CAPÍTULO 2

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Me levantei e calcei as pantufas de golfinho que meu pai me mandou pelo correio, eu as amava e em qualquer lugar que eu ia, seja em aula de campo ou excursão, eu as levava comigo. Lavei o rosto rapidamente e prendi meu cabelo em um coque de vovó. Desci para o café da manhã e fiquei surpresa ao ver meu tio.

Geralmente ele está no trabalho uma hora dessas.

-Bom dia, querida. -Ele disse, se atrapalhando em virar as panquecas.

Assumi o controle no fogão e ele sorriu, se afastando.

-Bom dia, Lukas. Não foi trabalhar?

-Hoje vou levar sua tia para conhecer minha secretaria. Ela não acredita quando digo que Lurdes é velha, gorda e sem um dente da frente.

Ele gesticulou com as mãos enquanto eu ria. Meus tios eram um casal perfeito. Casados à longos vinte anos, nunca presenciei uma briga se quer deles. Meu tio Lukas era negro, alto e magro. Eu descreveria ele como Ed Morf, tanto no bom humor quanto aparência.

-Falando de mim? -Minha tia entra na cozinha com um sorriso de orelha a orelha, beliscando o braço de Lukas e o beijando em seguida. Desligo o fogo, acabando as panquecas.

-Vai finalmente conhecer a Lurdes, hein? -Eu disse, quando ela fez uma careta.

-A mulher me convidou para um almoço amigável. Não vou perder a oportunidade.

A conversa durante todo o café foi sobre Lurdes e o dente que ela supostamente perdeu em uma aposta. Fique apenas sentada olhando os dois debaterem sobre isso. Minha tia não tinha de fato ciúmes, era mais como se fosse uma, digamos assim, "apimentada" no casamento dos dois.

Depois de lavar a louça, segui para o meu quarto e liguei para o meu pai. Ele quis saber sobre meu primeiro dia de aula no último ano. Contei tudo nos detalhes, incluindo o quão idiota meu professor é e o que ele fez. Meu pai pediu que eu mantesse calma e continuasse como estou. Me aconselhou que devo respeitar, mas sobre tudo, não abaixar a cabeça.

Infelizmente eu puxei esse lado da minha mãe: Eu pago com a mesma moeda. Não consigo deixar por isso mesmo, seja o que for e com quem for.

Depois de quase duas horas de conversa e de ter falado com meu irmão de quatro anos, tomei um banho e vesti meus jeans e regata. Hoje estava calor, mas eu não era muito chegada a saias, uma vez que a escola é repleta de escadas. Prendi meus cabelos loiros em um rabo de cavalo alto e apliquei um pouco de rímel e batom de morango. Eu não era feia, mas pálida e sem sal, maquiagem no meu caso não adiantaria. Joguei minha mochila nos ombros e tranquei a casa depois de sair, meus tios já tinham ido para o suposto almoço, então com um suspiro eu segui para o ponto de ônibus rezando para o meu professor estar nos seus belos dias hoje.

Mayra me esperava em seu assento quando cheguei. Achei tão tranquilizante ter alguém com quem conversar durante os tempos em que o professor não está presente, ou no refeitório. Conversamos sobre seus pais e sobre os meus tios, levando em conta que eu odiava falar sobre os meus pais para quem quer que seja.

Prendi a respiração quando o professor entrou. O professor mais rabujento e mais lindo que eu já tive. Nos meus pensamentos eu confessava que ele é um pedaço de homem.

Mesmo nos seus trinta anos é uma delícia de se ver. Seu olhar se encontrou com o meu e me senti ruborizar. No dia anterior pensei que seus olhos fossem verdes, mas hoje eles estavam cinzas. Ele se sentou, ainda me olhando enquanto a sala ficava em um silêncio absoluto como no dia anterior e fez um gesto para que eu me aproximasse da mesa.

Peguei minha redação da bolsa e me levantei, entregando-o quando cheguei até ele. Santo Deus! Seu cheiro também era uma delicia. Que castigo! Uma mistura de amaciante e shampoo de menta. Engoli em seco quando ele desfocou ao olhar de mim para o monte de folhas em suas mãos. Ele levou os dedos até os lábios como se lesse, o que eu não acreditava muito que estava fazendo, e depois colocou a folha dentro de uma pasta.

Sr. ProfessorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora