14 - Não me provoque

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Respirei fundo. Depois, saímos do carro e eu o segui por entre as altas e espessas árvores do local.

— Quer? — Perguntei, comendo um dos dois croissants que havia guardado para mim.

— Não, obrigado.

Ótimo, sobra mais para mim.

Então, Hector começou a descer um pequeno morro que nos levaria para o interior do parque, no qual havia ainda mais árvores. Comecei a temer ter feito a escolha errada ao aceitar ir àquele passeio com ele, mas já era tarde demais, não havia como voltar. Apressei o passo para caminhar ao seu lado. Depois de alguns minutos, as árvores começaram a diminuir de quantidade, e podia-se ouvir o som de água corrente. Quando finalmente chegamos ao local que ele queria, passamos por duas árvores grossas que formavam uma espécie de "portal", e então eu vi.

Aquele com certeza foi o lugar mais bonito que eu havia visto em São Gabriel durante todos os meus dezoito anos. Árvores não muito altas repletas de pequenas flores amarelas, destas muitas estavam caídas no chão, formando um enorme manto na grama. Havia ainda dois ou três bancos de madeira, e um pouco longe, uma cachoeira alta, e depois de sua queda, um grande lago se estendia no local. Havia outro casal sentado num dos bancos, eles pareciam não terem notado nossa presença, pois continuavam a contemplar a beleza do lugar -o que eu mesma estava fazendo, na verdade. Olhei para Hector, ele me encarava com curiosidade, como se estivesse tentando descobrir o que eu havia achado só de olhar em meus olhos. E percebi que talvez o tenha julgado mal, talvez ele não fosse o idiota que eu pensara ser.

— É muito lindo... — Comentei.

— Sabia que gostaria.

Hector tirou a mochila das costas e retirou dela uma toalha vermelha e estendeu-a no chão, em seguida, tirou uma garrafa com suco laranja, um pacote branco de papel com algo cheiroso dentro, duas barrinhas de chocolate e uma caixa de biscoitos de baunilha, o que deixou claro que ele realmente pretendia aquilo desde que me encontrara na padaria.

— Nunca fiz piquenique. — Confessei.

— Então, aproveite este.

Sentamos sobre a toalha e ele abriu o pacote cheiroso, havia pãezinhos de queijo e presunto, que pareciam estar uma delícia. Começamos a comer, e depois de alguns minutos, o casal que lá estava nos cumprimentou e foi embora, deixando-me sozinha com Hector -o que não foi algo ruim, na verdade. Conversamos sobre várias cosias, ele até me disse que já trabalhou como porteiro num lugar bizarro, mas não revelou qual por medo de eu julgá-lo mal, e sinceramente, eu realmente preferi não saber. Contei a ele sobre minha mãe e o quanto me senti perdida depois de sua morte, Hector pareceu ressentido por isso e agradeci mentalmente por ele não ser o completo otário que eu julgara ser.

Então, ele perguntou se eu tinha namorado.

— Não. — Respondi, somente.

— Que sorte a minha! — Exclamou.

— Para com isso... — Pedi, rindo um pouco.

Depois do piquenique, deitei-me sobre a toalha e permaneci fitando os variados formatos de algodão no céu. Percebi que Hector me olhava enquanto eu tentava descobrir que animal uma daquelas nuvens parecia. Sim, parecia cena de algum filme bem clichê, até ele dizer que provavelmente aquela nuvem estaria dizendo à outra que eu parecia uma humana muito boba. Foi difícil não rir com o comentário. Algum tempo se passou e eu olhei a cachoeira, e como não era um dia tão frio, decidi nadar um pouco. Hector me informou que a água era fria demais -alegou já ter nadado ali algumas vezes-, mas não me importei. Já dentro da água -e longe de Hector-, permaneci com a calça jeans, mas tirei a camiseta, ficando apenas de sutiã, e joguei o tecido fino para longe. Em seguida, soltei meu cabelo que havia prendido num rabo de cavalo enquanto íamos até aquele lugar.

Depois de alguns minutos, acostumei-me com a temperatura da água. Por um tempo, até me esqueci da presença de Hector ali, mas ele com certeza me observava com aquelas íris incrivelmente brilhantes. Então, ouvi um barulho na água, olhei para trás e mordi o lábio, era ele quem decidira nadar também.

— A água não está muito fria para você?

Ao sentir seus olhos sobre mim, afundei-me mais na água, deixando apenas ombros e pescoço à mostra. Ele tirou a camisa e a jogou para longe como eu havia feito, revelando um corpo magro, porém, definido e atraente.

— Não me provoque, Leãozinho.

Sorri e comecei a nadar para longe dele, desafiando-o a me seguir, e assim ele fez. O que eu não esperava era que Hector fosse mais rápido do que eu -já que eu era uma nefilim. Mas ele me alcançou em poucos segundos, segurou minha cintura dentro da água e encarou-me. Estávamos próximos o suficiente para que eu pudesse sentir seu hálito morno. Eu sabia que ele queria me beijar, mas não me importei, eu também queria. E quando pensei que ele o fosse fazer, senti sua boca abaixo da minha orelha direita e fechei os olhos, permitindo-me sentir seu toque da melhor forma possível. Depois, seus lábios frios traçaram uma linha de beijos suaves por meu pescoço, clavícula e enfim, chegaram aos meus.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora