Capítulo XXVIII

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Outras vozes se levantaram.

— Estamos com fome, liberdade não enche barriga!

— Queremos de volta Arthur! Não apoiaremos um bastardo!

Um homem pegou um chicote, e atingiu outro mais fraco. Então, um caos começou. O povo começou a gritar e jogar terra e pedras em Aland, até que um dos homens pegou uma tocha e lançou em direção à ele.

Gritei, quando o cocheiro me segurou, me impedindo de andar até o tumulto. O corpo de Aland começou a queimar, e todos gritaram, horrorizados, quando viram que ele não se queimava.

As roupas dele foram virando cinzas, pouco a pouco, e as escamas brilharam em tons de prata e dourado.

— É o demônio! — várias vozes urraram, ao mesmo tempo, e mais pedras foram lançadas até que todos corressem em completo pavor.

O corpo de Aland caiu, fraco, ao chão, e o cocheiro me soltou para correr em direção a ele. Com o cobertor da carruagem nas mãos, cobri seu corpo por cima antes que o resto da calça queimada se desfizesse, e o abracei. Devagar, ele me empurrou.

— Saia, Bella.

— Não vou sair.

Segurei em seu rosto com as duas mãos, encontrando, agora, as palavras que eu tinha procurado.

— Eu não tenho medo de você.

Aland roçou o polegar escamoso e quente em minha bochecha, enquanto gemia de dor.

— Obrigado, Qhana.

O ajudei a se levantar quando uma mulher de meia idade apareceu. Ela segurava a mão de uma pequena garotinha, de pele negra clara e cabelo crespo em tom de cobre encaracolado. A mulher, com pele pálida já marcada pelo tempo, exibia cabelos pretos amarrados em um coque baixo.

— Eu acredito em você. — ela segurou nas mãos de Aland, sem se assustar. — Por favor, me permita ceder a minha humilde casa para o futuro Rei limpar os pés e as vossas feridas.

Meu coração se apertou ao perceber que os olhos dela não tinham movimento. As pupilas repousavam em um branco translúcido. A garotinha parecia guiá-la. Aland também percebeu, e deu um passo para trás.

— Senhora, a minha aparência...

— A sua aparência não me importa, Alteza. Posso ser cega, mas sou capaz de ver mais do que muitas pessoas. Escutei o que disse, e sei que falou com o coração sobre libertar o nosso povo, ou por acaso estava mentindo?

— Não senhora, tudo que eu disse é verdade.

— Então aceite tomar um pouco de água em minha casa.

Aland pareceu se firmar ao compromisso que tinha comigo de seguir viagem até Sírios, mesmo estando completamente machucado, e abriu a boca para recusar quando eu o interrompi.

— Seria ótimo. Conseguiremos descansar bem mais para retornarmos a viagem amanhã. Muito obrigada pela hospitalidade. Me chamo Arabella.

Me curvei para a senhora e a garotinha. Um par de olhos roxos me encarou com uma certa admiração.

— Calanthe. — ela se apresentou, e beijou os cabelos da garotinha. — A minha
menina se chama Isis. Por favor, nos acompanhe.

A casa dela era uma tenda simples. O cocheiro parou a carruagem perto, e pediu permissão para visitar a família na aldeia, garantindo que conseguiria apoio de mais pessoas e que retornaria ao amanhecer. Peguei a gaiola do meu coelho e entrei.

— Posso perguntar como a senhora sabia que ele estava machucado?

— Escutei as pedras serem lançadas, sempre é um som terrível de ouvir. — ela tateou os móveis e pegou um jarro de água.

Insensato AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora