Saí correndo, ouvindo meus pais se envolverem em uma risada.

Senti uma lágrima descer, indo embora junto com a lembrança. Meu pai não estava mais aqui para cuidar dela. Ela estava sozinha. A minha melhor amiga estava sozinha.

Andei até a janela, percebendo que era alto demais para pular. No entanto, havia um galho de árvore alcançável. Me esgueirei sobre ele e desci aos poucos, tentando regular a minha respiração. Caí em cima do que um dia pareceu ter sido um campo de hortênsias.

Um velhinho careca apareceu, me olhando desconfiado.

— Bom dia! Vim ver as flores. — sorri, tentando puxar conversa. Vi ele enrugar o rosto, ponderando se era para eu estar ali. Ele me olhou de cima a baixo.

— Não tem mais flores. — ele disse, com a voz amarga, se abaixando para regar as folhas mortas. — Quando não há amor, as plantas não florescem.

Nunca vi alguém tão triste antes. Todos os servos do Palácio pareciam carregar a mesma expressão de desesperança. Ele pareceu decidir fingir que eu não estava ali. Engoli em seco, olhando ao redor. Eu precisava sair daquele lugar. Os muros, no entanto, eram altos demais.

— O senhor sabe onde ficam os estábulos? — perguntei, vendo o idoso se virar para me responder.

— Do outro lado, atrás das torres.

Era longe demais. Tinha guardas por toda parte, e mesmo se eu conseguisse o cavalo e superasse o medo de andar, como eu passaria pelos portões?

— Por que está aqui fora, querida? — uma voz atrás de mim fez com que eu pulasse de susto.
Arthur me encarava, com os olhos escuros raivosos.

— Os seus guardas me prenderam. — ergui o rosto, vendo-o fingir surpresa.

— Isso é um completo absurdo! Mandarei matá-los imediatamente.

— O que? — senti um arrepio de pavor. Não parecia brincadeira. — Não... não é necessário.

— Não posso deixar que um mal entendido como esse ocorra com a minha noiva. Você desceu por essa árvore? Poderia se machucar.

Noiva? Ele disse noiva?

— Príncipe Arthur, por favor, eu só desejo a minha carruagem de volta. — engoli o nó em minha garganta, sentindo o medo aumentar. — A minha mãe precisa de mim.

— A sua mãe ficará bem, ela virá ao nosso casamento. — ele sorriu. Como um louco. — Por que deseja ir, meu amor? Tudo que precisa está aqui. Não deixarei que mais ninguém a prenda. Pode andar por todo o Palácio.

Dei um passo para trás, vendo o velhinho me olhar com pena, enquanto regava as plantas mortas.

Ele era louco.

— Eu te imploro. — engoli o nó em minha garganta. Senti que estava em um pesadelo.

— Não precisa me implorar nada. — ele tocou em meu rosto. Recuei. Ele fechou o semblante. — Por que está recusando o meu toque?

— Por favor, Arthur. — disse, trêmula, sentindo uma lágrima descer. — Me deixe ir.

— Não chore, amor. Mandarei médicos para a sua mãe. É isso que te preocupa? — ele se aproximou, dando um beijo repulsivo em minha testa. Fechei os olhos, tentando com todas as forças não me afastar. Eu não sabia o que ele me faria.

— Nós não somos noivos. Você disse que me deixaria ir. — sussurrei, esperando que ele acabasse com aquela loucura.

— Erro meu. — ele sorriu, retirando uma aliança do bolso. — Não te dei o anel, não foi? Nós nos beijamos e perdemos a noção do tempo mais cedo.

O idoso acenou a cabeça em minha direção, como se me alertasse de que não adiantaria dizer mais nada. Engoli em seco, vendo ele pegar a minha mão e enfiar o anel em meu dedo. Até agora, eu tinha conhecido o Arthur insano. Não queria conhecer o agressivo.

— Vamos, querida, voltar para dentro. O jantar nos espera. Conversamos sobre os preparativos do matrimônio durante ele.

Naquela noite, depois do jantar aterrador, eu voltei para o quarto, percebendo que o guarda ruivo não estava mais lá

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Naquela noite, depois do jantar aterrador, eu voltei para o quarto, percebendo que o guarda ruivo não estava mais lá. No lugar, tinha um homem de barba escura trançada, armadura preta e apenas um olho. O outro parecia ter sido costurado.

Um barulho de serra me fez abrir as cortinas. Escutei a árvore que alcançava a janela do quarto cair, e vi placas de madeira reforçadas para que a janela nunca mais fosse aberta.

A garota sem nome me trouxe novos lençóis e colocou água quente em minha banheira. Fechei a porta, com medo do novo guarda, e me fechei no banheiro atrás dela. Seus olhos castanhos se abriram, apavorados, e ela largou o sabão que segurava ao chão.

— Não se assuste, eu não irei machucá-la. — disse, estendendo as mãos para tentar acalmá-la. — Por favor, eu só quero conversar.

Ela assentiu, dando um passo para trás.

— Por que você não tem nome?

— Ninguém tem nome no reino a não ser o nosso Príncipe, Alteza.

— O que aconteceu com o Castelo? Ele foi realmente atacado?

Ela me olhou, com medo de responder, e balançou a cabeça negativamente. Comecei a chorar.

— Por favor, me responda, eu estou desesperada. Ele é capaz de me matar?

A garota soltou os ombros, parecendo substituir o medo que sentia de mim por pena. Em silêncio, ela assentiu.

Soltei meu corpo e o deixei cair até o chão do banheiro, sem saber o que fazer. Eu não tinha ninguém. Estava sozinha com um homem louco que poderia me matar se eu não fizesse o que ele queria. Ninguém viria me buscar. Ninguém sabia onde eu estava.

— É só fazer o que ele diz. — a garota se abaixou em minha direção. — Nunca o questione.

— Eu não posso. — a vi entre minhas lágrimas embaçadas. — Não posso me casar com ele.

— Eu sinto muito. Vossa Alteza não tem escolha. Ninguém tem. — ela engoliu uma saliva. — Todos aqui estão presos.

— O que aconteceu com o antigo guarda que ficava aqui na porta?

— Ele o mandou ser decapitado.

Enterrei meu rosto entre os joelhos.

— Foi minha culpa. Eu disse a ele que o guarda me prendeu.

— Não foi sua culpa, ele é louco. — ela segurou em meus braços, como consolo.

— Me ajude a fugir. Eu preciso sair daqui.

— Ele a encontrará, onde estiver. Matou a própria família para assumir o trono, não a deixará escapar viva, muito menos a mim, se eu a ajudar.

Uma batida foi dada na porta, nos fazendo levantar de susto.

— O que estão fazendo? — parecia a voz do novo guarda. — Por que estão demorando tanto no banho?

— Já irei sair! — respondi de volta, percebendo que eu estava, realmente, sendo vigiada.
Ele sabia que eu estava tentando fugir hoje.

A garota jogou mais água na banheira, para fazer barulho, e escutamos os passos do guarda se afastar. As minhas lágrimas secaram.

Eu estava condenada.

Insensato AmorWhere stories live. Discover now