14 - Não me provoque

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Nessa hora, pensei em Scarlett. E pensei que sim, ela provavelmente ficaria uma verdadeira pestinha. Em seguida, pensei em tudo o que Hector havia dito. E notei que ele estava certo sobre quase tudo, exceto por uma coisa bem pequena: meus problemas familiares sempre haviam sido resolvidos graças à minha incrível capacidade de compreender os conflitos internos das outras pessoas, especialmente os do meu pai.

— Errou em tudo. — Menti na maior cara de pau.

— Ah, sei... Então, o que acha de tentar acertar algo sobre mim?

— Como se isso fosse muito difícil. — Debochei.

Ele parou num posto de gasolina para abastecer. Observei um casal na entrada da loja de conveniência, a moça estava grávida e apoiava-se no ombro do rapaz que, por sua vez, passava freneticamente as mãos pelo cabelo, parecia estar extremamente preocupado com alguma coisa, no entanto, ela sorria para ele, como se estivesse se divertindo ao vê-lo aflito. Era uma típica cena de casais recém-casados que podíamos ver a qualquer momento. Mas nunca parei para olhar além daquilo. Nunca pensei que veria algo a mais como estava vendo naquela hora. Eu via o amor entre eles, foi uma cena tão simples, mas que me tocou por alguma razão. E perguntei a mim mesma se um dia ainda teria algum momento como aquele, levando em conta que eu não era comum. Hector deu partida novamente, e voltei minha atenção a ele.

— E então?

— Posso dizer que você é um galinha de primeira, seduz as mulheres, tira proveito delas e depois some, como se o caso não tivesse passado de uma simples ficada. Bem, não posso culpá-lo, seu instinto masculino e seu ego dizem a você que isso é o certo a se fazer... Mas no fundo, tudo o que você quer é encontrar o verdadeiro amor, casar-se e ter filhos, voltar do trabalho e ter a mesma idiota esperando por você todos os dias até o resto da sua vida.

Ele riu, então me olhou por alguns segundos.

— E o que acha de ser essa idiota?

Fiquei surpresa.

— Sem chance.

— Você também errou em tudo, Leãozinho. — Afirmou, ignorando minha resposta.

— Hum... aposto que sim. — Respondi ironicamente.

Ele deixou que o silêncio pairasse no ar entre nós. Depois de alguns minutos, finalmente estacionou o carro perto de algumas árvores e pegou uma mochila preta no banco de trás. Olhei pelo vidro.

— Um parque? Nunca vim aqui antes, mas...

— Não é só um parque, São Gabriel pode ser melhor do que você pensa. Já conheci muitos lugares ótimos aqui, e estou nesta cidade há poucas semanas.

— Por que veio para cá? — Perguntei, descontraída, já saindo do carro.

Mas a pergunta simples pareceu tê-lo pego de surpresa.

— Férias do trabalho. Estou na casa de um amigo.

No mesmo minuto, pensei que se eu perguntasse a ele o que fazia da vida, iria deixá-lo desconfortável outra vez, mas eu realmente não dava a mínima.

— Trabalha com o quê? — Indaguei, olhando diretamente em seus olhos, os quais nunca perdiam o brilho sublime.

— Sou dono de um clube de striptease.

Fiquei boquiaberta, porque eu realmente acreditei a princípio, já que não era de se duvidar a julgar pelo gesto desequilibrado dele de me seguir. Depois, fuzilei-o com o olhar.

— Será que você não consegue ter uma conversa normal com alguém? Sem fazer essas piadinhas? Meu Deus, quem aguenta?

— Acalme-se, Leãozinho... Estamos num passeio, esqueceu?

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora