Capítulo XXIII

Começar do início
                                    

Peguei Harry no colo e corri de volta com tanto desespero que quase caí no chão pelo menos três vezes. Quando voltei ao quarto, empurrei uma cômoda em cima do buraco e me deitei na cama, ofegante.

Pelos reinos, o que era aquela criatura?

Pelos reinos, o que era aquela criatura?

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Não consegui dormir. A tristeza parecia consumir, a cada minuto, cada parte dos meus ossos. Eu era fraca. Me sentia fraca, e não conseguia mais ver sentido em lutar.

Tantos pensamentos ruins me envolveram que, em breves momentos, eu até ansiava para que Arthur voltasse e me matasse de uma vez por todas, mas eu sabia que não seria isso que aconteceria.

Não sentia mais vontade de fazer nada. Até as coisas que eu mais amava, como ler e costurar pareciam não fazer mais sentido. O Palácio estava sendo enfeitado para o casamento, e os convites já haviam sido distribuídos por Dazzo.

Abigail me deixava ciente de tudo que acontecia, e, parecia cada dia mais madura para a idade que tinha, de tanto que trabalhava.

Tentei me mover para ajudá-la um dia, mas ela me repreendeu, dizendo que se os guardas soubessem que eu estava fazendo serviços domésticos, ela perderia os dedos que sobraram. A ordem era sempre que eu estivesse presa e parada, aguardando a volta do meu noivo.

Sentindo que caía em um profundo abismo a cada momento em que se passava, encarei a cômoda que escondia o buraco feito. Eu não tinha contado a Abigail sobre ele, e não parava de pensar na fera que estava presa lá
embaixo.

Como se eu estivesse sendo guiada a andar em direção à morte, quando a madrugada chegou, afastei a cômoda e, antes que percebesse, me vi novamente nos infinitos túneis escuros. Harry estava dormindo e não me acompanhou dessa vez.

Talvez a fera fosse a solução dos meus problemas. Ela poderia dar fim ao meu sofrimento. Qualquer coisa era melhor do que viver nas mãos de Arthur.

Meus passos pararam, firmes ao chão como uma rocha, quando fiquei em frente ao monstro. Ele, que dormia, acordou ao farejar a minha presença. Tremi, enquanto caminhava devagar em sua direção, com lágrimas descendo ao rosto que eu não me importei de enxugar.

Não era nada nobre caminhar em direção a morte, mas eu era uma covarde. Eu sempre soube que era. Não era como as minhas irmãs, que encontravam forças para lutar. Eu não tinha força alguma, nem para me defender, ou sequer para cogitar matar Arthur. Era mais fácil assim. Era mais fácil, simplesmente, ceder.

Fechei os olhos, confessando silenciosamente que sempre amaria a minha família, e Harry. Eu tinha aprendido a amar, de verdade, pelo menos. Tinha sido suficiente. Eu estava pronta.
Nada aconteceu.

Abri os olhos, engolindo em seco ao ver que estava em frente ao olho da fera, que, agora sabia, era um dragão. Os olhos roxos dele, que possuíam mais da metade da minha própria altura, penetraram os meus, com uma tristeza que parecia ainda mais profunda que a minha.

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