Em um movimento rápido que não me deu tempo para reagir, Pantera agarrou a gola da minha camiseta, puxando-me com tanta força que ouvi o barulho dela sendo esgaçada. Agora seus olhos escuros estavam ainda próximos, fuzilando-me:

— Você tá me fazendo repensar seriamente a minha decisão de te deixar sair dessa sala viva. — Algo na minha expressão deve ter evidenciado minha confusão, e Pantera chegou ainda mais perto pra praticamente rosnar: — É isso mesmo, depois dessa merda toda, eu ainda não vou te empalar com esse bastão. Então que tal baixar a porra da sua bola?

Ela me empurrou para trás e dei alguns passos até recuperar o equilíbrio. Estava começando a sentir a cabeça latejar por causa do álcool e da ansiedade.

— Você morta é mais problema para mim do que viva — explicou, mesmo que eu não tivesse perguntado, e seus olhos caíram sobre Samuel. — E você é igual a sua mãe. Sabe que tem privilégios e vai abusar deles até onde for possível, não é?

Aquilo foi rosnado em tom de ameaça, ao qual Samuel pareceu não dar muita importância quando deu de ombros. Eu ainda estava suando frio.

— O que vai acontecer é o seguinte: vocês dois vão sumir daqui e absolutamente ninguém, nem mesmo a Ana, vai saber o que aconteceu, entenderam? — Apesar de fingir falar pra nós dois, seus olhos estavam em mim. — Porque eu juro por Deus que arranco os olhos da sua cachorra.

Tranquei o ar, assistindo Pantera falar aquilo e logo depois esticar uma mão para acariciar a cabeça de Mei. Queria mandá-la largar a minha cachorra, mas aquilo com certeza não ajudaria em nada.

Perguntei-me qual era o seu interesse em demonstrar piedade. Se era cruel como acreditavam ou não, tudo que Pantera fazia tinha um motivo por trás. Então, compreendi quando finalmente percebi a maneira quase insegura que ela olhava para Samuel.

Ela tinha falado abertamente que ele possuía privilégios e, como agora eu sabia que ela e Carol estavam juntas, era fácil deduzir que o motivo era a mãe dele. Me matar seria um problema, pois mesmo que Carol não se importasse o suficiente para brigar por mim, eu confiava que Samuel faria aquela cidade ir abaixo — nada menos do que o que eu faria por ele.

Se nos matar não era opção, a segunda coisa que pensei foi em tortura. Pantera gostava de reforçar a crença de que ela era cruel e impiedosa e aquele seria um momento perfeito... se não implicasse em também revelar o motivo pelo qual nos torturou no meio da noite. E ela com certeza não gostaria que o resto do grupo soubesse que nós dois conseguimos invadir seu escritório sem sermos vistos.

Então, ao invés de permitir o fervor no sangue de tomar conta, esforcei-me para ser racional e manter o tom de voz sob controle:

— Ninguém vai saber de nada — garanti. — Mas, Pantera, eu quero ir embora. Você nunca me deu um tempo ou uma condição para...

Ela deixou um riso estridente escapar.

— E eu, Rebeca, quero a porra de um shopping center. — Apesar do deboche, Pantera finalmente pareceu relaxar o suficiente para largar aquele bastão em cima da escrivaninha. Pelo menos eu não precisava continuar esperando um golpe aleatório. — Quando você puder me arranjar um, a gente conversa. Até lá, deveria ser grata por você e sua cachorra continuarem vivas e bem tratadas.

Ela pareceu achar tanta graça do que disse que deixou mais um riso escapar, mas não entendi ao certo o que havia de tão engraçado. Olhei para Samuel, em busca de qualquer ajuda em sua expressão, mas ele estava apenas, encarando a líder daquele grupo.

— Você está falando sério? Sobre o shopping?

O sorriso desapareceu do rosto de Pantera, mas ela não respondeu. Samuel insistiu:

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