24 - A batalha

4.1K 590 159
                                    

Narrado por Hector


Luca me encarou e um sorriso apareceu em seu rosto. Estava claro que era exatamente isso o que ele pretendia: ser desafiado por mim. Mas eu não estava com medo, eu não podia ter medo. Os pensamentos de Susana eram tão fortes, que eu podia ouvir alguns deles. Pobrezinha, ela suplicava em sua mente para que Luca ou eu desistíssemos da luta. Mas é claro que nenhum de nós desistiria, éramos orgulhosos demais para isso.

— Bem, parece que alguém finalmente aceitou o desafio, meu caro. — Disse o idiota com o microfone.

Luca desceu do palco e caminhou calmamente até o centro da arena, ele parecia confiante. Mas toda essa confiança seria extinguida em pouco tempo, pois ele não tinha conhecimento sobre o meu poder. Foi impossível não sorrir ao pensar no que eu o faria ver. Permanecemos nos encarando por algum tempo, então ele estreitou os olhos para mim e confirmou minha suposição:

— Era você mesmo que eu estava esperando.

— Eu já imaginava.

— Demônios... quando eu disser três, comecem. — Informou o louro.

O aglomerado de anjos caídos e nefilins começou a gritar, estavam todos esperando uma bela luta. E era isso que eu pretendia dar eles. O problema era que os pensamentos de Susana estavam intensos demais, e confesso, isso estava me atrapalhando um pouco. Tentei bloqueá-los, mas foi inútil.

— Um... — Luca e eu nos afastamos um pouco. — Dois... — A multidão se silenciou. — Três.

A música Get free preencheu meus ouvidos. Todos esperavam um ataque mortal vindo de algum de nós, mas isso não aconteceu. O que se seguiu foi um Luca intacto e aflito. Qual o meu poder? Bem, nada mais do que o da ilusão. Sim, sou um demônio capaz de criar qualquer coisa na mente de qualquer outro ser, e eu não poderia deixar de usar esse dom magnífico com Luca. Ele merecia sofrer tanto quanto ele queria que eu sofresse. E o que ele viu? Susana, sua amada Susana caminhando em direção a arena e entrando no meio de nós, então ela disse a ele para parar, e depois, beijou-me com ternura, como se eu fosse o verdadeiro amor de sua vida. Luca me viu beijando-a possessivamente, segurando seu rosto e cintura, como se fosse minha.

Minha...

Eu disse sem sua mente.

A aflição em seus olhos era meu alimento, era o que me dava mais energia e sede por sangue. Eu estava pronto para derrotá-lo, mas ainda não era a hora, ele devia sofrer um pouco mais. Fiz com que a doce voz de Susana sussurrasse em sua mente as mais belas palavras que ele poderia ouvir:

É você que eu amo, Hector. Só você.

Notei que todos olhavam sem entender, mas não me importei. Susana se perguntava o motivo de estarmos imóveis... Senti pena do meu Leãozinho, mal sabia ela que eu a estava usando para enganar seu amor... Para Luca, ela estava ali no meio da arena, em meus braços, na frente de todos... O todo poderoso Avassalador estava agora desolado, seus olhos estavam com uma obscuridade amarga, não havia mais brilho, nem sinal de qualquer sentimento bom.

Rancor. Era isso o que transmitiam. Mas por que ele não lutava? Decidi ajudá-lo nessa tarefa. Então, ainda fazendo com que ele visse sua amada aos beijos comigo, dei-lhe um chute na mandíbula, ato que o fez cair de joelhos. Então, o demônio balançou a cabeça negativamente, tentando entender o que estava acontecendo. Mas ele não podia, pois não conseguia ver a verdade. Ouvi outro pensamento de Susana: "Por que ele não se mexe?". Ela chorava. Mas não me importei, continuei com minhas investidas contra Luca. Fiz a voz de Susana falar outra vez em sua mente:

Derrote-o, Hector, meu amor. Derrote-o para mim...

Golpe baixo? Talvez, mas foi o suficiente para fazê-lo cair de joelhos e baixar a guarda. Ele estava louco com a situação, pois não tinha controle algum, sua vida e sua mente estavam em minhas mãos. Enquanto ele pensava estar vendo Susana mordiscando meu lábio inferior, agarrei seu braço e o quebrei, fazendo-o urrar de dor. Eu sorri com a cena, sua dor me deixava mais forte, mas atrevo-me a dizer que a dor pelo seu braço nem se comparou a dor de ver Susana sendo minha.

"Luca, por favor. Por favor... levante...". Ouvi a súplica de Susana. Se eu ouvi, Luca provavelmente ouvira também. Então, comecei a socar meu adversário quando notei que ele se levantava. Deixei-o completamente acabado, um rastro de sangue enfeitava lindamente o chão de areia do local. Luca estava acabado. Finalmente. Seu rosto estava colado ao chão, e ele não se movia. Observei suas costas, seria muito fazer com que ele perdesse suas asas? Só de pensar nessa ideia, já me senti imensamente feliz. Comecei a caminhar até ele, com o intuito de quebrar suas costelas, e rasgar suas costas, exatamente no local onde suas asas nasciam. Porém, algo me fez parar. Em meio a tantos corações acelerados pelo medo que sentiam todos aqueles imbecis da plateia, em meio aos pensamentos sofridos de Susana, que lutava contra Luma para conseguir interferir a luta, eu ouvi. Era uma risada maléfica e desprovida de qualquer sentimento, havia apenas um humor sombrio no riso provocado por meu adversário, que se levantava do chão. Sangue escorria de sua boca e nariz, mas ele ria! Levantou-se e parou, estava manco, mas me encarou com humor nos olhos.

— Ilusão, Hector? — Ele começou a vir em minha direção, arrastando a perna e concertando os ossos quebrados no braço. — Boa tentativa.

— Como isso é possível? Como sabe que...

— Que é ilusão? Você não é bom o bastante para ela. Agora, deixe-me lhe contar um segredo... — Ele riu outra vez. — O que eu crio é real.

Então, seus olhos preencheram-se completamente pela cor preta, eram como dois grandes abismos, vazios e sem vida.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora