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Renly tentou me reter em sua casa de todas as formas possíveis. Ele se parecia um pouco com Damon. Muito super - protetor.
Talvez fosse por isso que gostei dele sem conhecê-lo à menos de duas horas.
- Você não quer ficar aqui?- disse, quando estávamos na entrada de seu apartamento- Eu posso dar um jeito. Nós podemos. Esse seu amigo, Damon, pode aparecer à qualquer momento e levá-la em segurança...
- Renly- murmurei, forçando um sorriso encorajador- Eu vou ficar bem. E vou me sentir bem melhor se a sua cabeça ainda estiver conectada ao corpo.
Ele estremeceu com minhas palavras.
- Por favor- implorou, fazendo a menção de tocar meu braço, mas desistiu no meio do caminho- Não volte para ele. Kai irá machucá-la. Seja uma pessoa inteligente e fique aqui, onde eu posso protegê-la.
Cruzei os braços, contendo a vontade de ficar.
- Ninguém pode me proteger. Não dele.
Deixei o ar sombrio escapar de meu rosto. Eu devia parecer o mais controlada possível, não queria que Renly ficasse preocupado comigo. Ele não merecia isso.
- E nem me conhece- tentei rir. Saiu um som estranho.
- Sei que você é a garota mais corajosa e extraordinária que eu já conheci- disse de um modo solene- E claro que ser amigo de uma bruxa deve ter lá suas vantagens.
- Claro- assenti- Os aneurismas.
- O quê?
- Deixa pra lá- murmurei rapidamente, rindo de sua confusão fofa- E a propósito...- Estendi a mão, contendo a vontade súbita de recolhê-la rapidamente-... sou Bonnie. Bonnie Bennett.
Ele a segurou gentilmente, tomando o cuidado de não apertar muito.
- Renly Timothy Sinclair.
- Timothy?- ri.
Ele deu de ombros.
- Minha mãe adorava esse nome.
- Ela...- tentei dizer, sentindo o pesar em sua voz.
- Ela se foi- completou.
- Eu sinto muito.
Renly ficou em silêncio por alguns segundos. Talvez, repassando lembranças dolorosas de saudade em sua mente.
- Eu tenho que ir- murmurei.
Ele pareceu se dar conta de que ainda segurava minha mão.
- Desculpe- deu um sorriso torto, a soltando- À propósito...- disse ele, puxando algo do bolso de trás da calça. Seu celular-... quero que fique com isso.
- Eu não posso aceitar...
Tentei dizer.
O louro revirou os olhos.
- Não seja tão orgulhosa, Bonnie- o modo como disse meu nome, me fez sorrir mais- Estamos em um caso de vida ou morte. E eu também posso querer ligar pra você tarde da noite, caso bata a solidão.
Peguei o aparelho em minhas mãos.
- Tudo pela sua solidão- cantarolei, apertando o celular caro minhas mãos.
Seus olhos verde- água ficaram sérios.
- Por favor, atenda- pediu, passando toda sua preocupação em um só olhar- Ou mande torpedos. Qualquer coisa que indique que ainda está viva, tudo bem?
Assenti solenemente.
Mesmo não querendo sair de toda aquela atmosfera de amizade e acolhimento, tive que fazê-lo.
Caminhei em direção ao elevador no fim do corredor, entrei nele e ainda olhando para Renly que me fitava como um cãozinho triste, as portas se fecharam e a caixa de metal subiu.
Eu sentiria falta de conversar com ele, mas para o bem de Renly precisaria manter distância.
Quando as portas do elevador se abriram, me dei conta de que ainda apertava o aparelho celular em minha mão. Tratei de escondê - lo dentro do jeans e puxei a blusa por cima.
Alisei até que fosse impossível vê-lo.
Respirei fundo, dando o primeiro passo em direção ao corredor. A enorme porta me aguardava como as grades de uma prisão.
Todo meu corpo gritava para que eu desse as costas para aquele lugar e simplesmente achasse uma forma de escapar. Mas não havia.
Tirei as chaves do bolso do trás da calça com uma lentidão calculada e coloquei-a na fechadura.
A porta se abriu com um leve rangido. Esperei, tensa, pelos gritos de Soledad, mas só havia silêncio no enorme apartamento.
Entrei a fechei a porta rapidamente. Minhas mãos tremiam de ansiedade, mas eu agradecia no fundo por Kai não ter chegado ainda.
- Sol- chamei, me virando- Me desculpe por ter mentido pra você...
As palavras morreram em minha boca.
Kai estava sentado em uma poltrona enorme e branca, perto da grande janela que dava vista para os prédios. Seu corpo estava relaxado em um jeans e camiseta branca. Os cabelos desgrenhados e castanhos.
Sua expressão não emitia nenhuma emoção.
Senti meu coração quase saltar do peito pelo susto. E claro que Kai também podia ouvi-lo.
Respirei fundo, erguendo um pouco o queixo.
- Há quanto tempo está aqui?- questionei, ríspida.
Seus olhos azuis percorreram meu corpo e as roupas que eu vestia em aprovação.
- Há cerca de uma hora- deu de ombros- O que esteve fazendo na minha ausência?
- O de sempre- dei de ombros também, debochando- Procurando algum vizinho gato pra transar. E você?
Seus olhos ficaram negros.
- Não brinque com isso- resmungou com um leve rosnado na voz.
Apesar da mesma aparência irritante, Kai parecia um tanto estressado e cansado.
Sorri de canto.
- Na verdade, eu tentei fugir.
- Conseguiu chegar à portaria?- seus olhos voltaram para o azul e um sorriso de deboche surgiu em seus lábios.
Assenti, jogando o molho de chaves sobre uma mesa e caminhando para a sala.
- Mas os Weasleys, dois velhos e um Homem de Preto me barraram- murmurei com sarcasmo.
Sentei em um dos sofás, diante dele, notando como seus olhos miraram minhas pernas quando as cruzei. Um arrepio de asco me percorreu.
- Você magoou a Sol- disse, fitando meus olhos com uma falsa tristeza- Ela realmente ficou preocupada com você. Quando cheguei, a encontrei chorando na cozinha.
Toda minha arrogância e raiva se dissiparam ao ouvir aquilo. Eu fugi sem pensar nas consequências para ela.
A preocupação deve ter ficado em destaque em meus olhos.
- Eu não a machuquei- disse ele, lendo meus pensamentos- Nunca feriria a melhor cozinheira que eu já conheci. Quem faria enchiladas pra mim?
- Claro, porque a única coisa que importa é o seu amado estômago- revirei os olhos.
- É- assentiu.
Eu não suportava ficar na presença de Kai, mas tive que fazê-lo para ao menos dar um tom de normalidade à nosso convivência. Quanto mais ele confiasse em mim, mais eu poderia quebrá - lo.
Um silêncio estranho tomou o rosto de Kai. Quase como uma serenidade.
- Você parece bem- disse por fim.
- É o resultado das drogas- murmurei com sarcasmo- Mais umas doses e vou estar nas nuvens.
- Pedi para Sol colocar alguns calmantes na sua comida para que você pudesse dormir em paz. Eu estava cansado de acordar no meio da noite com seus gritos por causa dos pesadelos.
Franzi o cenho.
- Não me lembro disso.
- Está vendo? Já está nas nuvens- piscou pra mim com um meio sorriso.
Revirei os olhos.
- Como foi a pescaria?- alfinetei.
Um sorriso maldoso surgiu em seus lábios.
- Alguns peixes são mais difíceis de pegar.
Arqueei a sobrancelha.
- Por que eu tenho a impressão de que você está falando de outra coisa totalmente diferente de pescaria?
- Talvez porque viva desconfiando de mim? Ou talvez só esteja com ciúmes- ele ergueu a mão direita- Mas juro, solenemente que não me envolvi com nenhum garota durante o tempo em que estive fora.
- Por mim, você poderia pegar um doença venérea e morrer.
Um sorriso enorme surgiu em seu rosto. Ele parecia feliz demais.
- Bem vinda de volta, Bonnie Bennett. Eu senti sua falta.
Ele realmente era louco.
- Onde está Sol?- questionei, ficando de pé- Preciso falar com ela.
- Disse para ela tirar o dia de folga- murmurou- Está no quarto dela descansando, mas não antes de me fazer prometer que não machucaria você por ter fugido de casa.
- Aqui não é minha casa- rosnei, me lembrando de que o meu verdadeiro lar havia queimado.
- Sua casa é onde eu estiver- sua voz foi firme.
- Então, eu vivo em um inferno constante e imutável.
- Se acha isso...- deixou no ar.
Comecei a caminhar para longe dali. Cansada daquele teatro, cansada de estar na presença daquele monstro.
- Bonnie- chamou.
Parei na entrada dos corredores que davam acesso à outros pontos da casa.
- O que foi?- fui mais grosseira, como uma criança.
- Nós não terminamos.
Hesitei na soleira da porta, pensando em deixá-lo ali falando sozinho. Eu já não me importava mais com que ele iria fazer, mas uma parte de mim, queria concluir meu plano. Destruí-lo até não restar mais nada.
Meus dedos apertavam-se contra a parede ao meu lado. E por fim soltei o ar com raiva.
Voltei para a sala.
Kai fez um gesto com o indicador me convidando à chegar mais perto dele. E fui.
Seus braços cercaram minha cintura, fazendo com que eu sentasse em seu colo.
Tentei manter minha dignidade, mas ela desapareceu no momento em que ele fazia isso comigo. Me senti uma criança. Isso era vergonhoso.
Seus dedos colocaram alguns fios de meu cabelo longo atrás da orelha.
- Sabe, apesar de eu simplesmente não sentir nada pelo fato de estar desligado- murmurou, acariciando meu rosto- Eu ainda tenho a necessidade de estar perto de você. Talvez porque, mesmo que não aceite você é a única pessoa que me entende do jeito que eu quero ser entendido. Isso é confuso, eu sei- ele riu- Mas mesmo que eu não sinta nada por você, ainda preciso estar aqui, entende?
- Isso é sua maneira doentia de ser sentimental?- fui irônica.
- Essa é minha maneira de dizer que você me pertence- disse energicamente- E que estou cansado de ter que forçá-la à tudo. Isso é exaustivo.
Franzi o cenho, confusa.
- O que quero dizer é que não vai chegar à lugar nenhum me negando. Sabe que eu não vou parar- anunciou- E eu sei que você sempre vai resistir. Então, porque não colaboramos um com o outro?
Seus lábios ficaram perigosamente perto dos meus. Sua respiração quente se confundia com a minha.
- Seja minha e eu juro que darei mais prazer à você do que pode imaginar- sussurrou contra meus lábios.
- E se eu não aceitar?- ousei perguntar.
Ele sorriu contra meus lábios.
- Digamos que você vai viver com dores constantes.
Senti minhas bochechas arderem de raiva. Minhas mão coçou para acertar um tapa no rosto dele, mais uma vez. Porém, me contive.
- Eu preciso pensar sobre isso- sussurrei, sentindo-o morder meu lábio inferior.
- Você tem até essa noite para me dar uma resposta- disse, ficando de pé e me segurando em seus braços.
Ele soltou minhas pernas de modo que eu pudesse fixar em pé também. Tirei seus braços de minha cintura e me afastei.
- Bonnie- chamou, quando eu já estava na porta- Pense bem no que eu tenho à oferecer.
- Vou pensar- dei um sorriso cheio de ódio e irônia.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now