VII

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Na terça-feira à tarde, o telefone tocou e Zayn levantou os olhos do livro que estava lendo, apurando os ouvidos. Ouviu os passos da mãe aproximando-se pelo corredor e susteve a respiração. Em poucos segundos, a porta entreabriu-se de leve e a voz de Trisha anunciou:

- Telefone para você. É Liam, o primo de Alex.

Tentando não demonstrar excessiva ansiedade, Zayn balançou a cabeça e levantou-se da escrivaninha.

Sorriu para a mãe e atravessou o corredor, coração aos pulos, morrendo de medo de que a mãe percebesse sua euforia.

Quando atendeu, esforçou-se para tornar a voz o mais casual possível:

- Alô?

- Alô! Zayn? Sou eu, Liam.

- Oi, Liam. Tudo bem?

- Muito bem. Estou atrapalhando?

- Não, claro que não.

- Ótimo. Estive pensando... Não gostaria de ir ao cinema hoje?

- Hoje? Não sei. Meu pai não gosta de que eu saia nos dias de semana.

- Ah, que pena! Pensei que pudéssemos conversar. Há uma lanchonete ótima onde poderíamos ir depois.

- Eu gostaria, mas não sei se vai dar.

- É mesmo uma pena, mas enfim... Fica para uma próxima vez, então.

Antes que desligasse, Zayn falou apressado:

-Espere! Não desligue ainda. Vamos fazer o seguinte: meu pai vem do trabalho lá pelas seis horas. Quando ele chegar, peço a ele. Se ele deixar, ligo para você de volta. Se não, deixamos para outra ocasião. Combinado?

- Combinado! - respondeu Liam rapidamente.

Desligaram.

Zayn percebeu que, assim como ele, Liam também estava ansioso, e ficou perguntando-se por quê. No fundo, ele bem que sabia.

Liam estava interessado nele e deveria pensar nele com frequência, assim como Zayn também pensava em Liam.

Mas o que diria o pai se desconfiasse daquilo? Yasser jamais poderia desconfiar. Não havia nem motivo.

Zayn falaria com ele e pediria para sair com Liam, e talvez ele deixasse, pensando que seria uma ótima oportunidade para que Zayn se entrosasse com um rapaz educado como Liam e, quem sabe, juntos, não poderiam arranjar namoradas? Efetivamente, foi o que aconteceu.

Ao saber do convite de Liam, Yasser deu um sorriso maroto e considerou:

- Aquele é muito esperto. Nem bem chegou aqui e já está querendo companhia para ir à caça das meninas.

Zayn achou aquela expressão terrivelmente vulgar, mas não disse nada.

Sem dúvida, as meninas mereciam mais respeito, pois não eram animais para serem caçados, mas era assim que Yasser entendia a noção de masculinidade. O verdadeiro homem, para ele, o macho, como dizia, era avaliado pela quantidade de mulheres com quem dormia. Zayn escondeu uma careta de repulsa e indagou ansioso:

- Quer dizer que posso ir?

- Pode. Mas só porque é com Liam, que é primo do namorado de sua irmã, um rapaz de bem, uma ótima amizade para você. Tenho certeza de que ele, no mínimo, vai ensiná-lo a paquerar.

Como estava enganado! Liam não lhe dissera nada, mas Zayn sabia o que ele estava pretendendo. Pediu licença ao pai e foi telefonar. Quando Liam atendeu, Zayn foi logo falando, mal contendo a euforia:

- Tudo combinado. Meu pai concordou.

Liam, do outro lado da linha, deixou escapar um sorriso de alívio e satisfação, e finalizou:

- Passo em sua casa às sete e meia. Pegamos a sessão das oito e depois vamos à lanchonete. Está bom assim?

- Está.

Assim que Liam pousou o fone no gancho, Alex entrou na sala e viu o primo parado perto da mesinha do telefone. Cumprimentou-o com um sorriso e indagou curioso:

- Por que essa cara de felicidade? Já arranjou uma namoradinha?

O outro fez um ar enigmático e objetou:

- Ainda não descobri nenhuma garota interessante.

- Não?

Alex queria perguntar com quem ele estava falando ao telefone, mas não teve coragem.

Liam foi logo esclarecendo:

- Não. Eu estava falando com Zayn.

- Zayn? Irmão de minha namorada?

- Esse mesmo. Convidei-o para ir ao cinema e depois à lanchonete.

- Não diga! E o pai dele deixou?

- Deixou.

- Bom, fico feliz que tenha arranjado um amigo. Mas não vá se animando muito. Se pensa que arranjou uma companhia para paquerar, pode esquecer. Doniya diz que ele é tímido e retraído. Além disso, é mais novo do que você. Pode acabar atrapalhando.

- Quantos anos ele tem?

- Fez catorze há poucos dias.

- Isso não importa. - disse Liam, com ar alheado.

- E não creio que ele vá me atrapalhar. Há garotas de todas as idades por aí.

- Bom, você é quem sabe. De qualquer forma, é melhor sair com ele do que ficar em casa. Não posso ficar lhe dando atenção o tempo todo.

- Nem eu queria que você ficasse de babá. Já sou grandinho e posso me virar.

- Talvez seja até bom você e Zayn fazerem amizade. Quem sabe você não ajuda o menino a se soltar?

- Farei isso. - Concluiu com ar sonhador.

As sete e quinze, Liam bateu à porta da casa de Zayn. Doniya atendeu e demonstrou genuína alegria ao deparar com o rapaz.

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