26. Tentação

Começar do início
                                    

◆Bonnie◆

Sol não queria nenhum tipo de conversa comigo. Ela estava realmente magoada.
Fiz algumas tentiva falhas de conversa, mas ela simplesmente não queria papo.
Ficou durante todo o tempo, aprontando a mesa do café da manhã, sem olhar para mim, enquanto eu a seguia para todos os lados na enorme cozinha.
- Sol- chamei, praticamente correndo para acompanhar seus passos ligeiros- Você não pode ficar sem falar comigo durante sessenta anos. Em algum momento vamos ter que conversar sobre o que aconteceu.
Ela nem me deu ouvidos, tirando algumas tigelas de frutas da bandeja.
- Por favor, Sol...- pedi.
Ela soltou a bandeja sobre a mesa de maneira brusca. Quando me vi estava dando passos para trás com aquela mulher baixinha avançando para cima de mim, sacudindo o indicador na minha cara e dizendo um monte de palavras em espanhol. Foi um sermão daqueles e eu não entendi nada.
- Es una chica muy irresponsable! Se podría haber muerto! Podría haber sido cualquier cosa para usted! No hacer piedad de mí? No sé lo que pasé, pensando que algo le había sucedido a la señorita! Yo no perdono!
Eu apenas balançava a cabeça em sinal de positivo, encurralada em uma parede. Sol nunca me pareceu mais assustadora.
E Kai surgiu na cozinha um tanto surpreso pela gritaria. O vi dizer algo em espanhol para ela, mas a mulher simplesmente não queria entender. Ela estava furiosa.
- Soledad, não seja tão dura com ela- pediu Kai, tremendo de tanto rir. Lancei um olhar de ódio na direção dele.
E Sol o atacou também dizendo um monte de coisas que ele parecia entender melhor que eu. Depois de alguns segundos era Kai quem estava encurralado contra a bancada e olhando surpreso para a governanta.
Ela era a mulher mais corajosa, ou a mais louca de todas por enfrentar Kai daquele jeito. Mas pela forma que ele espremia um sorriso em seu rosto, julgava estar se contendo muito para não rir na cara dela. Claro, que ele parecia um tanto assustado também.
Depois disso, Soledad, simplesmente saiu da cozinha aos prantos.
- Você magoou ela, mesmo- disse Kai, ainda olhando para a mulher que se afastava.
- A culpa é toda sua- cuspi, caminhando para a entrada da cozinha- Sol, me desculpe!
Mas ela foi para algum ponto da casa onde não poderia me escutar.
Desisti. Eu teria que falar com ela depois que estivesse mais calma.
Kai ainda me encarava com um sorriso divertido.
- O que foi? - resmunguei, azeda.
- Nada- disse ele, olhando para o vestido branco e drapeado que eu usava.
Passei por ele revirando os olhos e contendo a vontade de sair correndo daquela cozinha. Sentei em uma das cadeiras mais afastadas de onde ele gostava de ficar.
Me ocupei em pegar um pedaço de uma torta holandesa que Sol havia feito. Kai se sentou alguns metros à minha frente, seus olhos acompanhando cada um de meus movimentos.
Subitamente, me vi constrangida pelo que havia acontecido ontem à noite. Eu deixei que ele me usasse mais uma vez. Estava me sentindo um lixo por isso.
Mas era minha única saída. Isso ou ser estuprada de novo. Não queria mais sentir dor e chorar durante dias até que ela sumisse.
Estava apenas me vingando de Kai, porque ele não confiaria em mim para mais nada e a única forma de alcançar essa confiança, teria que ser na cama. Fazendo suas vontades.
Isso me deixou enjoada, empurrei o pedaço de torta para longe de mim.
- Perdeu o apetite?- perguntou Kai, se ocupando em comer um pedaço da mesma torta.
- Como consegue comer tanta comida humana?- questionei de súbito.
- Eu sou meio bruxo, então a parte humana prevalece- deu de ombros, dando uma garfada generosa no doce- Basicamente, posso me alimentar disso- apontou a torta- Ou de você.
Ele piscou para mim.
Lancei um olhar de ódio em sua direção, mas meu constrangimento foi maior ao constatar as marcas que ele havia deixado em meu pescoço exposto. Passei o início da manhã tentando cobrir aquilo com maquiagem, mas só parecia piorar. Contive a vontade de apoiar a mão nele numa tentativa ridícula de esconder os hematomas.
- Oh, meu Deus, você precisa provar isso- Kai suspirou, fechando os olhos em deleite- Sol cozinha maravilhosamente bem. Eu vou casar com essa mulher.
Continuei impassível, ainda o encarando. Se eu saísse da mesa, com certeza Kai me seguiria em qualquer outro cômodo do apartamento. O que o levaria a se distrair da torta e pensar em mim como prato principal. E eu não estava falando de sangue.
- Não quero- disse por fim.
Eu não estava com fome, então não era um caso de emergência para minha compulsão hipnótica.
Kai levantou os olhos da torta, sério.
- Você precisa se alimentar- avisou- Não quero que fique doente. Porque seria péssimo ter que hipnotizar algum médico das redondezas- e baixou a voz- E todos eles são tarados.
- Não é o que dizem dos cirurgiões plásticos?
Ele deu de ombros.
- São todos iguais- murmurou- Coma.
Franzi os lábios.
- Já disse que não quero.
Kai ajeitou a postura na cadeira, me encarando com raiva. O prato que estava a sua frente, voou na parede explodindo em porcelana branca numa velocidade assustadora.
Continuei em um silêncio resignado, desafiando - o.
- Eu vou ter que obrigá-la?
- É o que você faz, normalmente.
Só tive tempo de registrar um borrão vindo na minha direção. Algo agarrou meu braço de uma forma dolorosa, me puxando para cima.
Quase caí em cima de Kai.
Seus olhos cinzentos queimavam nos meus. Porém, isso não me intimidou.
Kai também pareceu notar que eu estava ficando imune à sua cara feia, então, assumiu uma tática diferente.
O vampiro soltou meu braço, prontamente. Uma marca roxa com o formato de seus dedos começou a se formar em torno dele.
Continuei o encarando, preparada para qualquer coisa. Mas Kai, simplesmente avançou na minha direção. Seus olhos intensos, presos em meus lábios.
Tentei me afastar dele, mas acabei encurralada entre seu corpo e a mesa de carvalho. Ele pareceu satisfeito que ao menos isso estivesse me apavorando, sua proximidade.
- Você poderia, por favor, parar de tentar me irritar?- sussurrou, invadindo meu espaço pessoal- Isso me excita pra caramba. E tá meio cedo pra uma ereção.
Engoli em seco.
Seus braços contornaram minha cintura, me puxando contra seu corpo.
- Não. Eu não quero agora, Kai- tentei parecer firme, sem deixar o medo transparecer em minha voz.
Seus olhos avaliavam minha expressão de um modo esquisito. Como se ele estivesse... pensando sobre algo. O vi morder o lábio lentamente, em seguida mais brusco, até que sangue escorreu por ele.
Franzi as sobrancelhas, um tanto horrorizada com aquilo.
- Acho... Acho melhor limpar isso...- tentei dizer, mas sua boca atacou a minha.
Tentei afastá-lo e dar outro tapa em seu rosto, porém, ele agarrou minhas pernas, as cercando em sua cintura. O que me fez automaticamente agarrar seus ombros, com medo de perder o equilíbrio. Ele me sentou sobre o tampo da mesa.
Sua língua invadiu minha boca sem permissão. Senti gosto de sangue...
Isso fez algo dentro de mim estalar, e subitamente mordi o lábio de Kai, buscando mais daquele líquido férreo.
Ele não pareceu se importar com minha selvageria, apenas intensificou o beijo, agarrando minhas coxas em volta de seu quadril. Suas mãos subiram por dentro da saia de meu vestido, mas eu não me importei. Só conseguia pensar no quanto eu queria mais de seu sangue.
Foi como ter ácido correndo por minhas veias, meu coração ribombava como uma máquina. Toda minha pele se arrepiou e houve algo muito próximo de uma sensação orgasmica por todo meu corpo.
Agarrei os cabelos castanhos e macios de Kai, o trazendo para mais perto. Incapaz de controlar minha mente confusa e ansiosa.
O que ele estava fazendo comigo? O que era aquilo?
Sua boca soltou a minha e ele desceu seus lábios para meu pescoço já marcado.
- Não- choraminguei, ofegante- Me beija.
Kai não obedeceu, parecendo sentir um prazer perverso em me torturar.
Aquilo fez uma fúria dolorosa crescer dentro de mim. Meus olhos queimavam de raiva.
Então, completamente ensandecida, mordi seu pescoço.
Kai ficou tenso de imediato, gemendo de dor e prazer. Não entendi como aquilo podia estar sendo prazeroso para ele, eu estava tentando arrancar um pedaço de sua jugular. Não era bem um retrato de romance que se pudesse pintar.
Meus dentes tentavam em vão arrancar mais sangue dele, mas tudo que consegui foi uma mordida superficial. Nada mais do que uma leve laceração.
Aquilo me fez acordar.
Mas o que eu estou fazendo?!, gritei para mim mesma. Eu o beijei? Eu... eu o mordi?
Afastei o rosto de Kai de meu pescoço. Ele não resistiu.
- O que foi, meu anjo?- provocou, com um sorriso sacana.
Meus olhos desceram para seu lábio avermelhado e levemente inchado de minhas mordidas. Rapidamente, sua cura começou a agir e nem mesmo a marca em seu pescoço era visível.
Kai avançou para mais um beijo, mas posicionei a mão em seu peito, o impedindo de avançar.
- Não- coloquei toda a firmeza que consegui em minha voz.
- Eu quero agora- avançou de novo.
- Não, não quer- o afastei de novo.
Seus olhos se inflamaram de novo. E soube que ele não pediria minha permissão para nada que quisesse. E eu não poderia impedi-lo de abusar de mim se quisesse
Então, aproximei meu rosto do seu, roçando minha boca na sua. Kai se inclinou, gemendo e louco para mais um beijo.
- Agora, não- sussurrei, minha boca na sua- Mais tarde.
- Eu não quero esperar- disse como uma súplica.
- Se você não esperar vai tirar toda a graça da situação- beijei o canto de sua boca de leve- Agora, se for paciente...- subi minhas mãos por sua nuca, arranhando até chegar em seus cabelos. Kai me apertou mais contra ele, semicerrando os olhos-... vou fazer o que você quiser. Tudo.
- Tudo?- ele parecia eufórico.
- Tudo- assinalei.
Senti sua mão pousada em minha coxa, por baixo do vestido subindo levemente. Até que seus dedos pararam sobre o elástico de minha calcinha. Kai o puxou levemente para baixo, mas pareceu pensar melhor e tirou a mão de debaixo de minha saia.
- Isso é uma promessa?- questionou, parecendo tentar se controlar.
- Eu quebro promessas?- sussurrei em sua boca.
Ele fez que não com a cabeça, perecendo inebriado.
Me senti mais que vitoriosa, quando ele se afastou de mim, relutante.
- Tudo bem- bufou, revirando os olhos em seguida- Eu espero.
Desci da mesa, ajeitando o vestido.
- Bom, menino- sorri, acariciando sua bochecha como um cão.
Kai afastou minha mão, parecendo mais que revoltado. Contive a vontade de rir.
Comecei a caminhar para longe da cozinha, quando ele agarrou meu braço.
- Se estiver mentindo...- ameaçou.
- Eu posso mentir pra você, Kai?- murmurei, entre dentes.
Ficamos nos medindo por alguns segundos, antes de seu celular começar a tocar uma música pra lá de antiga.
Kai soltou meu braço subitamente sério, e tirou o aparelho do bolso. Quando seus olhos se pregaram no visor aquela mesma palidez tomou conta de seu rosto.
- Merda- resmungou, me mandando sair da cozinha com um acenar de cabeça.
Antes de sair, pude ouvi-lo dizer nitidamente em tom irritadiço:
- O que você quer?

♥♥♥♥♥

Nota da Autora:

Oi babies!
Kaizinho já tá começando a sentir os efeitos do que é uma mulher mexendo com a cabeça dele. Espero que tenham gostado!^-^)/
Então, honeys, o que acharam desse capítulo? Amaram? Odiaram? Comentem!

Beijinhos xxx. Até mais o/




LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Onde as histórias ganham vida. Descobre agora