Em Fúria

Capítulo 35.

Jin limpou a garganta, atraindo a atenção de todos os presentes. Quando seu grupo estava no Hospital, todas as vezes que eu o havia visto, ele estava usando seu jaleco, mas desde que foram obrigados a se realocar para a Base, a vestimenta tinha sumido. Naquela noite, ele a vestiu de novo. Perguntei-me se era porque sabia que lhe conferia uma aparência de autoridade.

— Acredito que muitos de vocês tenham reparado em uma movimentação diferente do habitual dentro do grupo recentemente. — Ele começou, a voz alta e clara. Estávamos dispostos no que antigamente era uma área de festas no subsolo de uma das casas e que usávamos para fazer nossas refeições, apertando-nos em volta de uma mesa comprida de madeira. — Minha ausência e a de Maurício nessas últimas semanas se deve a um trabalho que realizamos juntos, mas que preferimos manter em sigilo para garantir a segurança dos demais e não colocar mais estresse além do que grande parte de vocês já está enfrentando.

Com o queixo apoiado na mão, olhei rapidamente para Leonardo, tentando entender o que sentia por trás da expressão séria. Seus olhos se encontraram com os meus momentaneamente, então voltaram para Jin. Sabia que Léo quem havia exigido que o assunto fosse compartilhado com todos.

— Sei que nem todos vão concordar com essa escolha, mas ressalto que foi algo que decidimos em conjunto, levando em conta somente o bem estar o grupo. — Ele fez uma pausa, os olhos passando de ouvinte para ouvinte. — Como sabem, fomos obrigados a fugir e nos abrigar aqui após o ataque à nossa antiga casa, o Hospital Nossa Senhora Abadia. Cada um dos presentes sofreu perdas que são sentidas até hoje e lutamos para nos reestruturar enquanto grupo e família. — Para minha surpresa, em seguida, Jin gesticulou para mim e Samuel. — A casa de Rebeca, Samuel, Leonardo, Paulina, Celso e Laurinha também sofreu com a mesma violência e, se pudermos dizer que tivemos aliados nessa luta pela sobrevivência, foram estas pessoas.

"Como vocês sabem, nossos companheiros também foram pegos de surpresa. E, por muito tempo, as dores de nossas perdas foram acompanhadas por uma interrogação cruel do motivo por trás desses ataques, além de uma inquietação constante em torno de uma possível segunda investida. Não sabíamos quem eram os autores e as intenções por trás de tanta vilania, tampouco tínhamos tempo para pensar nisso; sem nossa base, a vida se tornou uma luta ainda mais implacável pela sobrevivência e pelo direito mais simples, que é nos sentirmos em segurança e alimentados."

Percebi Leonardo revirando os olhos, provavelmente desagradado com o discurso exageradamente emotivo. Jin não era burro. Se precisava entregar aquela confissão, seria da maneira que melhor lhe servisse.

— Foi com um desejo de restaurar nossa paz de espírito e garantir que essa fatalidade não se repetisse que eu e Maurício nos dedicamos a buscar informações sobre o grupo que realizou o ataque. — Ele virou na direção de Alicia, a mulher de vinte anos que perdeu o avô. — Alguns já tinham apontado que reconheceram rostos durante aquela noite, de pessoas que antes viviam no campus universitário. Apesar de estarem longe de serem considerados nossos amigos naquela época, no mínimo, tínhamos um acordo de paz implícito, diferente do grupo homicida de Klaus. Que achávamos que haviam sido completamente eliminados.

Jin olhou diretamente para mim.

— Infelizmente, eles descobriram de maneira tão pesarosa quanto nós que restaram sobreviventes dispostos a se vingar. Quando eu soube que havia sido um dos homens de Klaus quem coordenou o ataque ao grupo deles, comecei a desconfiar de uma possível aliança... um ou aliciamento de membros. — Jin caminhou ao redor da mesa onde antes jantávamos, até parar atrás de Maurício. O homem estava sério, apoiando o rosto no punho, e seu olhar estava perdido em um canto do cômodo. — Durante as últimas semanas, Maurício esteve em Blumenau buscando rastros desse possível grupo e descobriu que o campus também foi atacado. Como foram sobreviventes de lá que vimos, nossa conclusão foi que, ou já haviam homens infiltrados, ou Adão os convenceu a formar uma aliança.