Capítulo vinte

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— O que você está fazendo aqui há essa hora, Lia? – Perguntou Nick coçando os olhos, ele devia estar dormindo antes que eu começasse a berrar na porta de sua casa.

— Precisamos conversar – falo entrando na cabana de madeira.

      — O que? – Ele perguntou sentando a minha frente.

— Descobri que você é o maior mentiroso que já existiu em todas as dimensões! – Falei, jogando o diário da princesa nele.

Ele segura o caderno. Folheia as páginas, relia a mesma página, como se aquele caderno guardasse todas as suas lembranças boas, que não lembrava há muito tempo. Passou alguns minutos até que ele soltar o ar tinha guardado dentro de si e apertou bem forte o caderninho contra o peito, como se estivesse o abraçando, e uma lagrima solitária começa a escorrer por seu rosto incrivelmente pálido.

— Como você conseguiu encontrar isso? Digo o diário? Achei que tinha escondido bem.

— Você nunca pretendia me contar que era apaixonado pela minha tia? — Pergunto.

— Acho que você não está entendo direito, eu não era apaixonado por sua tia, eu era apaixonado pela antiga princesa, Lira. O que está falando? - Ele perguntou confuso. Nick não sabe.

— Eu estava arrumando o sótão para poder usar aquele lugar para alguma coisa, então eu descobri um armário onde tinha um baú, eu não pretendia abri-lo, mas quando comecei a arrastar uns moveis e prendi meu pé em uma tábua solta com uma chave e o diário enfiado dentro. Então resolvi ler o diário para saber como tinha sido a vida dela. Mas quando comecei a ler vi que tudo o que você me disse era mentira. E a primeira coisa que eu ia fazer era vim para cá, mas tudo me impediu, então depois de três dias quando tentei vim para cá novamente meu pai mandou por uma roupa preta, pois íamos visitar minha mãe e minha tia no cemitério, eu não sabia quem era essa tia, eu nunca tinha visitado. Mas quando vi o túmulo tudo o que eu li no diário se entrelaçou com coisas que meu pai falou sobre a garota enterrada. – Eu já não conseguia mais segurar minhas lagrimas neste ponto da história.

— Lia, tenha calma, por favor. Sim eu gostava da Lira, mas ela se foi. Não vai voltar mais. Eu menti com medo de você ter alguma reação desse tipo. Porque ela está morta e o que passou, passou. Mas não sabia que ela era sua tia. Se eu soubesse eu... – O interrompi antes que ele pudesse acabar a frase:

— Se você soubesse não teria se aproximado? Porque se aproximou afinal? Eu não sou ela, e está claro que você o que você sente por mim não se compara ao que sentia por Lira! — Falo tentando ser dura, mas as lágrimas continuam escorrendo. Ele pode não sentir nada, mas eu sinto!

— Lia, é claro que não sinto a mesma coisa por você, é impossível ter o mesmo sentimento por pessoas diferentes. Você me lembra um pouco ela, mas... — Interrompo novamente.

        — Você só está comigo porque faço você lembrar-se dela? — Pergunto. — Achei que estivesse claro que não sou ela. Nunca serei. E nem pretendo ser. — Minha posição dura não fazia diferença alguma quando comparada a quantidade de lagrimas que já tinha desperdiçado.

— Lia, você não entende, é claro que eu gostava da Lira, ela foi parte da minha vida como Ester e Jane, mas você é especial para mim, você parece com ela, mas também têm qualidades únicas, qualidades que nunca vi em mais ninguém. Lembra no seu aniversário? Quando eu lhe dei aquele presente? Você demonstrou toda a sua felicidade com aquilo, Lira não fazia isso, ela era fechada e tinha medo de qualquer coisa que acontecesse. Ela tinha medo de perder qualquer coisa, e de que todas as emoções que demonstrassem fossem perdidas para sempre. Um dia cheguei de surpresa quando ela estava provando um vestido que Jane fez para ela. — Ele falou tentando guardando o riso. — Comecei a fazer cócegas nela e ela começou a puxar minhas asas para que eu parasse. Você é diferente, você é especial. Quando estou com você esqueço totalmente de Lira, daquele reino, esqueço-me de qualquer coisa. E dessa vez não sou citando Jane Austen, estou falando por conta própria.

— Como saberei que está falando a verdade? – Pergunto.

— Você, senhorita Lia Adams, é a pessoa mais especial do mundo para mim, e eu nunca magoaria você dessa forma por querer. – Ele respondeu, me abraçando. Assinto com a cabeça.

— Você nunca me contou como veio parar aqui. Pelo menos, não a verdade.

— Tudo começou no dia da coroação de Lira, eu era muito apaixonado por ela e sabia do que todos estavam tramando fazer: quando a coroa fosse colocada na cabeça dela, todo o seu Néctar seria sugado para reerguer o reino, era o que minha mãe sempre repetia. Mas eu a amava tanto que faria de tudo para que não fizessem isso, então fui até minha mãe e lhe disse "porque temos que fazer isso? Se ela ficar no Reino, ele não cairá, ela pode ser nossa rainha, mamãe" e então minha mãe respondeu com um sorriso no rosto "Nicolas, querido, essa ideia é ótima, essa princesa consegue erguer o reino mesmo sem dar seu Néctar" e eu, tolo do jeito que sou, acreditei em cada palavra de minha mãe, ela era a pessoa que eu mais confiava na vida.

"Pouco tempo antes da coroação, Lira estava muito nervosa, ela me entregou o caderno e pediu para que o guardasse, depois fiquei observando a coroação, ela finalmente ficaria no reino. Quando mamãe tirou a coroa que estava na cabeça da princesa e colocou outra, um brilho intenso pairou sobre ela, e então Lira caiu morta no chão. Corri até ela com o caderno ainda na minha mão, minha mãe disse "sinto muito, Nick, eu tinha que fazer isso" Lira estava quase desaparecendo, então girei o botão, que estava na mão dela, vindo parar no sótão. Tirei o vestido de Lira e coloquei uma roupa comum, quando descobriram que ela tinha morrido todos estavam aqui, inclusive sua mãe, você e sua família, mas não liguei as pessoas, o que é estranho, pois vi seu pai várias vezes e não associei que era o marido de Kelly.

"Eu observei o funeral de longe e fiquei escondido no sótão por algum tempo, até que seu tio me descobriu e começou a me criar como um filho, eu conseguia esconder as asas de todos, mas não dele, eu tive que contar toda a história para ele. Ele compreendeu tudo. Eu vivi naquela casa até seu tio morrer, então eu escondi o diário e a chave, tranquei o baú e deixei o recado no botão, que por sinal você não obedeceu."

— Se ela voltasse quem você escolheria? – Pergunto com medo da resposta. Ele hesitou por um minuto e depois falou:

— Você tem todas as qualidades dela e ainda mais! Eu seria o maior idiota do mundo se seguisse qualquer caminho que não fosse o seu. – Ele respondeu e me beijou. Lia mais que comportamento imprudente! Seria a fala da minha professora de etiqueta se me visse naquela situação.

— Preciso voltar para casa. — Falo me soltando dos braços de Nicolas.

Capítulo reescrito/revisado em 13/10/2018. Se algum erro for encontrado, comente. 

A princesa das borboletasWhere stories live. Discover now