Outras vozes se levantaram.
— Estamos com fome, liberdade não enche barriga!
— Queremos de volta Arthur! Não apoiaremos um bastardo!
Um homem pegou um chicote, e atingiu outro mais fraco. Então, um caos começou. O povo começou a gritar e jogar terra e pedras em Aland, até que um dos homens pegou uma tocha e lançou em direção à ele.
Gritei, quando o cocheiro me segurou, me impedindo de andar até o tumulto. O corpo de Aland começou a queimar, e todos gritaram, horrorizados, quando viram que ele não se queimava.
As roupas dele foram virando cinzas, pouco a pouco, e as escamas brilharam em tons de prata e dourado.
— É o demônio! — várias vozes urraram, ao mesmo tempo, e mais pedras foram lançadas até que todos corressem em completo pavor.
O corpo de Aland caiu, fraco, ao chão, e o cocheiro me soltou para correr em direção a ele. Com o cobertor da carruagem nas mãos, cobri seu corpo por cima antes que o resto da calça queimada se desfizesse, e o abracei. Devagar, ele me empurrou.
— Saia, Bella.
— Não vou sair.
Segurei em seu rosto com as duas mãos, encontrando, agora, as palavras que eu tinha procurado.
— Eu não tenho medo de você.
Aland roçou o polegar escamoso e quente em minha bochecha, enquanto gemia de dor.
— Obrigado, Qhana.
O ajudei a se levantar quando uma mulher de meia idade apareceu. Ela segurava a mão de uma pequena garotinha, de pele negra clara e cabelo crespo em tom de cobre encaracolado. A mulher, com pele pálida já marcada pelo tempo, exibia cabelos pretos amarrados em um coque baixo.
— Eu acredito em você. — ela segurou nas mãos de Aland, sem se assustar. — Por favor, me permita ceder a minha humilde casa para o futuro Rei limpar os pés e as vossas feridas.
Meu coração se apertou ao perceber que os olhos dela não tinham movimento. As pupilas repousavam em um branco translúcido. A garotinha parecia guiá-la. Aland também percebeu, e deu um passo para trás.
— Senhora, a minha aparência...
— A sua aparência não me importa, Alteza. Posso ser cega, mas sou capaz de ver mais do que muitas pessoas. Escutei o que disse, e sei que falou com o coração sobre libertar o nosso povo, ou por acaso estava mentindo?
— Não senhora, tudo que eu disse é verdade.
— Então aceite tomar um pouco de água em minha casa.
Aland pareceu se firmar ao compromisso que tinha comigo de seguir viagem até Sírios, mesmo estando completamente machucado, e abriu a boca para recusar quando eu o interrompi.
— Seria ótimo. Conseguiremos descansar bem mais para retornarmos a viagem amanhã. Muito obrigada pela hospitalidade. Me chamo Arabella.
Me curvei para a senhora e a garotinha. Um par de olhos roxos me encarou com uma certa admiração.
— Calanthe. — ela se apresentou, e beijou os cabelos da garotinha. — A minha
menina se chama Isis. Por favor, nos acompanhe.A casa dela era uma tenda simples. O cocheiro parou a carruagem perto, e pediu permissão para visitar a família na aldeia, garantindo que conseguiria apoio de mais pessoas e que retornaria ao amanhecer. Peguei a gaiola do meu coelho e entrei.
— Posso perguntar como a senhora sabia que ele estava machucado?
— Escutei as pedras serem lançadas, sempre é um som terrível de ouvir. — ela tateou os móveis e pegou um jarro de água.
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Insensato Amor
Historical FictionSérie irmãs Beaumont - Livro 3 Arabella é a filha mais nova das três princesas do reino de Beaumont, sendo considerada a próxima a se casar. Após ver as duas irmãs se casarem por amor e sonhar, por tantos anos, com o mesmo, Bella se vê obrigada a se...
Capítulo XXVIII
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