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Depois do que se pareceram cerca de meia hora, resolvi sair de meu quarto. Andei por toda a extensão do apartamento à procura de Kai, mas ele realmente não estava por perto.
E senti algo naquele lugar que não sentia à muito tempo. Tédio.
Então, resolvi achar coisas interessantes para fazer. Caminhei por toda a extensão de cada cômodo da casa, descobrindo mais quartos luxuosos de hóspedes vazios, uma academia enorme particular, uma sala de banho com uma sauna, e outras salas que simplesmente não tinham nada e apenas serviam para tomar espaço.
Em vez de ficar ofuscada por todo aquele luxo, tudo o que senti foi mais ódio de Kai. Aquela casa era enorme e podia facilmente abrigar várias pessoas que precisavam de um lugar para viver muito mais do que ele. Isso era realmente revoltante.
Continuei seguindo por vários pontos do lugar, até que simplesmente estaquei no que se parecia ser uma porta de vidro que dava uma vista espetacular para vários prédios, casas, e armazéns mais ao longe. Puxei a porta que deslizou facilmente para o lado. Fiquei surpresa de Kai não ter tomado o cuidado de a manter trancada.
Saí no que se parecia ser um enorme pátio, com um piso de pedras lisas e levemente alaranjadas. Haviam mesas, guarda-sóis e esteiras espalhadas por toda a área da enorme piscina azulada.
Um sol fraco brilhava entre as nuvens escuras.
Suspirei, estendendo os braços e absorvendo todo aquele calor em minha pele. Tinha sentido falta daquela sensação.
Caminhei até uma esteira e deitei sobre a superfície quente. Fechei os olhos.
Mesmo que eu quisesse ter algum momento momento de paz, minha mente não parava rodar com idéias, pensamentos e necessidades. Eu me sentia mais solitária do que nunca naquele lugar, sem meus amigos por perto.
Senti falta de Damon, Caroline, Stefan, Tyler, Matt, Jeremy e Elena.
Senti meus olhos arderem ao lembrar dela. Elena sempre sabia o que dizer para me fazer sentir melhor, ela me compreendia de um jeito que quase ninguém conseguia.
Quando minha mãe foi embora, meu pai se distanciou e vovó assumiu todas as responsabilidades, Elena estava lá, me apoiando e sendo minha melhor amiga. Cuidando de mim.
Eu sempre me sacrificaria por ela. Afinal, não é isso o que famílias fazem? Ela, assim como seu irmão e o restante de nossos amigos, eram minha única família. E pensar que eles estavam correndo perigo me deixava mais preocupada.
Damon não soltava nenhum tipo de informação relevante, só que estavam com problemas, mas estavam se virando. Questionei-o sobre a tal Caçadora, mas ele não entrava em detalhes sobre ela. Apenas palavras de baixo calão descritivo e que ela se parecia bastante com Elena.
Essa última parte me deixou confusa. Era estranho tentar imaginar alguém tão agressiva parecida com a pessoa mais gentil do mundo.
Minha linha de raciocínio se esvaiu com a voz de Sol me chamando.
Abri os olhos, vendo a governanta parada na entrada das portas de vidro.
Um sorriso surgiu em meu rosto. Ela finalmente tinha me perdoado, ou estava bem perto disso. Porém, sua expressão austera e preocupada não demonstrava isso.
- Tem un homem procurando por usted- disse, com os olhos castanhos levemente arregalados.
Meu coração quase parou.
Um único pensamento tomou minha mente. Tão nítido e certo. Claro como cristal.
Damon.
Ele havia me encontrado.
Saltei para fora da esteira e passei voando por Sol, quase tropeçando em meus saltos no caminho.
Havia uma mistura de aflição e felicidade pulsando em minhas veias.
Damon, está aqui!, cantarolei como um menina boba. Ele veio me buscar!
Mas acima de todo essa euforia, havia a preocupação. E se Kai aparecesse? E se ele fizesse algo contra meu melhor amigo? E se ele o matasse?
Tentei afugentar todos esse pensamentos insensatos e ridículos. Kai mão estava em casa e demoraria à voltar. Pelo menos, era isso que eu esperava.
Passei correndo pelo corredores e cômodos, xingando Kai internamente por ter comprado uma apartamento tão grande. Meu coração pulsando dolorosamente a cada batida.
Quase caí perto da porta, mas segurei - me na maçaneta. Minhas mãos tremiam descontroladamente quando comecei a destrancá-la.
Quando finalmente a abri, meu sorriso minguou.
- Renly?- sussurrei.
Ele estava parado na entrada me fitando com um pequeno sorriso gentil, vestindo jeans e uma camisa bege. Seus olhos verdes de gato miravam os meus com gentileza.
- Você não parece feliz em me ver...- disse com o sorriso morrendo um pouco.
Forcei minha mente decepcionada à funcionar.
- Não... - eu disse sem muita firmeza- Não, é que eu pensei que fosse...
- A cavalaria de Mistyc Falls?- completou.
Dei um pequeno sorriso triste, assentindo.
- Sim.
- Desculpe por decepcionar você- murmurou, parecendo realmente sentir aquilo.
Aquilo fez meu coração amolecer de súbito.
- Você não me decepcionou, Renly- sorri- Estou feliz em vê-lo.
Ele sorriu de novo, me fazendo ficar verdadeiramente satisfeita com isso.
De repente, me dei conta.
- Ai, meu Deus! Você está aqui!- praticamente gritei, apavorada- Você não pode ficar aqui!
E comecei a empurrá-lo pelo corredor em direção ao elevador.
- Peraí, você tá me expulsando da sua casa?- ele riu, caminhando resistentemente para o elevador- Isso é jeito de tratar as visitas?
- Ele não pode saber que veio aqui, Renly!- guinchei, me esforçando para empurrá-lo- Kai vai matar você! E não. Não estou o expulsando. E aqui não é minha casa.
Apertei os botões do elevador implorando para aquela coisa subir o mais rápido possível.
- Bonnie, fica calma- riu de novo, se voltando para mim- Eu me certifiquei de que ele saiu, mesmo. Fiquei na portaria esperando. Durante todos esses dias- admitiu- E aliás, sou mais bonito que ele.
Minha expressão era a da mais pura aflição.
- Renly, se ele pegar você aqui não sei do que será capaz. Não quero que você se machuque- continuei esmurrando aqueles botões- Essa droga de elevador que não chega logo!
Ele segurou minha mão, impedindo - me de continuar espancando os botões.
O calor de seus dedos era gostoso.
- Bonnie- disse me olhando intensamente- Para de tentar me expulsar da sua casa.
- Não é minha casa...- tentei dizer, com a voz fraca.
- Tanto faz de quem é- deu de ombros- Mas não quero que me expulse toda vez que eu quiser te ver.
- Não estou fazendo isso porque quero- minha voz era suplicante- Kai...
- Kai não importa- interrompeu- Você quem importa pra mim.
Não soube o que responder à ele.
- Bonnie- disse com seriedade- Você quer que eu fique?
Houve um minuto de silêncio em que eu não disse mais nada. As portas do elevador se abrindo me fizeram saltar de susto, mas Renly apenas continuou parado no mesmo lugar fitando minha expressão desesperada que aos poucos foi ficando menos tensa, até se tornar um meio sorriso.
- Quero- sussurrei.
- Ufa!- fez ele, sorrindo- Pensei por um momento que você ia me mandar embora.
- Eu ia- arqueei um sobrancelha.
- Mas não mandou- disse estendendo o braço para mim, como que me convidando para uma caminhada.
Estendi a mão, mas a segurei no ar por um instante. Eu ainda tinha é medo de ser tocada.
Eu sabia que Renly nunca seria capaz de me machucar, mas minha mente perturbada pelo que havia acontecido não conseguia fazer essa ligação.
Ele percebeu minha hesitação e recolheu a mão de novo.
Respirei fundo.
Não posso ter medo pra sempre, pensei.
E puxei o braço musculoso de Renly de leve, encaixando o meu próprio no dele.
- Vem, eu vou mostrar a casa pra você- sorri, percebendo o intenso brilho de seus olhos verde - água.
Sol quase teve uma síncope quando me viu entrando no apartamento com Renly. Seus olhos escuros estavam arregalados de pânico e descrença.
- Señorita, não pode entrar com esse... esse- tentava dizer, gaguejando ansiosamente- Esto otro hombre en la casa del señor Kai.
Renly, me encarou, confuso.
- Ela é sempre assim?
- Só quando se trata de mim- dei de ombros e me voltei para ela- Sol, por favor. Eu sei que você está com medo do que o Kai pode fazer, mas eu juro que o Renly vai embora logo.
Ela se calou por um segundo, mirando meu rosto com aquela severidade e carinho. E saiu, indo para a cozinha mas não antes de lançar um olhar assassino na direção de Renly.
- Acho que ela não gostou muito de mim...- disse Renly, coçando o alto do cabelos louros.
- Ela está apenas preocupada- informei, o levando pelos cômodos da casa- Nós nunca tivemos visitas. Bom, não quando ela estava aqui.
Me calei, lembrando de Quinn, agonizando no chão e olhando para Kai com uma admiração louca.
- Ele realmente a enclausurou nessa casa- assobiou, olhando para a imensidão de tudo- Como consegue não se perder aqui dentro? Deve ser um terror tentar achar o banheiro de madrugada.
Aquilo me fez rir, espantando o fantasma de Quinn de minha mente.
- Bom, tem um no meu quarto.
- Eis, um lugar que eu gostaria de conhecer- riu, mas pareceu se dar conta do que havia acabado de falar, corando violentamente- Eu não quis dizer isso. Bom, eu quis, mas não dessa forma. Eu não quero dormir com você. Quer dizer, não que você não seja bonita. Na verdade, você é a garota mais linda que eu já vi em toda minha vida. E claro, que qualquer homem seria sortudo de ter você e...- e parou, esfregando os cabelos ansiosamente-... eu tô fazendo aquilo de novo, não?
- Está- ri de sua cara- Mas isso só acontece quando está nervoso, não? Mas não se preocupe Kai não está por perto.
Renly me olhou enviesado.
- Não é ele que me intimida- disse, intenso.
Meu sorriso desapareceu do rosto.
Naquele momento, eu percebi quão errado estava agindo com ele. Renly não merecia nada daquilo, ainda mais vindo de mim.
- Renly...- comecei.
- Aquilo é uma academia?!- ele surtou, soltando meu braço e entrando no lugar.
O segui, vendo vários aparelhos de ultima geração e coisas das quais eu nunca havia ouvido falar.
- Bonnie, me diga que esse Kai tem pretensão de se mudar para o Alasca e deixar a casa e você comigo?- ele parecia uma criança com vários brinquedinhos nas mãos- Peraí, ele ele não tem uma sala de jogos, tem?
Franzi o cenho.
- Tá falando de uma sala com uma TV imensa, com vários jogos espalhados para todos os lados e uma cadeira grande e esquisita?- estranhei, lembrando de tê-la visto em minhas andanças pelo apartamento.
Renly fez cara feia, cruzando os braços.
- Não acredito nisso...- resmungou- Ele tem uma sala de jogos, uma academia particular...
- Uma sauna- completei, rindo de sua expressão revoltada.
-...uma sauna e você!- continuou- Como o mundo pode ser tão injusto?!
Minha expressão se fechou.
- Eu não pertenço à ele- falei acidamente- Eu não pertenço à ninguém.
A euforia de Renly se dissipou no ar, junto com seu sorriso.
- Eu sei, me desculpe.
Um silêncio tenso pairou sobre nós dois. Não queria ficar tão brava com ele, mas minha frustração com Kai era maior e Renly acabou sendo o bode expiatório.
- Tudo bem- suavizei- Por que está aqui?
Ele sentou em um aparelho de ginástica que devia servir pra alguma coisa muito estranha.
- Você não estava respondendo minhas mensagens com frequência- respondeu, sério- Pensei que algo tinha acontecido. Alguma coisa grave.
Suspirei, relaxando minha expressão.
- Não posso deixar que se machuque. O afastei para protegê-lo.
- Não precisa me proteger- resmungou- Eu sei me defender muito bem.
- Não, você não sabe - rebati- Não contra um vampiro herege. Até alguns dias atrás você era totalmente alheio à isso, Renly. Não conhece nada sobre meu mundo, não sabe o quão perigoso pode ser para você. Então, não fique frustrado de eu estar tentando mantê-lo longe de mim.
Ele ficou de pé, me fitando com seriedade.
- Eu não me importo com nada disso- seus olhos estavam pregados nos meus- Apenas com você.
- Por favor, não faça isso- me afastei dele, contendo as lágrimas- Não se coloque nessa situação por minha causa.
- Você não pode me obrigar a ficar longe- o ouvi dizer, com dor e raiva em sua voz.
- Ele vai matar você, Renly!- gritei, explodindo em lágrimas- Como pode não entender isso?!
Sua expressão era impassível e decidida.
- Eu morreria por você.
- Não!- gritei para ele- Não! Eu não quero que morra por mim! Não quero mais mortes por minha causa! Eu não quero seu sangue nas minhas mãos, não quero vê-lo nos meus pesadelos, Renly! Por favor, fique longe...
Ele avançou rapidamente na minha direção e me puxou para um abraço apertado.
No começo eu resisti, estranhando aquele súbito contato, mas enfim relaxei. Apenas me deixei levar pelo momento, enterrando meu rosto em seu peito e retribuindo o abraço. Meu corpo convulsionava, minhas lágrimas manchando sua camisa, enquanto sua mão afagava meus cabelos.
Um tempo imensurável se passou, mas eu não quis soltá - lo, em paz com aquele calma que ele transmitia.
- Tem falado com seu amigo?- perguntou, quando eu estava mais calma.
- Não mude de assunto- resmunguei, ainda abraçada à ele- Você não pode ficar vindo aqui. É perigoso. E sim, eu falo com o Damon.
Ouvi o sorriso em sua voz.
- Por que ele ainda não está aqui?
- Lembra da tal, Rayna?
- Sim.
- Pois é, culpa dela.
- Mas como um garota pode parar um grupo inteiro de vampiros?
- Não faço idéia, mas ela com certeza não é comum.
- E perigosa.
Afastei-me dele, seus braços pareciam relutantes em me soltar.
- Você precisa ir. É sério.
Ele revirou os olhos, mas parecia muito mais bem humorado agora.
- Tudo bem.
O levei até a porta com Sol nos vigiando de perto.
Ela realmente não havia gostado de Renly. Talvez porque ele representasse problemas para nós duas.
- Você vai responder minhas mensagens?- pressionou, enquanto esperávamos o elevador.
- Pra você não ficar passeando por aqui posso fazer esse sacrifício- murmurei, sorrindo para ele.
- Você é sensata- provocou.
As portas duplas de bronze se abriram e Renly lançou um último olhar para mim antes de entrar. Ele era cheio de certezas e dúvidas.
Quando as portas começaram a se fechar, dei meia volta e caminhei para entrada, porém ouvi som de passos pesados e a mão de alguém segurou meu braço.
Com um puxão, senti meu corpo ser preso contra o da pessoa.
Fitei os olhos verdes e claros de Renly. Sua respiração estava acelerada. Pude sentir as batidas de seu coração através do peito, na palma de minha mão.
Seu braço se prendeu em minha cintura, enquanto sua mão pousou em meu rosto, me puxando para um beijo.
Inicialmente, aquilo me deixou confusa, mas aos poucos meu corpo relaxou. Os lábios de Renly eram mais importantes do que qualquer coisa.
Sua língua invadiu minha boca, se contorcendo com a minha. Meus dedos se prenderam em seus cabelos louros e macios, o puxando para mais perto. E ainda assim não parecia ser o suficiente.
Suas mãos desceram por minhas costas, até alcançarem minhas coxas e ele me pegou no colo. Meu corpo balançou levemente quando ele começou a caminhar. Logo senti a parede do corredor em minhas costas.
Meu corpo ardia pelo dele, e sem conseguir me conter mordi seu lábio com força. Senti o gosto de sangue em meus lábios.
Renly afastou o rosto do meu, confuso. Ele mordeu o lábio de leve, sentindo o pequeno corte ensanguentado.
- Me desculpe- sussurrei, morrendo de vergonha do que tinha feito- Eu... eu..
Um sorriso surgiu em seu rosto.
- Não se preocupe- riu- Acho que foi a coisa mais próxima de sadomasoquismo que tive em toda a minha vida. Acredite, isso doeu. Mas foi muito sexy.
Um sorriso tímido surgiu em meu rosto, mas logo foi substituído por seriedade.
- Você precisa ir- murmurei.
Ele não pareceu estar preocupado. Seus lábios se juntaram nos meus mais um vez, em um beijo lento e calmo.
- Chega- o afastei, empurrando seu peito de leve- Vá embora, Timothy.
Ele riu, me colocando no chão.
- Ei, Bonnie, agora que se aproveitou de mim, será que ainda vai me ligar mais tarde?- disse me tom brincalhão, apertando o botão de seu andar.
- É claro que não- provoquei- Não sou esse tipo de garota.
As portas do elevador se abriram e entrou.
- Cuide-se- murmurou, em um tom sério e preocupado.
Assenti seriamente, vendo as portas se fecharem.
Voltei a caminhar em direção à porta, mas parei ao sentir algo úmido em meu queixo. Capturei com o dedo e fiquei estática ao constatar que aquilo era uma gota do sangue de Renly.
Em um reflexo rápido e impensado, coloquei o dedo na boca.
O gosto ainda era ferroso e amargo. Como sangue deveria ser. No entanto, eu gostei. Muito.
Foi uma sensação quase próxima à que tive com o sangue de Kai, porém muito menor em comparação. Mas ainda assim, todo o meu corpo estremeceu em um prazer desconhecido.
Aquilo me apavorou.
Ainda ofegante, voltei para dentro.

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Voltei!

Oi gente,

Mais um capítulo só pra vocês. Muito obrigada pelas visualizações, votos e comentários ♥
E tenho que dizer que o Renly não tem amor à vida. Mas tem muito amor pra dar kkkk.
O que acharam desse capítulo?

Beijinhos xxx. Até mais o/










LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now