35 - O baile

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Despertei e ouvi uma risada abafada e assustadoramente sombria. Abri os olhos e o vi. Era Jacó. Levantei-me apressadamente e o encarei, seus olhos estavam cheios de perversidade, mas ele continuava rindo como um louco.

— Admiro sua coragem, mas realmente achou que poderia fugir de mim? — Balançou a cabeça negativamente. — Susana...

— Você não vai me levar outra vez.

— Sim, eu a levarei.

Virei-me para correr, mas ele agarrou minha cintura e jogou-me no chão com brutalidade, em seguida, pegou-me pelo pé direito e começou a me arrastar. Meu rosto ficou completamente sujo de terra e meus braços ardiam. Comecei a gritar, mas era inútil, pois ninguém me ouviria. Tentei unir todas as minhas forças, concentrando-as no meu pé, e felizmente, consegui me soltar. Jacó me puxou pelo braço assim que me levantei e deu-me um soco no estômago, o que me fez abaixar e respirar fundo enquanto o observava rir. Assim que me recompus, dei-lhe um chute na canela, ele grunhiu, e eu consegui levantar e correr por alguns metros, mas então, mais uma vez ele me alcançou, e jogou-me contra uma árvore, caí no chão novamente e falhei ao tentar levantar.

— Seja obediente e venha, não quero machucá-la mais.

— Você quer me matar...

Senti-me uma idiota por estar chorando outra vez. Mas eu não podia desistir, não agora, não depois do sacrifício de Juliana para me salvar. Levantei-me com dificuldade e o encarei. Jacó se aproximou e eu lhe dei um tapa no rosto, ele não se moveu, mas me fitou com fúria. Seus olhos ficaram vermelhos, como se sangue estivesse prestes a transbordar deles. Suas unhas cresceram, de repente, tornando-se garras. E das costas, um par de asas de morcego começou a surgir. Seus cabelos começaram a cair, deixando ali apenas um crânio branco e repleto de veias escuras. Fiquei paralisada, lembrando-me de Devon no Inferno, quando o matei. Eu estava morrendo de medo, mas me virei para correr. Eu tinha de conseguir.

— Você não pode fugir de mim. Pode ter matado aquele demônio que eu usei como isca, mas não sou como ele, Srta. Bontempo. — Sua voz mudou, não era mais abafada e irônica, agora, estava mais para a voz de um monstro, grave, um brado arrastado e amargo.

Percebi que era Devon, e não Jacó. Meu coração batia descompassado e eu estava extremamente ofegante. Corri o mais rápido que pude, até que não o avistei mais no céus acima das árvores. Pensei que ele devia estar prestes a cair na minha frente, afinal, eu não era tola de achar que tinha desistido. Acabei tropeçando, e torci meu tornozelo, a dor era insuportável, precisei de um longo tempo para me recompor minimamente, então, retornei à minha fuga, no entanto, caminhando agora como um zumbi, eu não era mais capaz de correr, e Devon estava novamente voando acima de mim. Subitamente, ele abaixou e se chocou contra o chão, com uma força que foi capaz de me jogar alguns metros para trás, fazendo-me bater contra uma árvore outra vez. O demônio começou a caminhar em minha direção, sorrindo, revelando dentes escuros e grandes.

Era o meu fim.

— Por que não me mata logo? — Exclamei tão baixo que duvidei que tivesse escutado.

— Você está deprimente...

Observei-me e concluí que aquele maldito estava certo. Meu cabelo parecia um ninho de pássaros, meus braços e pernas estavam arranhados e cheios de respingos de sangue, meu tornozelo um pouco inchado, além de eu estar completamente imunda de terra úmida. Meu corpo todo doía. Minha alma doía. Eu não estava conseguindo mais suportar. Minhas pálpebras ficaram pesadas, eu não consegui me mover. Ele se aproximou mais e suas asas desapareceram, seu rosto desfigurado começou a normalizar novamente e ele se abaixou ao meu lado. Aproximou-se mais de mim, e sussurrou ao meu ouvido:

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora