XVI

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No dia seguinte, ao meio-dia, Liam partiu com seus pais de volta ao Brasil. Os tios haviam ido levá-lo ao aeroporto e pareciam felizes com sua partida.

Alex despediu-se em casa. Estava magoado com o primo, julgando-o culpado por seu rompimento com Doniya.

No outro dia, Zayn teria alta do hospital, e Doniya estava preocupada com seu destino. Não sabia o que fazer para ajudá-lo. Liam disse que lhe mandaria dinheiro para colaborar com o sustento de Zayn, mas onde ela iria colocá-lo para viver? Faltavam apenas quinze dias para o começo das aulas, o que ela considerava até um alívio.

Zayn também deveria voltar para a escola, mas ela achava que o pai não permitiria.

A história vazou, como era de se esperar, e alguns vizinhos cochichavam entre si, apontando Yasser com deboche ou com piedade. Isso só servia para irritá-lo ainda mais.

Passados apenas poucos dias do ocorrido, parecia que ele havia redobrado seu ódio.

Trisha, por sua vez, só o que fazia era rezar. Diante do pequenino altar montado em seu quarto, rezava para que Deus protegesse seu filho, lhe desse juízo e o fizesse arrepender-se de seus erros, retornando ao bom caminho. Quem sabe, assim, Yasser não o aceitaria de volta? Doniya assistia a essas rezas com mal disfarçado desdém. Não que desacreditasse do poder da oração ou dos santos. Só não conseguia acreditar que Zayn houvesse cometido algum pecado que necessitasse de piedade ou reparação.

Ela havia ido ao hospital de manhã e agora estava sentada na sala, ajudando a mãe com as costuras, quando o telefone tocou. Yasser veio correndo atender e quase explodiu de ódio ao ouvir a voz debochada de Louis:

— E então, seu Yasser? Já descobriu o casinho de Zayn?— Riu. — Eu tinha ou não tinha razão?

Louis não sabia o que havia acontecido, e Yasser não conseguiu se controlar. Estava com raiva, frustrado, deprimido. Eram tantos sentimentos ao mesmo tempo, que ele parecia um caldeirão em ebulição.

— Seu moleque! — Gritou. — Destruiu nossa vida! Não está satisfeito?

— Destruí? Mas eu não fiz nada...

— Veado!

Yasser bateu o telefone com fúria e sentou-se no sofá, chorando desconsolado. Um minuto depois, o telefone tocou novamente, e Doniya correu para atender. O pai não estava mais em condições de fazê-lo.

— Alô? — Disse ela, mas Louis não respondeu.— Por que não nos deixa em paz, Louis? Já conseguiu o que queria. Meu irmão está no hospital por sua causa. Não está satisfeito?

Louis desligou. Não precisava ouvir mais nada. Conseguiu mesmo o que queria. Vingara-se daquele cretino e da bichinha sua amante. Mas não estava satisfeito. Precisava descobrir em que hospital Zayn estava.

Queria vê-lo pessoalmente, rir na cara dele, apontar-lhe o dedo e dizer-lhe: Viu? Quem mandou mexer comigo? Estava irrequieto. Saíra do trabalho mais cedo, alegando dor de cabeça. Já faltou muito naquele mês, e o chefe estava de olho nele. Mais um pouco e levaria uma justa causa. Precisava se cuidar, mas não podia perder aquela oportunidade.

Apanhou as Páginas Amarelas e começou a procurar os telefones dos hospitais mais próximos. Um a um, foi telefonando, dando o nome de Zayn, até que encontrou o que procurava. No dia seguinte, faria uma visitinha ao rapaz.

No horário de visitas, o movimento deveria ser grande, e ninguém barraria sua entrada. Tão pouco o conheciam, de forma que não teria problemas. E, ainda que alguém o conhecesse, o que poderiam fazer contra ele? Não podiam acusá-lo de nada.

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