22 - Aparências e embates (Parte 01)

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— É possível trazê-la de volta? Supondo que você não lhe faça nenhum pedido, há como restaurar sua condição humana?

O Antigo encarou o Lenmenthe. Estava estranhamente comunicativo. Henrique quase nunca começava uma conversa, quanto mais um interrogatório como aquele. Observou-o detidamente. Havia algo diferente nele, não conseguia identificar o que era. Analisou o rosto de Perna de Magia e Irene. Eles permaneciam sem reação, o semblante perdido, encarando o ar.

— Se é possível eu não sei, Henrique. Mas ela não era um ser humano. Era um reles Coração de Magia, uma boneca que fingia ter sentimentos. Sob esse ponto de vista, ela merece mais é morrer mesmo. Assim como aquela idiota chamada Renata, que apenas atrasou meus planos.

Daí em diante tudo aconteceu muito rápido. Enquanto a expressão de Henrique mudava para descrença e os lábios de Irene se crispavam, um vulto passou como pé de vento por eles. Antes que o próprio Elias pudesse registrar, um soco já havia explodido em meio ao seu peito, atirando-o vários metros para trás. Toni notou o Coração de Magia do Omag se apagando no processo, mas mal deu atenção. Ainda ofegava de ódio, a mão pura energia brilhante. Rilhava os dentes com tanta força que a mandíbula estava dolorida. O braço que infligira o impacto estava dormente, mas Toni o sacudiu em fúria.

Elias não conseguiu evitar cair estatelado no chão. O oxigênio escapara-lhe completamente dos pulmões, e a respiração chiada fazia força para trazer-lhe algum ar. Assim que se reestabeleceu, imediatamente começou a rir. Toni teve ímpetos de correr para cima dele mais uma vez, porém Irene e Henrique, postando-se um de cada lado, seguraram seus antebraços.

— Espere — Irene lhe sussurrou, envolvendo seu bíceps com firmeza.

O Omag gargalhava, a voz retomando a força. Levantou-se aos poucos, como se aproveitando o momento. Totalmente ereto, encarou os três com um sorriso divertido, mas também sarcástico.

— Ora, mas eu sabia! Sabia que tinha algo errado com você, Henrique. Você não sabe como disfarçar bem, rapaz — arreliou o homem, esfregando o peito. — Perna de Magia é bem parecido com a irmã. É só ouvir uns poucos insultos e já perde a cabeça. Contudo, eu jamais poderia supor que alguém conseguiria quebrar minha Spell tão facilmente. Não só isso, mas impregnar Henrique com magia, para que eu não notasse a ausência dela. Meus parabéns, Irene.

Foi a vez de Irene devolver o sorriso irônico.

— Obrigada, Elias, mas não fui eu.

Elias franziu o cenho, sem entender.

— Bom, é claro que a parte de impregnar o moleque com magia foi ideia minha. Pena que não adiantou muito, porque ele é um péssimo ator. Mas não fui eu quem quebrou a magia.

Elias olhou automaticamente para Toni, a descrença estampada no rosto, como um farol.

— Isso é impossível... Como...?

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— Errado. Eu não conversei com ela naquele dia. Eu nunca falei com ela sobre o que aconteceu. Você está descrevendo o que eu gostaria que tivesse acontecido.

Toni e Ren ficaram se medindo com o olhar. Agora Toni percebia que havia algo essencial que estava incorreto. Os olhos de Ren não lhe diziam nada, e deveriam lhe dizer tudo. Ela apenas o encarava com um semblante idiótico, como se não soubesse mais o que dizer. Por fim, deixou a máscara cair e soltou um sorriso derrotado. Não se preocupou mais em esconder o martelo.

— É. Você me pegou. Isso é muito chato.

— É você, não é, Henrique? Você quer me matar e eu é que sou chato?

Perna de MagiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora