27 - Um novo inimigo

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— Não precisa agradecer... Boa noite.

Quando cheguei em meu quarto, desabei na cama e chorei. Sim, chorei para aliviar o peso da mentira, o peso de ter dois demônios apaixonados por mim e o peso de estar redondamente arrependida por ter nascido e estragado a vida deles. Desejei ter uma vida menos complicada, mas algo me dizia que isso estava longe de acontecer.

Adormeci um longo tempo depois.



Os dias seguintes foram um desastre, eu não consegui prestar atenção nas aulas, tudo o que se passava em minha mente era onde Luca poderia estar e o porquê dele não ter me dado algum sonho, sem contar que não procurou por mim nenhuma vez, assim como não estava dando aulas.

Na quinta-feira, estávamos na aula de Educação Física, e o jogo do dia era voleibol, para minha felicidade. Eu amarrava o cadarço do meu tênis, sentada na arquibancada cinza da quadra da escola, quando notei que só restara um time para que eu pudesse entrar, já que havia me atrasado para a aula, e nele estavam Vitor e Luís. Juliana estava entusiasmada, afinal, eu não havia contado a ela sobre o ataque que sofrera depois da festa de aniversário dele. Fitando os olhos castanhos e temerosos de Luís, posicionei-me num dos lugares da frente, enquanto Juliana ficou atrás, em meio aos dois valentões. Começamos a jogar, e quando Jéssica -outra integrante do nosso time- sacou, os rapazes começaram a caçoá-la, uma vez que a mesma não conseguiu fazer a bola passar pela rede. Procurei pelo nosso professor, mas ele havia se ausentado da quadra, alegando ter de conversar com a diretora.

— Parem com isso, é só um jogo! — Juliana se aproximou da garota, como que para protegê-la, e os dois pararam.

— Só vou parar porque você joga bem para uma menina. — Luís elogiou Juliana, fazendo meu sangue ferver.

Respirei fundo, e contive-me. Então, o time adversário jogou a bola em direção à Jéssica, que a arremessou para fora da área.

— Ah, qual é? — Exclamou Vitor. — Não sabe jogar?

— Vamos trocar, e usar ela como bola, quem sabe assim ela serve para alguma coisa. — Luís debochou, fazendo Vitor e outros alunos gargalharem.

Observei Jéssica baixar o olhar, evitando que alguém visse a lágrima que caíra por seu rosto rosado. Deixei que Luís buscasse a bola ao longe, para enfim dar-lhe uma lição, quando o mesmo retornou, eu a tirei de sua mão com um puxão.

— Vocês não aprendem mesmo, não é? — Esbravejei.

— Ninguém falou com você, Ferrugem, então sai da frente. — Ele tentou tirar a bola das minhas mãos.

— Você quer? — Indaguei, erguendo-a, e quando ele arqueou uma das sobrancelhas, impaciente, eu arremessei com força a bola contra seu estômago.

Luís curvou o tronco para a frente, e fez uma expressão de dor. Todos os outros alunos ficaram em silêncio, em expectativa. Eu aproximei meu rosto do garoto e apoiei minha mão em seu ombro, fazendo-o ajoelhar, ainda segurando o próprio corpo.

— Vo... você é uma... vaca. — Murmurou ele.

— Tá sentindo dor, seu desgraçado? — Sussurrei, para que somente ele ouvisse. — Eu queria poder arrancar a sua língua. Não pense que não sei que você e seu amiguinho Vitor armaram para mim, depois da sua festa.

Ele ergueu os olhos castanhos para mim, eles estavam aflitos.

— Eu...

— Shhh... fique tranquilo, eu não vou bater em você. — Afastei-me um pouco dele. — Eu quero que isso sirva de lição para todos vocês, babacas, que se acham melhores do que nós, mulheres. — Voltei-me para os demais que estavam ao nosso redor, na quadra. — Não é só porque somos o sexo frágil -fiz aspas com os dedos nessas palavras-, que não podemos jogar bem, porque você tem razão, Luís, a Ju é uma excelente jogadora.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Where stories live. Discover now