23 - O dia Seguinte

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– Alguma coisa que eu peguei emprestada com a sua mãe – respondi e puxei com força meu braço, tirando-o de sua mão.

No mesmo instante o sorriso do garoto desapareceu de seu rosto.

Xingar a mãe de alguém é o clássico do início dos barracos verbais – ou até mesmo barraco físico.

– O que disse?! – perguntou aproximando-se mais dois passos e estufando o peito.

Ele parecia um galo de briga naquela posição e por um instante eu me perguntei se ele teria mesmo coragem de me bater.

– Disse que peguei a roupa emprestada com a sua mãe.

Nesse momento, a pequena linha tênue que nos separava da grande batalha do ano se rompeu, e o que era dúvida virou certeza: ele tinha coragem para me bater, sim. Mas antes que ele tentasse quebrar algum dos meus finos braços, foi impedido por algumas pessoas que estavam ao nosso redor que falavam "tá maluco de bater em mulher" e coisas do tipo.

– Vagabunda – disse o galo de briga cuspindo no chão, perto de onde eu estava, quando finalmente foi controlado fisicamente por seus colegas.

Vagabunda? Vagabunda?

Dessa vez foi minha vez de avançar em direção ao garoto buscando socar aquele nariz cheio de cravos adolescentes ou pelo menos arranhar aquelas bochechas enorme, mas algo me impediu de fazer essas coisas: quatro mãos: os Fernandes.

Gabriel deixou que apenas Pedro me segurasse, para que ele pudesse se colocar na minha frente, entre o garoto e eu (e também porque Gabriel não era forte o suficiente para me segurar).

– Fica longe dela, está me ouvindo?

– Onw, que fofo, o namoradinho defendendo a namoradinha – disse o garoto em tom provocativo.

– Ei, ei, ei! – protestou Pedro ainda me segurando. – Olha como você fala com os meus irmãos, Alexandre.

Quando percebeu que era Pedro quem falava, o garoto imediatamente se calou.

Eu não sei como explicar isso. Acho que só quem conhece Pedro pessoalmente sabe o que eu quero dizer quando digo que ele impõe respeito de uma maneira mágica. Era como se ele fosse uma espécie de Barak Obama do colégio. O que ele falava, era lei. As pessoas o respeitavam de um jeito que eu não entendo, apenas sei.

Pedro me soltou quando viu que eu não era mais ameaça para ninguém e começou a falar:

– Eu não quero ouvir nenhum comentário sobre o que aconteceu ontem à noite – agora Pedro estava se referindo às pessoas que haviam se juntado para ver a briga. – Nenhuma espécie de provocação. Nenhuma.

Todos ficaram em silêncio sem protestar e isso me deixou puta da vida. Porque obedeciam a ele e a mim não? Até quanto eu teria que me esconder atrás da defesa masculina de Pedro e Gabriel?

– Agora andem – disse Pedro movimentando a mão com impaciência.

Assim como surgiram, as pessoas se dispersaram antes que alguma autoridade da escola pudesse chegar e ver o que estava acontecendo de fato.

– Eu só queria saber uma coisa... – eu disse quando todos se afastaram, o rosto ardendo de raiva. – Como todo mundo sabia que eu estava na casa de Jéssica?

– Alguém espalhou de última hora que as líderes de torcida iriam fazer uma apresentação naquele endereço, mas ninguém sabia que era a casa de Jéssica porque ela é novata. Se eu soubesse que era a casa dela, suspeitaria de algo já que eu sabia que você estava lá – Pedro respondeu.

NOVEMBROWhere stories live. Discover now