No sonho estava chorando.
Era esquisito. Chorar, digo. Depois de tudo, minhas lágrimas eram de ódio na sua maioria, mas ali, perto daquele campo que não reconhecia, a garotinha estava chorando de tristeza.
Não reconhecia aquela memória, embora definitivamente fosse eu ali. E aquele lugar? Também não conhecia.
A garota, eu, chorava copiosamente e gostaria de chamá-la. Não que pudesse. Era uma observadora, o que era ainda mais esquisito.
Do que se tratava aquele sonho, afinal? Gostaria de acordar agora.
— Você não pode chorar assim, Chanel. — Uma pequena voz sussurrou, me assustando, e seguida de outra.
— Sim. Isso me faz querer chorar também.
Hum? Quem eram aqueles bebês? E por que não reconhecia suas vozes? Isso foi antes? Do acidente, talvez?
— Desculpem. Não posso evitar. — Chanel diz e franzo a testa confusa. Não tive muitos amigos quando criança. E definitivamente não chorava por eles. — Não quero ir embora. Não quero deixar vocês.
Mesmo sem conseguir ver com quem ela fala, e reconhecer as vozes, vejo quando braços cercam a mim numa versão muito menor, e quando uma das vozes promete:
— Você não nos deixará. Prometemos. Mesmo que queira um dia, ainda estaremos lá. Você vai ver. — Jura e posso sentir a promessa reverberar por mim.
É quando acordo com lágrimas nos olhos e falta de ar.
Há alguém me sufocando.
.
.
.
Os olhos azuis alucinados são o primeiro passo da discórdia.
O segundo é quando grito.
— Killian! — E o homem me encara. Está claro, e todas as luzes estão acessas. Ele não tenta se esconder e traça meu rosto devagar com o seu inexpressivo.
— Oi, gatinha. Que bom que acordou. Estava chorando, sabia? Teve um sonho ruim? — Pergunta e solta meu pescoço. Continuo atordoada, confusa e sonolenta para lhe responder algo. Ele continua. — Não precisa se preocupar. Seu sonho mais terrível sou eu. Levante-se e se arrume. Tem uma festa para ir.
Se vira e se senta, batendo nas pernas enquanto Marie pula para seu colo. Ela ama carinho e qualquer pessoa. Incluindo todos os meus assassinos.
Pisco para ele.
— O que está fazendo aqui?
— O que acha? — Rebate. — Conrad te deu um aviso, não deu? Chorando e gritando. Tem cinco minutos antes que cumpra sua promessa.
Esse... eu...
— Como entrou aqui?
Dessa vez ele ri e aponta para janela.
Balanço a cabeça.
— Está trancada. E King instalou dezenas de proteções para Linda.
Sawyer concorda.
— Menos para ele, claro. Me considere uma extensão de Conrad. — Acaricia Marie. — Obviamente.
— Obviamente. — A confusão se dissipa e a raiva toma conta de mim. Cochilei por trinta minutos e isso foi o suficiente para um maníaco viciado em violência invadir meu quarto. — Agora, saia do meu quarto, Killian.
Ele nem mesmo tira os olhos de Marie.
— Sua gata é adorável. E não fala. Não como você, não é? — Seus olhos esfriam. — Vamos lá, Chanel. Você me conhece. Não sou gentil como Conrad nem cauteloso como Viktor. King te dou uma ordem. E você não apareceu. Sou seu castigo e tem duas escolhas: se arrumar rápido e vir comigo, numa festa em que você não precisará fazer nada a não ser, ser observada incansavelmente e talvez nos servir de entretenimento. Ou... sair arrastada pelos cabelos com a roupa muito curta que está agora, gritando e chorando, sabendo muito bem que ninguém dará a mínima e então, servir totalmente de entretenimento na frente de todos que encontrar. Só tem nós dois aqui, gata. Viktor te salvou na outra noite, mas mesmo daqui, consigo ver que sua calcinha é azul. Quer, que a universidade toda veja? Posso tirar fotos agora mesmo e postar. Tique taque. — Balança um dedo. — O que vai ser? Já estou entediado.
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REIS DO IMPÉRIO
Short StoryMinha vida é um abatedouro. E eu? Sou o prato principal. Chanel Campbell está encrencada. A bela garota presenciou algo que não deveria, e agora precisa correr. Viktor Cox. Conrad King. Killian Sawyer. Eles são os reis da cidade. Da Universidade...