27. Sakura

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O aroma adocicado de jasmim e lírios pairava no ar, permeando o quarto de Sakura enquanto ela cuidadosamente penteava seus cabelos róseos. A luz da tarde, filtrada pelas cortinas translúcidas, lançava um brilho suave sobre seu rosto, evidenciando as olheiras profundas que marcavam sua expressão melancólica.

De repente, o silêncio foi quebrado por uma voz suave, quase como um sussurro, vinda de dentro de sua própria mente.

"Você não acha que está na hora de visitarmos nossos pais?", perguntou Irnee, a personificação da outra metade da alma de Sakura.

Sakura paralisou, seus movimentos se congelando no ar. Seus olhos, antes cheios de vida, agora se esvaziaram, fixos no espelho à sua frente, como se estivessem perdidos em um vazio infinito.

"Devemos comprar algumas flores brancas e colocar na lápide deles. O que acha?", sugeriu Irnee, sua voz carregada de uma tristeza profunda.

"Nós não vamos voltar lá...", murmurou Sakura, sua voz rouca e quase inaudível.

"Para de drama e vá contar como estamos bem", retrucou Irnee, um tom de impaciência em sua voz.

"Eu disse que não vou voltar lá", repetiu Sakura, sua voz agora firme, mas ainda vazia de qualquer emoção.

"Que tipo de filha não visita os pais a mais de 3 meses?", questionou Irnee, sua voz se elevando em tom accusatorio.

"Eu já disse que não vou voltar lá!", gritou Sakura, jogando a escova de cabelo com força contra o espelho. O som de vidro se quebrando ecoou pelo quarto, cortando o ar com um som agudo.

"Você é uma ingrata! Eles sempre fizeram de tudo por nós e você não tem coragem de fazer pelo menos uma visita!", berrou Irnee, sua voz agora carregada de raiva.

"Cala a boca!", gritou Sakura, tapando os ouvidos com as mãos e batendo a cabeça com força contra o chão do quarto. O impacto ecoava a cada batida, abafando seus próprios gritos de angústia.

"Matar pessoas para você está tudo bem, mas agora que é para visitar nossos pais MORTOS você simplesmente não quer ir?", zombou Irnee, sua voz cruel e implacável.

"CALA A BOCA!", gritou Sakura histericamente, batendo a cabeça contra o chão com cada vez mais força, as lágrimas quentes escorrendo pelo seu rosto.

A dor era imensa, tanto física quanto emocional. A culpa, a tristeza, a raiva, todas as emoções se misturavam em um turbilhão caótico dentro de sua mente, ameaçando consumi-la por completo.

Sakura não sabia quanto tempo havia se passado desde que começou a bater a cabeça contra o chão. O tempo parecia ter se esvaído, se tornado irrelevante diante da dor que sentia. Tudo o que ela sabia era que precisava fazer o barulho parar, precisava calar a voz de Irnee, precisava silenciar a culpa que a consumia.

O som de batidas ritmadas ecoava pelo quarto de Sakura, abafado pelas paredes de gesso e papel de parede floral. A cada impacto, um tremor percorria o corpo esguio da jovem, seus cabelos róseos espalhados pelo chão como uma cascata macabra. O aroma adocicado de jasmim e lírios, antes presente, agora se misturava com o cheiro acre de sangue e suor.

Fora da casa, Naruto e Jiraya aguardavam. O calor da tarde se intensificava, mas o clima era de apreensão. Naruto, inquieto, tamborilava os dedos na perna, enquanto Jiraya observava o céu azul com uma expressão grave.

Um grito abafado cortou o silêncio. Naruto se levantou de supetão, os olhos arregalados.

"Sakura!", ele gritou, correndo em direção à porta. Jiraya o seguiu, seus passos lentos e pesados.

Ao entrarem no quarto, a cena que se depararam era dantesca. Sakura jazia no chão, um círculo de sangue se formando ao seu redor. Seus olhos estavam esbugalhados, as veias do pescoço saltadas. A escova de cabelo, que antes adornava seus cabelos, agora jazia partida em dois, um pedaço manchado de vermelho.

I Am A Shinobi Where stories live. Discover now