Capítulo 26

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Mais uma audiência estava para se realizar, e, dessa vez, Theo seria ouvido.

O dia ainda nem havia raiado quando o menino ouviu um ruído estranho em seu quarto e quase desmaiou de susto no momento em que Niall pulou sobre ele.

— Nem um pio! — sussurrou o tio, tapando-lhe a boca com uma das mãos. — Só vim aqui para lhe dar um aviso: muito cuidado com o que vai dizer mais tarde.

Da mesma forma como veio, partiu.  Theo ficou sozinho, fitando o teto escuro, com medo até de pensar. Não conseguiu mais dormir e ficou acordado até que a mãe viesse chamá-lo. Desde cedo, começou a passar mal. Sentiu dor de barriga, vomitou, chegou até a urinar nas calças. Estava apavorado.

— Não precisa se preocupar — tranqüilizou a mãe. — Fale a verdade e vai dar tudo certo. Não tenha medo de Zayn. O juiz não vai permitir que ele o machuque mais.

Como dizer a ela que não era Zayn que ele temia, mas o tio? Como contar que Zayn nunca foi nada além de seu amigo, ao contrário de Niall, além de o violentar, aterrorizava-o todos os dias, ameaçando matar a ele e a Zayn?

— Não tenho medo de Zayn, mãe — admitiu.

— Você é um menino muito corajoso — elogiou, beijando-o na bochecha. — E é um homem de verdade!

Não era.

Theo não se sentia um homem. Sentia-se um menino, uma criança frágil e indefesa. Por que a mãe exigia dele atitudes que estavam além de suas forças?

— Está pronto? — era a voz de Greg que chegou para buscá-lo — Não devemos nos atrasar.

Denise ajeitou a gola da camisa do filho e deu-lhe novo beijo no rosto.

— Tem certeza de que ele precisa ir?— indagou ao marido, bastante aborrecida com aqueles procedimentos judiciais— Ele já disse tudo à polícia. Vai ser difícil ter de relembrar e repetir tudo novamente.

— A defensoria insiste. É um direito seu.

— Mas que coisa! Que falta de sensibilidade.

— Não se esqueça de que foi você quem insistiu para que fosse assim. Ou pensou que Zayn seria logo acusado, condenado e preso, sem nenhuma chance de defesa? Agora você não tem do que reclamar.

Pai e filho foram tomar o carro, enquanto Niall os espiava da janela de seu quarto. Não queria aparecer diante do cunhado. Sabia que Greg estava de olho nele e não queria que pensasse que ele estava pressionando o menino.

Quando a audiência começou, o juiz mandou que Zayn saísse e começou o interrogatório, tendo a seu lado os espíritos de Doniya e de Harry.

— Theo, quero saber se você compreende bem o que está acontecendo aqui. Você compreende?

— Compreendo.

— Muito bem. Aquele homem que saiu daqui há pouco, o senhor Zayn Jawaad Malik, está sendo acusado de haver violentado você. Isso é exato?

— Sim, senhor.

— Você mesmo o acusou, não foi?

— Foi.

— Pode me contar como foi que tudo aconteceu?

— Ele... ele... entrou em meu quarto... — começou a choramingar, e o pai abraçou-o.

O juiz mandou que trouxessem água para o menino. Esperou pacientemente até que ele bebesse tudo, para depois prosseguir:

— Sente-se bem? Podemos continuar? — O menino fez que sim. — Muito bem. Do que você se lembra daquela noite?

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