14 - Elementais, artefatos e conjurações

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— Por favor, Haurir Constante! Não nos é permitido realizar pactos no momento! Por favor, não faça isso! Peço-lhe, aguarde até que a confabulação de nosso conselho se inicie e finde!

Elias não deu atenção à pequena ondina caída à sua frente, de quem continuava a extrair toda a energia mágica. Ela já não tinha mais magia suficiente para manter as pernas com a solidez necessária, portanto, a água que formava a parte inferior de seu tronco havia desaparecido, absorvida pelo solo.

Encontravam-se num espaço aberto, um campo coberto por uma vegetação rasteira, muito próximos de um barranco. O oásis dos ondinas podia ser visto não muito longe dali, e a criatura líquida tinha deixado-o para recepcionar um elemental de terra errante que, aparentemente, havia saído um pouco da rota. A reunião do conselho aconteceria dali a algumas horas, mas ela e o elemental de terra foram emboscados pelo Omag e por um jovem Lenmenthe.

— Haurir Constante, eu não poderia fazer um acordo mesmo que assim o desejasse. Sinto que você já possui pactos com um flamine e um silfo. É terminantemente contra as regras um pacto com mais de um elemental!

Elias continuou sem lhe dar ouvidos, a água escoando cada vez mais do corpo da ondina, subindo em direção ao seu peito. A elemental de água observava com horror seu corpo desvanecendo, os fios cobaltos de sua magia sendo absorvidos pelo homem à sua frente, a expressão dele neutra, sem a menor alteração diante de suas súplicas. Ela não sabia mais como argumentar com ele, só sentia o medo crescente em seu âmago.

— Vamos, pequena, eu posso continuar com isso o dia todo, mas não tenho tanto tempo assim. Sinto a aproximação de sua compatriota.

A ondina não entendeu bem do que o Haurir Constante falava, mas nesse momento sua atenção foi desviada para um ser gigantesco que se aproximava, trazendo um rapazinho sobre os enormes ombros. Pedregulhos e poeira caíam de seu maciço corpo conforme caminhava. A expressão era dura, quase como a de uma estátua. Um golem.

— E então, Henrique? Como foi com o elemental de terra? Fácil?

— Não. Não tão fácil. Realmente não é trabalho pra qualquer um. É uma mente simples, com mais instintos que pensamentos. É fácil controlar pensamentos, não instintos. Tive que fazer uma "gambiarra", sumir com um conhecimento ali, uma convicção acolá... É preciso confundir a ética deles também. Tudo isso de modo a harmonizar com a base do ego. E já aviso, a gambiarra não vai durar muito.

— Oh, é mesmo? Então, mudemos o foco.

A ondina presenciou, incapaz de fazer qualquer coisa, Elias conversar com o elemental de terra, e ficou embasbacada quando este entregou seu artefato, que selava o pacto. Arrancou um enorme torrão de pedra do próprio braço e o envolveu em magia soprada de sua boca quase rígida. O objeto brilhou numa cor amarela e assumiu um aspecto esférico. O Omag então o tomou em mãos. A elemental de água não compreendia como o Lenmenthe havia conseguido influenciar o golem daquela maneira.

Quando Elias terminou seus negócios e se voltou mais uma vez para a ondina, esta sentiu o medo mais absoluto que um ser mágico podia sentir. Temeu a sua simples aproximação. Ele não respeitava as regras, além de poder eliminá-la da existência ou dominar seu interior. Foi então que entendeu que nada o demoveria de seu intento.

Sem alternativas, ela entregou sua própria esfera de poder, sem pestanejar.

Respirou aliviada quando os dois se afastaram, o mais jovem olhando para trás, pesaroso.

Depois de alguns minutos tensos, onde ela aguardou para ter certeza de que eles não voltariam, observou o estrago em si mesma. Só a parte de cima do tronco havia restado, onde a magia circulava debilmente.

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