CAPÍTULO 20

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PARTE 38

— Posso fazer uma pergunta ? — Sarah suspirou e encarou Anthony seriamente.

— Claro, claro que pode. Eu disse algo errado? Ficou séria.

— Não, eu só queria saber o que você vê em mim.

Anthony ficou parado por um tempo, pensando em uma resposta plausível, uma resposta que realmente expressasse tudo o que ele via nela. Ele sabia que era péssimo em mostrar ou falar sobre aquilo que sentia. Dar diagnósticos era algo bem mais fácil do que falar sobre como é estar gostando de alguém.

— Eu.. não sei explicar com palavras, eu acho. Sou péssimo nisso.

— Que tal usar seus termos clínicos para tentar ?

— Toda vez que fico perto de você, este pequeno músculo dentro do meu peito arde em chamas e se contrai enlouquecidamente. Meus neurônios fazem sinapses a todo instante fazendo meu corpo trabalhar de uma forma diferente, de uma forma que eu jamais havia sentido antes. — Assim que parou de falar notou que ela o olhava completamente confusa. — E você não entendeu nada não é.

— Obviamente, não. Mas acredito que tudo isso que você tenha dito deva expressar algo bem bonito. — Sarah riu e bebeu o último gole do chá que havia pedido.

O jeito que ela sorria era encantador, era como ouvir os batimentos rítmicos de um coração saudável em plena juventude.

— Bom, vamos embora ? Já esta tarde.

— Vamos sim, eu chamo um táxi para você.

— Esta bem, obrigada.

Saíram da cafeteria e ficaram sentados na calçada da frente do prédio de Anthony esperando que o taxi chegasse. A rua estava vazia e o silêncio tomou conta.
Sarah sentou ao lado de Anthony, próximo o bastante a ponto de ambos ouvirem suas próprias respirações.

— Consegue ouvir ?

— Ouvir o que ?

— Shh, você precisa ficar em silêncio, pra conseguir ouvir. — Despois de alguns minutos de Silencio, Anthony sorriu e disse:

— Você tem o som cardíaco fisiológico em dois tempos mais lindo que eu já auscultei em toda a minha vida.

PARTE 39 — ANTHONY NARRANDO

Sarah foi embora, e assim que a vi entrar no taxi senti como se meu coração tivesse sido partido ao meio. Sei que é estranho, e também não consigo explicar isso de uma maneira simples.

Assim que entrei em casa peguei o celular e não pude resistir à vontade de lhe mandar uma mensagem de texto.

"Ei Jones, sei que saiu daqui à pouco, mas estava pensando em leva-la a um lugar diferente amanha. Busco você depois do meu plantão, por volta das 18:00hr, combinado ?"

Talvez seja paranoia, mas os 3 minutos em que estive esperando pela resposta pareceram uma eternidade.

"Doutor Johnson, já com saudades? Risos. Amanhã lhe espero então, até breve, tenha bons sonhos."

Eu queria muito conseguir encontrar em livros uma explicação plausível, é estranho passar grande parte da vida tendo o controle de milhares de corações e de repente descobrir que não posso controlar o meu.

Nos últimos dias descobri que nem tudo é anatomicamente perfeito e, que o sentido da vida não se resume a 5' 3' (sentido da síntese do DNA, mas obviamente ninguém entende isso), o sentido da vida envolve coisas que vão bem mais além dos ensinamentos que me foram passados.

O fato de não saber algo me deixa completamente assustado, talvez por isso eu tente incansavelmente negar para mim mesmo.
Eu vivia tentando esconder na profundidade de minha alma, algo muito além do meu entendimento anatômico científico.

Talvez ela não consiga entender ou conviver com meu jeito auto protetor. Sei que meus olhos, além de nitidamente obscuros, são o berço de um mistério cuja profundidade vai muito além do alcance de qualquer um que tente decifra-lo. Nunca me senti ameaçado antes de fixar meu olhar do dela. Mesmo com toda obscuridade, é como se ela pudesse transcrever poesia sobre tudo que vê.

Café, insônia, mistério e... anatomia?Where stories live. Discover now