia permanecer naquele cômodo para sempre com o aroma da sopa de Enrique.

— Já está pronta...

— Hum...

— O que foi? Hector fez alguma coisa?

Minha cara estava tão ruim assim?

— Nasceu, isso que ele fez.

— Su... — Enrique se sentou na cadeira ao meu lado. — Eu sei que você e Luca se amam, mas se ele realmente não sabe controlar o mal que há em seu interior, não posso permitir que vocês fiquem juntos.

— Até você? Enrique, eu sei que Luca jamais me machucaria!

— Estou dizendo isso para o seu bem.

— Eu sei, mas fique tranquilo, eu sei o que estou fazendo. — Afirmei, levantando-me. — Não desistirei de Luca. Nunca.

Beijei meu irmão na testa, fui ao banheiro e peguei minhas roupas, nem me dei ao trabalho de ver como Hector estava, saber que viveria bastava para mim. Assim que Enrique entrou em seu quarto com um prato de sopa nas mãos, saí pela porta da frente e observei a rua vazia. Um vento frio veio contra mim, como se quisesse me fazer voltar para a casa do meu irmão. Mas eu não podia, precisava de um tempo sozinha, comecei a caminhar e logo me arrependi por não ter pedido a Enrique para me acompanhar. Meu suéter estava todo sujo de sangue e eu não podia vesti-lo, pois as pessoas pensariam que eu era uma louca que acabara de matar alguém.

— Ótimo, agora passe frio... — Resmunguei.

Após alguns minutos caminhando, senti uma sensação estranha, como se alguém estivesse me observando. Olhei para os lados e tudo o que vi foram casas e mais casas pouco iluminadas. Temi olhar para trás e descobrir que minha intuição estava certa, então, apenas comecei a andar mais rápido. A sensação de estar sendo vigiada não passou, pelo contrário, apenas aumentou a cada metro que eu conseguia andar sem paralisar de medo. Em minha mente, eu fazia uma oração pedindo para que meu perseguidor fosse Luca. Talvez ele estivesse se sentindo culpado e não sabia o que dizer, então apenas decidiu me acompanhar até minha casa para se certificar de que eu estava bem. Algum tempo depois, avistei o portão largo do meu lar, visão que me deu um profundo alívio. Tentei abri-lo sem fazer barulho, mas foi impossível. Do lado de fora, notei que a luz da sala estava acesa, quando abri a porta, Juliana soltou um grito.

— Calma... — Pedi, fazendo sinal para que ela ficasse quieta.

— Você me assustou, achei que voltaria mais tarde.

— É...

Ela estava deitada num dos sofás, enrolada numa coberta. Scarlett estava em seu colo, minha amiga assistia a alguma coisa na televisão, mas nem me importei em descobrir o que ela assistia àquela hora, apenas desejava deitar em minha cama e apagar por algum tempo.

— E aí, como foi? — Ela perguntou, depois, estreitou os olhos. — Su, o que aconteceu com seu cabelo?

— Longa história... não quero falar sobre isso agora.

— Tudo bem, depois conversamos.

— Vai terminar de assistir? — Apontei para a TV, fazendo-a assentir. — Então, eu vou dormir, boa noite. — Abracei-a. — Obrigada por tudo.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora