CAPITULO 1

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Ali estava eu em uma fila de três metros esperando meu horário e sala. Era o primeiro dia no ano, dentre outras centenas de aulas. Eu estava no meu último ano do ensino médio, graças a Deus e logo poderia ingressar em uma carreira como qualquer adulto responsável de dezoito anos. Eu sei, dezoito anos não é lá grande coisa, mas para uma garota que tem uma vida como a minha... Pode ser tudo!

Quando isso acontecer, posso me mudar para a cidade do meu pai para fazer faculdade lá e ter mais tempo para conhecer meu irmão mais novo, depois disso. Em toda a minha vida, eu só o vi duas vezes nas quais foi mera coincidência. Já da minha mãe não posso esperar muito, ela é mesquinha, egoísta e vive mais em viagens do que em casa, apesar de ela e meu pai terem se divorciado a muito tempo, ela ainda dorme lá uma vez ou outra.

Saio de meus devaneios, percebendo que era a minha vez na fila. Uma mulher com uns quilinhos a mais, diria que a até intimidadora, grita próximo em um tom preguiços, mesmo percebendo que eu estava ali na sua frente e que já sabia que a próxima seria eu. Revendo os conceitos: Não, ela não é intimidadora.

Me aproximo da janelinha na cabine da secretaria e entrego meu boletim do ano passado.

-Alicia Gomorra Fontes. -Eu digo.

Ela olha para a folha e para mim uma série de vezes, depois carimba e confere um par de folhas em uma gaveta, escolhendo por fim uma e estendendo para mim.

-Sala 18, segundo andar. -Murmura e eu me sinto na fila para receber sextas básicas.

Timidamente eu sorrio para ela, não recebendo outro em troca e caminho pelo imenso corredor de mármore. Vários alunos caminham no mesmo sentido e no sentido contrário que eu. Sinto como se fosse uma formiga perto de todas essas pessoas, uma presa fácil... Não vejo ninguém, além de mim, sozinho. Todos estão rindo e conversando com um grupo de pessoas. Começo a subir as escadas e evito gritar quando um garoto passa por mim com um skate a mil por horas. Franzo as sobrancelhas e abafo um riso. Sério mesmo? Isso mais parece crianças do que um bando de homens e mulheres responsáveis prontos para ir a faculdade.

Olho as placas nas portas... 13, 14, 15... Confiro a folha e avisto a sala 18. Paro em frente a ela e um caroço se forma na minha garganta. Deus, que não esteja cheia! Respiro fundo e giro a maçaneta. Nervosismo toma conta quando vejo que a sala não está tão cheia, mas, as mais ou menos dez pessoas que estão nela, olham para mim. Fixo meu olhar no chão e caminho para a segunda mesa perto do quadro, onde tem menos pessoas. Não era como se eu fosse antisocial, só não gostava muito de me misturar. Os alunos que antes me olhavam voltaram para as conversas sobre carros e homens. Reviro os olhos. Uns cinco minutos de silêncio absoluto e a porta se abre, atravessando por ela uma linda morena com livros nas mãos. Ela caminha e coloca os livros e sua bolsa amarela na mesa de frente a minha, então me olha e me cumprimenta com um doce sorriso. Não me sinto mais tão invisível por um segundo, então ela avista alguém supostamente mais interessante do que eu e caminha para o fundo da sala. Que seja, não estou aqui para fazer amizades.

Fico pensando em quanto estou pronta para o mundo. Eu sou ciente de que um adulto tem um emprego fixo e se sustenta com, na maioria das vezes, um salário mínimo. Também existem as responsabilidades e compromissos, mas estou pronta para tudo isso. Em menos de dois meses eu faria dezoito anos e eu estava mais do que animada para sair da casa dos meus tios. Eu os amo, mas sinto como se fosse um peso para eles. Quem em uma faixa de cinquenta anos com a vida tranquila e calma aceita uma sobrinha morando em sua casa por um grande período de tempo? Eu não aceitaria... e tudo isso porque queria terminar meus estudos na cidade, depois que meu pai decidiu se mudar e eu não quis ir com ele.

Me endireito na cadeira quando a porta volta a se abrir. Observo todos os alunos se sentando em seus devidos lugares, rapidamente. Um homem com aparentemente trinta a quarenta anos atravessa a porta e outro nos seus vinte cinco a trinta anos segue atrás. O primeiro eu conheço, ele é o diretor da escola, Willian. Agora o último eu nunca tinha visto. Ele é inacreditavelmente lindo. Cabelos médios, loiros e ondulados. Uma barba por fazer sexy e olhos verdes... Ele é, digamos, putamente encantador. Não me julguem, só eu sei os meus pensamentos, por isso é o único lugar que ouso me expor.

Sr. ProfessorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora