22 - Na Alegria e na Tristeza

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Bright

Eu levantei antes de Win, o que era incomum, tomando meu café descafeinado e olhando pela janela da cozinha. Ele normalmente estava acordado antes de mim, mas uma dor de cabeça por volta das cinco da manhã me fez procurar minhas pílulas. Dores de cabeça não eram novidade; às vezes me pegava pensando que a vida estava voltando ao normal, mas então a dor constante dentro da minha cabeça me lembrava o contrário.

Eu estava tão acostumado à dores de cabeça agora que mal as percebia. Aquela dor contínua às vezes era monótona, às vezes aguda, mas sempre estava presente. Exceto por esta manhã, quando me acordou.
Nunca fui muito alegre de manhã, mas hoje estava me sentindo particularmente triste. Nem mesmo assistir Win dormir melhorou meu humor. De qualquer forma, isso me fez sentir ainda mais deprimido. Ele era tão bom para mim. Ele era, sem dúvida, bom demais para mim também.

Mas, por algum motivo estúpido, ele me amava. Ele me amava antes do acidente, e isso não mudou nada para ele. De qualquer forma, ele dizia que o fez perceber que me amava ainda mais agora. Foi uma lição para nunca mais considerar as coisas como garantidas, ele dissera. Eu podia ver nos olhos dele o quanto ele me amava. Aqueles olhos cor de ônix não conseguiam esconder nada, e eu me peguei mais e mais reconhecendo o humor dele neles.

Me perdendo neles.
Win havia dito que nos apaixonamos de forma intensa e rápida na primeira vez, e foi o mesmo para mim na segunda vez. Ele era carinhoso, atencioso, engraçado... Tudo o que eu sempre quis em um namorado. Ele também era alto e bonito. Como diabos eu o conquistei uma vez, continuava sendo um mistério para mim. O fato de ele ter permanecido pela segunda vez era simplesmente louco.

Eu odiava pensar onde estaria sem ele. Se eu tivesse decidido não vir para casa com ele quando deixamos o hospital, não que eu tivesse outro lugar para ir, bem, eles teriam encontrado para mim algum outro lugar, aparentemente. Mas meu coração me disse que eu deveria vir com ele, e agora eu sabia o porquê.
Porque meu coração o conhecia. Meu coração o amava.
E nos dias em que eu me sentia uma merda, não apenas fisicamente, mas emocionalmente também, eu me sentia... Sem utilidade.

Como uma criança que precisava de uma babá. Que não podia subir ou descer as escadas sem supervisão, que nem podia tomar banho sozinho. E estar no trabalho era como o meu primeiro dia como aprendiz aos dezesseis anos de idade. Eu sabia que era tudo para minha segurança ou o que quer que seja, mas isso só me irritava. Eu não era uma criança. Eu não era incompetente. Eu sabia como fazer aquilo. E em alguns dias meu cérebro estava lento, mas em alguns dias minha mente estava bem e era o meu corpo que me traía.
Eu odiava ser assim.

Eu odiava ser tão dependente de outras pessoas. Eu odiava que Win tivesse que cuidar de mim como se eu fosse criança e como Mike tinha que tomar conta de mim no trabalho. Eu odiava saber o quanto não podia fazer, o quanto costumava fazer e agora não.

Passamos algumas horas no sábado na casa de Jimmy e Nancy, e eu me senti tão exausto que fiquei no sofá durante todo o domingo. Eu cochilei o dia inteiro. Tentei fazer algumas coisas pelo apartamento com Win, mas não fui bom em nada.
Ele simplesmente me beijou com um sorriso e me disse para descansar enquanto ele tentava fazer tudo e eu estacionava na frente da maldita TV como um inutil.

Eu não pude deixar de imaginar por quanto tempo ele aguentaria isso. Quanto tempo levaria até ele perceber que poderia ter qualquer cara que quisesse, e que não tivesse uma lesão cerebral? Além disso, que não tinha uma perna ferida e que não falava devagar?
Ouvi a porta do quarto abrir e nem precisei me virar. O som de seus pés se aproximou, e então sua mão quente deslizou pelas minhas costas.

"Oi." Ele murmurou. "Eu acordei sozinho."

Suspirei, agora me sentindo ainda mais deprimido do que antes.
"Desculpe. A dor de cabeça me acordou e eu não queria incomodá-lo."

Pedaços de nós dois Where stories live. Discover now