Capítulo Treze

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            Todos já devem estar dormindo. Começo a andar em direção à porta de entrada, ninguém apareceu para me impedir então continuei pela porta e segui para floresta.

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            Entrei na floresta, a cada curva parecia estar mais perdida e sempre voltava para o mesmo lugar, até ver uma luz no meio da floresta, ela era tão fraca que parecia imperceptível, começo a andar em direção à luz, uma pequena casinha com duas janelas e uma porta entre as duas, parece até um desenho de uma criança, me aproximo e tento olhar por uma das janelas, mas tem algo tampando minha visão. Aproximo-me da porta e começo a abri-la cuidadosamente. A cena que vejo é tão horrenda que não consigo deixar de afastar os olhos da cena. O garoto sorridente que falou comigo no primeiro dia de aula, foi substituído por um menino choroso e triste, cortando suas asas. Espera um minuto. Asas?

            — Nick o que você está fazendo? — pergunto horrorizada com o que vejo.

            — Lia! — Ele finalmente me vê na porta. — Eu já disse pra você ficar longe, eu só... — ele seca as lágrimas que não param de escorrer.

            — Por que está cortando suas asas? Por que você tem asas? Pensei que Borboletas não pudessem atravessar! Você escolheu não ter asas! Nick... – Começo a fazer perguntas e indagações, estou muito confusa.

            — Lia, o que você está falando? Por favor, não me diga que você voltou para lá?

            — Voltei, mas... — Ele me interrompe.

            — Minha nossa Lia, te pedi para não voltar, você não pode acreditar no que dizem, eles são ruins! Eles não são o que parece!

            — Eu não teria voltado se você tivesse respondido minhas perguntas! — Respondo com raiva. Ele coloca um casaco que cobre suas asas, e senta em uma cadeira, como ele consegue esconde-las? Entro e sento em uma cadeira. Ele suspira e começa a falar:

            — Tudo começou quando Lira morreu, ela era uma mulher doce e sensível, mas tinha um marido muito inseguro e rigoroso, o casamento era arranjado e eles não se gostavam. — Ele cospe as palavras. — Ela descobriu o reino e sempre visitava o lugar, mas nunca foi para ficar. Ela podia não amar o seu marido, mas não queria abandonar sua família. Mas um dia o marido de Lira chegou bêbado em casa e quando ela perguntou o que estava acontecendo ele bateu nela. Um momento de raiva fez com que ela largasse tudo e decidisse ficar no Jardim. Quando ela contou a noticia para Ester ela logo marcou a coroação e quando a coroa foi colocada Lira sumiu, e o reino voltou a sua forma natural, belo e majestoso. O Jardim é abastecido por bondade e felicidade, todos conseguem transparecer que são bondosos, mas essas qualidades ficam guardadas dentro de nós, e no reino eles chamam de Néctar. Embora a bondade de Lira pudesse abastecer o reino sem precisa mata-la, Ester não poderia garantir que ela seria sempre bondosa e feliz, então eles extraem o Néctar e o espalham pelo Jardim.

            — Suas histórias não batem em ponto algum. Lira era uma criança, não uma adulta casada. Colin me contou que você... — Ele me interrompe de novo.

            — Ele estava mentindo Lia, será que tudo que acabei de falar não adiantou de nada? Não existe motivo algum para eu mentir, já estou aqui nesse mundo, não tem nada que eu faça que vá prejudicar aquele lugar.

            — Mas porque você estava cortando suas asas? E porque ainda continua jovem? Pelo que entendi Lira morreu a pelo menos oito anos.

            — quando vi o que fizeram com ela fiquei horrorizado, então vim para o mundo real, e quando passei continuei com minhas asas, achei que pudesse ficar escondendo elas, mas se passou algum tempo e reparei que eu continuava com a mesma aparência, então eu comecei a tentar tirar as asas que era a única coisa que ainda me ligava ao Jardim, e então vi que funcionou, comecei a cortar as asas desde então, mas a dor é insuportável, como se eu estivesse enfiando facas nas minhas costas, então não consigo ir muito longe. Quando eu conseguir tira-las poderei ser como você.

            — Mas se tudo isso é verdade, porque não me contou antes? Eu poderia ter morrido. Você sabia que eu estava indo para lá, eu tentei te levar. Sabe quantas vezes, nesse pouco tempo em que estou morando aqui, eu cogitei a ideia de ficar lá? — pergunto engasgando com as lágrimas.

            — Eu sinto muito Lia, eu não queria que... — Ele levanta e vem em minha direção para me abraçar, mas eu levanto da cadeira e começo a correr pela floresta.

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            Eu odeio essa floresta, penso enquanto tento sair do labirinto. Paro e me escoro em uma árvore, começo a procurar alguma luz que saia de dentro da casa. Não aguento mais correr. Finalmente começo a sair da floresta, e ver minha casa. Corro até chegar a um campo liso e começo a cavar, não posso deixar mais ninguém passar por isso, eles não poderão fazer outra pessoa sofrer. Quando o buraco parece fundo o bastante, tiro o colar do pescoço e o coloco dentro, tapo o buraco com areia e busco algumas pedras para marcar o lugar. Solto o ar que não sabia estar segurando, deito na grama e olho para o céu, eu não me lembro de ter, algum dia, parado para ver as estrelas. São realmente lindas. Levanto do chão, limpo o vestido e começo a ir para casa, abro a porta, ninguém na sala, continuo em direção ao meu quarto, ninguém no corredor, entro no meu quarto e coloco uma camisola, ninguém mais, inclusive eu, sofrerá com quaisquer que seja o final dessa história horrenda

capítulo revisado/reescrita dia 11/08/2017, se eu encontrar algum erro, por favor comente.

A princesa das borboletasWhere stories live. Discover now