Capítulo vinte e dois

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 Todos sentados à mesa do café, Charlie parece assustado, Lize e Luna comem normalmente, Lina está ao lado de Elizabeth, mas não parece estar com fome, papai está com seu jornal de todas as manhãs e Fleur está comendo as panquecas. Todos comem silenciosamente, Charlie é o primeiro a levantar, depois Lina. Acho que ela contou. Levanto e sigo para meu quarto. Sento na cama e espero. Charlie entra no quarto segurando o braço de Lina com uma força que deixa uma marca vermelha. Ele parece muito assustado.

— Você sabia!

— De que está falando, Charlie? – Falo fingindo confusão. Talvez seja melhor Charlie falar o motivo.

— Você sabia todo este tempo que ela estava me escondendo esse segredo! – Ele gritou, balançando o braço de Lina, ainda em sua mão, e eu não consegui conter o comentário irônico:

— Charlie, todas as meninas escondem segredos, faz parte da nossa sociedade.

— Lia não se finja de desentendida, todos aqui nessa casa sabem que eu realmente gosto dela. Você sabe mais que todo mundo como é gostar de alguém de verdade. Ou você acha que eu não sei o que está acontecendo com você e Nicolas. — Aquilo me pegou desprecavida, ele não poderia saber, ele contaria para o papai e ele me obrigaria a casar.

— E o que mudou? — Pergunto com um nó na garganta.

— Pessoas normais não escodem que são sereias! — Ele grita a última palavra, corro para tapar sua boca.

— Será que você pode não gritar isso? Tenho certeza que papai não vai compreender muito bem, que o filho dele está apaixonado por um peixe. — Falo em um sussurro.

— Vocês podem tomar cuidado com as palavras, eu ainda estou aqui, e ser chamada de peixe não é muito agradável. – Lina reclamou, me viro para Charlie e começo a falar:

— Antes de tudo, solte a Lina, por favor, ela não tem culpa. Agora acho melhor você sentar porque a história que eu vou contar pode ser meio complicada de absorver.

— Espero que você não esteja brincando comigo, Lia, isso não é coisa para brincar, pelo amor de Deus!

Começo a contar sobre como encontrei o botão e fui parar no Jardim, ele pareceu surpreso, falei como todos lá têm asas ou calda ou são animais falantes. Contei como eles pretendiam tirar meu Néctar para reviver o Jardim.

— Então ontem depois de tomar um esporro da Lize pensei que a culpa era da Lina e associei com as sereias que sempre encantam as pessoas nos livros. Então, me desculpe por isso, eu tive que ameaçá-la com um copo de água, e eu estava certa, ela é uma sereia, mas não fez nada com a Lize. Então falei para ela que seria perigoso se não contasse a verdade para você.

— Eu não deveria acreditar nisso, não existe sentido nenhum.

— Tudo bem, então terei que tomar medidas drásticas. — Peguei o copo de água na escrivaninha.

— Lia, por favor, eu não sei o que vai acontecer se voltar a ser sereia. — Lina falou apavorada.

— Eu preciso mostrar a verdade para ele, Lina, eu sinto muito. — Viro o rosto e jogo à água. Escuto a água batendo no tecido, mas nada vem depois, nenhum brilho, ou o quarto girando. Volto os olhos e vejo as costas do paletó de Charlie ensopadas. Ele abraça Lina.

— Você está louca?

— Você acredita agora? – Pergunto.

— Impossível não acreditar vendo o medo que ela teve deste copo de água. — Falou a abraçando.

— Tem mais uma coisa que eu não contei. Sabe a tia Lira? — Ele assente. — Eu sei como ela morreu.

— Como?

— Ela esteve no Jardim antes de mim, e morreu lá. Ela e Nicolas se gostavam, e quando ela foi morta ele veio para o nosso mundo.

— Nicolas o seu amigo? — Ele perguntou assustado. — Mas essa tia morreu a quase 15 anos. Está querendo me dizer que está se envolvendo com alguém bem mais velho que você? Bem mais velho que eu! Preciso contar para o papai, isso é perigoso!

— Não Charlie, você não pode contar! — Falo. O nó na minha garganta aumenta. — Ele tem bem mais de 25 anos, mas ele não é perigo para mim. A Lina também já deve ter bem mais que 18.

— Minha nossa, Lia, o que vou fazer agora? – Ele perguntou e Lina começa a chorar. Espera, ela está chorando areia?

               — Me desculpe se estiver sendo rude, mas porque você está chorando areia? — Pergunto, procurando algo para secar, ou guardar, suas lágrimas.

— Sereias, em sua forma humana, não choram água, pois podem se molhar e voltar a sua forma natural. – Lina respondeu.

— E porque você está chorando? – Charlie perguntou preocupado.

— Porque, senhor Adams, você foi à única pessoa que pareceu, por algum tempo, gostar de mim de verdade, mas acho que estava enganada, afinal. — Essa é a primeira vez que escuto Lina chamar Charlie de senhor Adams.

— Você não está enganada. Eu realmente a prezo muito. Mais tenho medo. A senhorita pode, a qualquer momento, se transformar em um peixe por qualquer descuido. Como poderei protegê-la?

— Tem um jeito para isso, para que eu fique na terra e envolve Nicolas. Uma forma que foi criada há muito tempo no Jardim, para que um homem apaixonado pudesse casar com uma sereia, você a conhece Lia, Ester. Naquela época, ela estava apaixonada por um Borboleta, nós nunca nos demos muito bem com os Borboletas, mas Ester estava apaixonada por ele. Ela foi até um mago que vive no jardim e ele a deu uma poção para que ela pudesse se transformar. Ester quebrou as regras para poder casar com ele, e depois que ele conseguiu o que queria, fugiu, e ela teve que viver com uma criança e asas em vez de sua calda. Então ela foi morar no castelo para ajudar a convencer as princesas.

— A criança era Nick?

— Ela o amava muito.

— Mas eu não posso voltar ao Jardim Lina, eles vão me matar. E acho que essa poção não deve ser encontrada aqui.

— Não precisa voltar, e eu nunca a pediria isso. A poção foi feita a base de algo que veio de alguém que passou por uma transformação drástica. Acho que poderemos reproduzir a poção com algo do Nick, pois ele passou um uma transformação quando arrancou as asas.

— O que estamos esperando? — Charlie perguntou.

— Não sei vocês, mais já estou indo. — Falo e saio do quarto. Lize está a minha espera sentada em uma cadeira.                

— Lia me desculpe pela forma como falei com você, estou com alguns problemas e você foi a primeira pessoa que achei para extravasar a raiva. – Lize me abraçou.

— Tudo bem, se eu conversasse mais com vocês saberia por que me tratou daquele jeito. — Falei e corri escada abaixo. Saí da casa, Charlie e Lina me seguindo. Entramos na floresta, a casa de Nick era um destino tão fácil que quando Charlie começou a se perder lembrei a primeira vez que estive naquela floresta e não consegui conter o sorriso.

— Lina, cuidado, essa terra é muito úmida e você pode... Ali! — Falo apontando para uma parte iluminada da floresta. Corro e começo a bater na porta.

— Nick abre aqui! Preciso da sua ajuda! – E com um baque a porta de madeira cai no chão. Eu sabia que isso ia cair qualquer dia desses. Olho para o único cômodo da casa, mas não encontro ninguém. Olho para mesa e vejo um buquê de tulipas vermelhas. Pego o buque nos braços e um pequeno papel cai.

Sinto ter que chegar até esse ponto, mas você não nos deixou escolha Lia. É melhor desenterrar o botão e voltar ao reino, porque mesmo ele sendo meu filho não posso perder minha vida. Já passei por muita coisa.

ASS: Ester.

P.S.: Lina, eu sei que também está lendo esse recado, eu sei de tudo, e espero que volte para casa, estamos sentindo sua falta, papai não vai gostar nada dessa história de você com um mortal, pior ainda, com um humano. Não quer seguir o exemplo de sua irmãzinha, não é? 

Capítulo reescrito/revisado em 13/10/2018. Se encontrar algum erro comente. 

A princesa das borboletasWhere stories live. Discover now