Continuar a viagem até o Porto me desgastou, mas eu não queria parar

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Continuar a viagem até o Porto me desgastou, mas eu não queria parar. Se eu parasse, a minha mente se ocuparia com as palavras de Poppy, e por mais que eu quisesse continuar me afogando em minha própria tristeza, eu não podia. Tinha um objetivo a cumprir.

— Podemos parar em uma hospedaria. — Aland continuou me lançando o olhar preocupado. — Sei que está cansada.

— Não é necessário, estou bem.

— Precisamos ir de barco para conseguir chegar até a ilha. Vou comprar um pouco de comida, pelo menos.

— Onde conseguiu dinheiro?

— Peguei alguns objetos do castelo e vendi. Arthur gostava de ostentar a riqueza que possuía.

Assenti, esperando ele comprar alguns pães e frutas. Quando retornou, negociou um barco simples. Tentei comer um pedaço de pão, mas estava sem fome.

O vestido preto esquentou a minha pele contra o sol. O calor me fez desejar fortemente um banho.

— Quão fundo será o mar? — olhei para o mar, começando a sentir medo de cair dali.

— É a altura exata de sete mil Palácios.

— Jura?

— Não. — ele sorriu. — Só queria fingir que tinha resposta para as suas perguntas.

Engoli a vontade de sorrir de volta.

— Acho que ninguém possui essa resposta.

— Quer pular?

— O que? No mar? — estremeci. — Não! Não sei nadar.

— Não? E o que você fazia quando ia em um rio?

— Ficava na parte rasa.

— Isso não tem muita graça.

— Me afogar também não é engraçado.

— É um bom ponto. — ele me olhou, pacientemente. — Sei que já agradeci, mas preciso dizer de novo. Obrigado, Qhana, por me ajudar. Você não precisava fazer isso, vir comigo. Sei que está fazendo um sacrifício enorme ao escolher não voltar para a sua família.

— Você também está se sacrificando. Não precisava assumir o reino, sei que não está fazendo isso pelo poder. Eu vi a forma como olhava para as pessoas na cidade. Somos iguais nessa parte.

— Posso te confessar uma coisa?

— Sim.

— A minha maior vontade, quando despertei e percebi que o meu corpo tinha voltado diferente, foi me esconder. Fugir e me isolar em algum canto de uma floresta. Fui um animal por dez anos, estava acostumado a agir como um. Eu sei que estou fazendo o certo, mas escolher essa opção sempre é mais difícil. Quando me vejo no reflexo, sinto que não sei quem é a pessoa que aparece.

— Você não se perdeu. — me lembrei de quando ele me abraçou no estábulo. — Eu gosto do Aland que conheço.

Para a minha surpresa, ele segurou a minha mão. O gesto me deixou um pouco nervosa e eu me preparei para puxá-la de volta quando o barco recebeu um forte solavanco. Aland me segurou forte quando o baque se repetiu e o mar se agitou.

Antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo, o terceiro impacto fez o barco virar e eu caí com força na água. No desespero, a mão de Aland se soltou da minha, e eu comecei a me afogar.

Tentei mexer meus braços e pernas descontroladamente enquanto o pânico me invadia, mas nada parecia funcionar.

Quando não consegui mais prender a respiração, a água começou a entrar em meus pulmões, e eu senti meu corpo afundar.

Novamente, eu achei que fosse morrer, e por incrível que pareça, depois de tudo o que eu tinha passado, isso ainda me assustou. De todas as formas que imaginei a minha morte, afogamento não era uma delas.

Abri os olhos, tentando me consolar com a última visão da água azul até que um animal enorme em forma de cobra nadou em minha direção. Sua pele era amarela e o seu corpo era tão grande que eu não conseguia ver em que profundidade terminava.

Eu nunca tinha visto nada tão aterrorizante em toda a minha vida.

Gritei, vendo bolhas surgirem até que dois braços fortes me puxaram. Senti o impacto da força da água enquanto o meu corpo fraco era guiado de volta à superfície até que consegui enxergar grandes asas negras.

A cabeça da serpente ficou distante até que eu percebesse que não estava sentindo nada embaixo dos meus pés.

Contive o impulso de gritar, tossindo água, até perceber que eu estava voando. Ou melhor, Aland estava voando. Apertei os olhos e me agarrei nele, enquanto as asas de dragão davam solavancos para cima e para baixo. Ele me apertou de encontro ao seu peito.

— Desde quando você faz isso? — quase gritei, sentindo o terror invadir cada parte do meu corpo.

— Desde... agora.

A resposta, definitivamente, não me acalmou. Eu não sabia o que me apavorava mais. A altura, a possibilidade de me afogar na água lá embaixo, ou a de ser engolida por uma serpente do mal. Ele pareceu perceber o meu desespero, e baixou os lábios ao meu ouvido.

— Qhana, eu prometo que não vou te deixar
cair.

Balancei a cabeça, desesperadamente, e permaneci de olhos fechados sentindo o vento forte das asas entrar em meu cabelo e vestido molhado.

Em certo momento, eu fiquei enjoada com a altura e tentei desesperadamente não focar nessa sensação. Depois do que pareceu ser uma eternidade, o barulho das asas no vento cessou.

Quando pousamos, não consegui soltá-lo. Pisei ao chão por diversas vezes para conferir se estava mesmo em terra sólida, e tremendo, abri um único olho.

Aland me olhava com uma expressão divertida.

— Gostei de te abraçar, podemos voar mais vezes.

— Nem pense nisso. — me afastei rápido, escutando-o sorrir.

Minhas pernas tremiam conforme eu tentava andar no que parecia ser a ilha, e eu encarei um grande pé de coco.

Aland veio atrás.

— Essa deve ser a ilha. Bella, cuidado onde pisa!

Escutei tarde demais. Aland correu tentando me puxar e acabou sendo erguido junto em uma espécie de corda que prendeu os nossos pés.

Era uma armadilha.

Insensato AmorWhere stories live. Discover now