21 - Coisas de Garotas

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– Flexão – disse trocando de posição para fazer o outro exercício. Fernando me imitou.

Enquanto eu estava longe de estar cansada, Fernando já manifestava sua insatisfação com tudo aquilo.

Perguntei a ele o que ele treinava na academia. Era o suficiente para ter um corpo esteticamente bom, mas não o suficiente para um condicionamento ideal de um jogador de futebol. Ele teria de dobrar a quantidade de exercícios que ele fazia antes. Precisava ter fôlego, ser resistente. Quando ouviu isso, não pareceu se incomodar muito, mas agora que realmente estávamos nos exercitando ele não parecia tão indiferente quanto antes.

– Jonathan que passou esses exercícios? – Fernando perguntou quando estávamos chegando ao fim da série de flexões.

– Alguns sim. Mas tudo o que eu aprendi foram com os meus professores nas escolinhas de futebol, o técnico do meu antigo time...

- Antigo time?

- Sim. Eu joguei no Vale Futebol Cube – disse depressa, sem querer estender muito esse assunto. – Chega. – ordenei e nós dois paramos com o exercício para descansar antes da próxima série.

Nos sentamos no chão da academia e bebemos um pouco de água de nossas garrafas.

– Esse time aí era tipo um time profissional? – perguntou Fernando limpando a testa com as costas da mão e bebendo mais um gole d'água.

– Sim – disse soltando meus cabelos compridos de um rabo de cavalo para depois prendê-los novamente, com mais firmeza. – Não sei se seu pai te conta esse tipo de coisa, mas o futebol está passando por uma fase crítica no Brasil, então... Meu clube acabou falindo... – tentei, mas não consegui concluir. – Mas sabe quem foi meu melhor treinador de todos os tempos? Pedro. Ele quem ensinou Gabriel e eu a jogar futebol.

– Seu amigo do terceiro ano?

- Sim.

- Então ele é melhor do que você?

– Não – eu concluí, orgulhosa – Sou o exemplo que o aluno pode superar seu mestre.

– Hm... – ele murmurou em concordância, mas no fundo sabia que ele desconfiou do meu discurso. – Por que você fica fazendo os exercício junto comigo?

Para quem não falava nem "bom dia", Fernando Amargo está cheio de perguntas hoje.

– Para quando você ficar exausto e estiver prestes a desistir ver que eu, uma garota magrela, estou longe de estar cansada. Estou te incentivando a continuar – respondi, bebendo mais um gole de água.

Ele soltou uma risadinha anasalada.

– Você é um menininho – concluiu com um dos cantos da sua boca se arqueando em um sorriso.

O quê?

– Eu não sou um menininho – disse rispidamente me sentindo ofendida.

– Claro – ele soltou uma risada abafada. – Só não é muito delicadinha.

– Eu sou delicada! Eu sei fazer cachos com a chapinha da Taiff!

– O quê? – ele perguntou confuso.

Por que eu tive de falar sobre a chapinha da Taiff? Foi ridículo, ridículo, ridículo, ridículo, mas o que eu poderia fazer? Eu detestava que me chamassem de macho e essas coisas... Porque eu sou feminina! Eu só jogo futebol, mas e daí? Um monte de mulher (feminina) também joga – e ainda melhor que muito homem.

– Flexões – ordenei para tentar desviar a conversa sobre "menininho" e "chapinha Taiff".

– Flexões – ordenei para tentar desviar a conversa sobre "menininho" e "chapinha Taiff"

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