CAPITULO 1

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Acorda-se transpirando, ofegante, podia sentir o sangue correr mais rápido em suas próprias veias, fervendo.

Como é para você, Anthony ?  Sentir que pela primeira vez você não pode controlar e nem salvar um coração; e que pra piorar, é o seu.

Eu poderia procurar um milhão de maneiras de tentar explicar isto cientificamente, mas morreria tentando. E mesmo antes de começar a procurar eu já saberia que jamais iria conseguir uma explicação para o "amor".

Desligou o chuveiro e depois de se arrumar partiu exausto pra mais um dia longo de trabalho, saiu sentindo que algo seria diferente.

— Doutor, temos um caso grave no setor 7. Mulher, 55 anos, ataque cardíaco, precisamos que o senhor suba imediatamente, vamos opera-la. — disse a enfermeira com a voz nitidamente apressada.  Anthony levantou-se rapidamente e se dirigiu ao setor no andar superior.

— Precisamos que um familiar assine a autorização para a cirurgia, temos um familiar presente ? — disse entregando os papeis para a enfermeira e quase de imediato ouviu uma voz com tom desesperado.

— Sou filha dela, o que aconteceu com minha mãe ? — virou-se e ela estava lá, em sua frente. Obviamente foi nesse momento que Anthony esqueceu por completo o porquê de estar ali.

— Doutor ? Doutor esta tudo bem ? — ouvia os chamados de longe  enquanto sentia seu mundo se dividindo entre a realidade e um universo paralelo onde só estavam ele e ela.

— O senhor precisa ir Doutor, a paciente não esta reagindo. — despertou do transe e se viu sendo arrastado pelas enfermeiras para dentro da sala de cirurgia. No caminho, tudo que conseguia pensar era que ela tinha olhos lindos e concluiu que poderia olha-la por horas sem se quer precisar piscar.

Assumiu seu dever como cardiologista e executou os procedimentos padrões para uma cirurgia no coração. É incrível pensar que, o que nos mantem vivo, é o órgão mais frágil do corpo humano. Qualquer erro no funcionamento é fatal.

Anthony sempre se perguntou o porquê de todos relacionarem o amor com algo vindo do coração. Todas aquelas melosidades poéticas falando sobre estar com o 'coração partido' ou coisas como 'dor de amor'. 

Finalmente compreendeu que o amor era algo vital, algo que fazia as sinapses dos neurônios aumentarem e repentinamente causar um surto em todos os sentidos do corpo, acelerando os batimentos e fazendo a respiração falhar.

 Lembrou de ter lido no poema que  amar "É ter com quem nos mata, lealdade".  

Será mesmo que estamos fardados a "morrer, por amor" ?


Café, insônia, mistério e... anatomia?Where stories live. Discover now