XV

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O telefone tocou e Doniya atendeu com agressividade, certa de que ouviu a voz debochada de Louis do outro lado. Para sua surpresa, porém, não foi Louis quem ligou, mas Liam, que sussurrou bem baixinho:

— Quem fala? É Doniya?

— Liam! Que bom que ligou!

— Queria mesmo falar com você. Preciso ver Zayn.

— Onde está?

— Na casa de meus tios. Meus pais chegaram hoje cedo, e partiremos amanhã. Mas não posso ir sem falar com Zayn.

— Não sei se será possível. Ele está no hospital.

— Por favor, leve-me até lá. Não posso ir embora e deixá-lo como se nada tivesse acontecido.

Doniya considerou por alguns segundos. Podia imaginar o que ele estava sentindo, quanto deveria estar sofrendo. Partir para longe, sem se despedir de quem amava, deveria ser muito duro.

Mas o pai ficaria furioso se soubesse que ela levou Liam até o hospital. Ou talvez não. O pai renegara Zayn, dizia que, dali em diante, não queria mais saber dele, que não tinha mais filho. Se era assim, não se incomodaria se Liam fosse visitá-lo. Nem tomaria conhecimento. E, se tomasse, pouco importava. Ele já não tinha mais ascendência sobre Zayn, mesmo.

— Está certo! — Concordou ela, finalmente. -?Mas a hora da visita já passou.

— Não há nenhum jeito?

— Bom, eu fiquei de voltar mais tarde para falar com o médico. Quer ir comigo?

— Quero.

— Está certo, então. Mas não estou prometendo que você possa vê-lo. Vai depender do médico, se ele autorizar ou não.

— Vou arriscar.

— Bom. Vamos nos encontrar mais tarde na porta do hospital. — Deu-lhe o endereço. — Sabe onde fica?

— Eu descubro.

— Muito bem. Espero-o às oito horas. Não se atrase. Se você se atrasar, entrarei sozinha.

— Não se preocupe, não me atrasarei.

Desligaram.

Doniya ficou pensativa, imaginando o que os pais de Liam teriam dito daquilo tudo. Pelo que ela sabia, eles eram pessoas avançadas e liberais, mas ela não imaginava até onde ia a liberalidade deles.

Jantou mais cedo naquela noite e saiu sem falar com ninguém. Não queria ouvir as lamúrias da mãe nem as censuras do pai.

O hospital era perto, e ela tomou um ônibus. Poucos minutos depois, descia em sua porta. Ainda faltavam vinte minutos para as oito, mas Liam já estava lá, consultando o relógio a todo instante.

Logo que ele a viu, correu ao seu encontro e abraçou-a com efusão, deixando que as lágrimas escorressem de seus olhos.

— Doniya...— Balbuciou.

— Eu sinto tanto!

— Eu sei. Também sinto.

— A culpa foi minha...

— Não diga isso.

— Foi, sim. Zayn era um garoto normal até me conhecer. Fui eu que o iniciei nessa vida.

— Muito me admira ouvir você falar desse jeito. Logo você, que sempre teve a mente tão aberta.

— Jamais poderia imaginar que as coisas chegariam a esse ponto. Ah! se eu não o tivesse seduzido...

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