CAPÍTULO 3 - APRESENTANDO SARAH

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Escorou-se na janela do quarto de hospital e pode notar quão bela estava a lua. Pensou no romance com o Sol e conclui que achava incrivelmente fascinante ver como dois seres podem se amar incondicionalmente mesmo distantes, mesmo que precisassem esperar décadas para finalmente se reencontrarem, neste caso um eclipse.

Mas Sarah sabia que isso existia apenas nas poesias ou nos romances que lia durantes as tardes chuvosas enquanto trabalhava na biblioteca  da faculdade em horas vagas. 

Desde pequena amou os livros porque se sentia livre. Esquecia do mundo enquanto lia e se tornava parte da historia. Viveu grandes aventuras dentro do seu próprio quarto com seu livro na mão.

A faculdade de literatura foi a escolha mais sensata que ela havia feito. Nunca se importou em ter um emprego que lhe trouxesse riquezas, mas sim em achar maneiras de fazer com que lendas como Sr. Shakespeare estivessem sempre presentes em sua vida. 

Além do amor pelos livros, seus dedos tinham grande encanto pelas teclas de um piano. Pensava na beleza dos poemas e os transformava em música. 

De todos os seus desejos e sonhos, nada superava a vontade de encontrar o grande amor. Depois de tanto procurar e perder as esperanças , pensou que seu Romeu poderia ter se perdido por Verona, ou morrido envenenado, ou caído enquanto tentava subir a varanda de seu quarto.

Quando Sarah acordou com o sol em seu rosto, olhou imediatamente para o relógio e levantou apressada da cadeira onde havia caído no sono, se aproximou da mãe e deu-lhe um beijo antes de sair.

A biblioteca não costuma ter muito movimento, normalmente é frequentada por alunos que gostam de sossego e silêncio. Sentiu vontade de tocar piano mas só podia fazer isso aos sábados quando o local estava vazio.

Abriu Romeu e Julieta pela milésima vez em busca de suas partes favoritas.

Sentia-se uma Julieta cansada de esperar  seu Romeu escorada na varanda por anos. Como diria mestre Shakespeare, "É canseira inútil procurar quem não quer ser encontrado" . Suspirou e sussurrou baixinho citando a frase: " Se o amor é cego, nunca acerta o alvo.

Enquanto andava pelos corredores da faculdade lembrando dos tempos de em que estudou por la, sentiu falta de quando estar em um laboratório bastava para que ele estivesse feliz.

Entrou na biblioteca e andou até a mesa para pedir informações.

— Bom dia, sou ex aluno, gostaria de ter acesso ao livro de cardiologia de Christopher  Cannon, ele tem uma capa de cor... — parou de falar assim que viu a moça que antes estava virada para um computador virar-se para ele.

— Doutor Anthony, que surpresa vê-lo por aqui, eu não sabia que tinha se formado nessa faculdade. Eu nem tive tempo de me apresentar ou de lhe agradecer, você operou minha mãe, Maria. Eu me chamo.  —  Anthony a interrompeu.

— Sarah.. Eu sei, conheço você. — Esboçou um sorriso simpático e viu um exemplar de Shakespeare sobre a mesa. —Você gosta ? andei lendo, mas é meio confuso para mim, não parece nada com os livros que eu costumo ler.

 — Sim eu gosto, passo boa parte do meu tempo relendo este livro, é especial pra mim. Imagino que o senhor não tenha tempo para leituras deste tipo. — Anthony pode ver o rosto dela corar enquanto falava sem fazer contato visual diretamente com seus olhos.

— Pode me Chamar de Anthony, convenhamos, não sou assim tão mais velho que você.

Anthony viu Sarah rir e ficar ainda mais sem jeito. Ela tinha um jeitinho meigo de sorrir, os cabelos presos em um coque solto e os óculos arredondados a deixavam com cara de alguém extremamente intelectual. 

Não muito diferente dele que costumava usar camisas e blazers quase todo dia, as vezes usava gravatas também. O óculos fazia seu semblante sério se tornar mais intenso.

 — Tenho 22 anos Doutor.. digo, Anthony. Também não sou tão jovem quanto pareço ser. —  disse enquanto se virava novamente para o computador e procurava o numero da prateleira do livro que ele havia pedido.

— Encontrei, mas só temos um exemplar do livro aqui na biblioteca e ele é pra consulta local, não pode leva-lo. — Anthony suspirou e depois de pensar por alguns segundos concluiu.

— Bom, talvez isso seja interessante, estou fazendo uma pesquisa então vou precisar vir mais por aqui, parece que vou te encontrar mais vezes. —  Sorriu e a viu sair de trás da mesa e andar em direção as prateleiras e então a seguiu.

— Vou lhe mostrar onde ele fica, caso eu não esteja por aqui já sabe . —  Sarah parou diante dos livros deixou que seus dedos percorressem um a um em busca do que procurava.

Anthony se aproximou a observou cada simples movimento, o jeito que tocava os livros era magnifico, como se fossem preciosidades.

Antes que pudesse perceber eles já estavam perto demais um do outro. Podiam sentir suas respirações se misturando e quando pensaram em se aproximar ainda mais um livro tombou da prateleira fazendo com que se afastassem.

— É.. este aqui.. o livro que você esta procurando. — Viu Sarah se abaixar e pega-lo colocando de volta no lugar .

— Eu preciso ir, nos vemos no hospital e, aqui, vou voltar .. por causa da pesquisa, você sabe.

— Sim, claro a pesquisa, a gente se vê, Anthony

.— A gente se vê, Sarah.. —  Depois de alguns longos segundos se olhando em silêncio, Anthony virou-se e andou em direção a porta saindo da biblioteca.

Café, insônia, mistério e... anatomia?Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu