06: COROA PENDENTE

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No sonho estava chorando.

Era esquisito. Chorar, digo. Depois de tudo, minhas lágrimas eram de ódio na sua maioria, mas ali, perto daquele campo que não reconhecia, a garotinha estava chorando de tristeza.

Não reconhecia aquela memória, embora definitivamente fosse eu ali. E aquele lugar? Também não conhecia.

A garota, eu, chorava copiosamente e gostaria de chamá-la. Não que pudesse. Era uma observadora, o que era ainda mais esquisito.

Do que se tratava aquele sonho, afinal? Gostaria de acordar agora.

— Você não pode chorar assim, Chanel. — Uma pequena voz sussurrou, me assustando, e seguida de outra.

— Sim. Isso me faz querer chorar também.

Hum? Quem eram aqueles bebês? E por que não reconhecia suas vozes? Isso foi antes? Do acidente, talvez?

— Desculpem. Não posso evitar. — Chanel diz e franzo a testa confusa. Não tive muitos amigos quando criança. E definitivamente não chorava por eles. — Não quero ir embora. Não quero deixar vocês.

Mesmo sem conseguir ver com quem ela fala, e reconhecer as vozes, vejo quando braços cercam a mim numa versão muito menor, e quando uma das vozes promete:

— Você não nos deixará. Prometemos. Mesmo que queira um dia, ainda estaremos lá. Você vai ver. — Jura e posso sentir a promessa reverberar por mim.

É quando acordo com lágrimas nos olhos e falta de ar.

Há alguém me sufocando.

.

.

.

Os olhos azuis alucinados são o primeiro passo da discórdia.

O segundo é quando grito.

— Killian! — E o homem me encara. Está claro, e todas as luzes estão acessas. Ele não tenta se esconder e traça meu rosto devagar com o seu inexpressivo.

— Oi, gatinha. Que bom que acordou. Estava chorando, sabia? Teve um sonho ruim? — Pergunta e solta meu pescoço. Continuo atordoada, confusa e sonolenta para lhe responder algo. Ele continua. — Não precisa se preocupar. Seu sonho mais terrível sou eu. Levante-se e se arrume. Tem uma festa para ir.

Se vira e se senta, batendo nas pernas enquanto Marie pula para seu colo. Ela ama carinho e qualquer pessoa. Incluindo todos os meus assassinos.

Pisco para ele.

— O que está fazendo aqui?

— O que acha? — Rebate. — Conrad te deu um aviso, não deu? Chorando e gritando. Tem cinco minutos antes que cumpra sua promessa.

Esse... eu...

— Como entrou aqui?

Dessa vez ele ri e aponta para janela.

Balanço a cabeça.

— Está trancada. E King instalou dezenas de proteções para Linda.

Sawyer concorda.

— Menos para ele, claro. Me considere uma extensão de Conrad. — Acaricia Marie. — Obviamente.

Obviamente. — A confusão se dissipa e a raiva toma conta de mim. Cochilei por trinta minutos e isso foi o suficiente para um maníaco viciado em violência invadir meu quarto. — Agora, saia do meu quarto, Killian.

Ele nem mesmo tira os olhos de Marie.

— Sua gata é adorável. E não fala. Não como você, não é? — Seus olhos esfriam. — Vamos lá, Chanel. Você me conhece. Não sou gentil como Conrad nem cauteloso como Viktor. King te dou uma ordem. E você não apareceu. Sou seu castigo e tem duas escolhas: se arrumar rápido e vir comigo, numa festa em que você não precisará fazer nada a não ser, ser observada incansavelmente e talvez nos servir de entretenimento. Ou... sair arrastada pelos cabelos com a roupa muito curta que está agora, gritando e chorando, sabendo muito bem que ninguém dará a mínima e então, servir totalmente de entretenimento na frente de todos que encontrar. Só tem nós dois aqui, gata. Viktor te salvou na outra noite, mas mesmo daqui, consigo ver que sua calcinha é azul. Quer, que a universidade toda veja? Posso tirar fotos agora mesmo e postar. Tique taque. — Balança um dedo. — O que vai ser? Já estou entediado.

REIS DO IMPÉRIO Where stories live. Discover now