Capítulo 59: Estávamos falando sobre...

481 106 29
                                    

O início das férias era o mais esperado por todos nós. Eu não via a hora de não precisar mais entrar na universidade por alguns dias. E tudo ficou ainda melhor quando eu e Manu conseguimos férias do trabalho, podendo aproveitar todo o tempo livre. Eu estava precisando mesmo relaxar depois das últimas semanas.

Tinha ido até a polícia dar queixa de Thiago. Foi constrangedor pra mim, porque precisei contar detalhe por detalhe de tudo que aconteceu entre nós dois desde o início, até ele voltar e começar a me infernizar de novo. As mensagens que ele me mandava. As ameaças e o que fez a Felipe. Mas consegui fazer isso, porque Felipe e meu irmão estavam do meu lado, além dos meus amigos.

Não tinha bem certeza do que ia acontecer agora. A justiça não costumava ser muito rápida e nem mesmo muito justa. Mas eu estava feliz por ter feito aquilo, porque sabia que era o certo. Meus pais também ficaram felizes, mesmo depois de me darem um puxão de orelha um tanto feio por ter escondido tudo deles. Não foi a conversa mais fácil que tivemos, mas ficou tudo bem no final das contas.

—Ele não é um pouco velho pra você, não? —Léo indagou, fazendo Érika bufar e lançar um olhar assassino na direção dele.

—Por que você não cuida da sua vida? —Érika sibilou para Léo, que soltou uma risadinha baixa que só servia para deixá-la ainda mais irritada.

Estávamos todos na praia. Era a primeira vez que estávamos todos juntos desde que as férias começaram. Os meninos tinham aproveitado para surfar, enquanto eu e as gurias tínhamos ficado deitadas na praia pegando sol. Isso até meu irmão sair da água e se aproximar, notando os olhos de Érika sobre Diogo.

—Acho que já entendi. —Léo passou as mãos nos cabelos escuros, que ficaram cheios de areia por estarem molhados. —Ele te deu um fora, pirralha?

—Me incomode mais um pouco, talvez assim meu irmão se irrite com você e te dê um soco na cara. —Érika afirmou, fazendo Léo erguer as sobrancelhas e olhar pra ela. Eu, Manu e Melissa trocamos um olhar demorado, como se estivéssemos vendo a implicância gratuita ali.

—Mais fácil ele me ajudar a te incomodar do que me bater por isso. —Retrucou, fazendo Érika revirar os olhos e bufar, cruzando os braços na frente do corpo como se estivesse irritada.

Abri um sorriso ao ver Felipe saindo da água junto com os outros. Bernardo era o único que não estava com uma prancha, mas isso não o impediu de ir pra água com os outros. Ele caminhou até onde Manu estava sentada, a abraçando de lado e sussurrando alguma coisa no ouvido dela que a fez corar. Eu teria sorrido com isso, se não estivesse mais ocupada olhando para Felipe na minha frente.

—O que está rolando? —Indagou, se sentando na minha frente, com um sorriso tão bonito nos lábios que fazia meu coração disparar. Nos últimos dias ele estava sempre sorrindo, assim como eu.

—Estávamos falando sobre...

—O meu irmão! —Érika cortou Léo no meio da frase, já que Diogo tinha acabado de se aproximar e se sentar ao lado de Melissa, alheio ao fato de que estavam falando dele segundos atrás.

Léo soltou uma risada, parecendo perceber o medo de Érika de que ele contasse a verdade. Eu comprimi meus lábios para não rir, vendo Eduardo fincando a prancha na areia e encarando a irmã com as sobrancelhas erguidas, como se estivesse tentando entender porque estávamos falando dele.

—Estávamos falando sobre você. —Érika abriu um sorriso falso para o irmão, com os olhos brilhando como se tivesse acabado de ter uma ideia. —Sobre o fato de que você é o mais bonito de todos os rapazes do grupo, mas ainda não arranjou uma namorada.

Eduardo fez uma careta de incredulidade, enquanto Bernardo, Felipe e Diogo olhavam pra Érika com as sobrancelhas erguidas.

—Acho que nunca vi ela o elogiar antes. —Bernardo murmurou, olhando para Érika como se subitamente uma segunda cabeça estivesse nascendo ao lado da dela. —Ainda mais dizendo que ele é bonito.

—Para a surpresa de todos vocês, eu realmente acho meu irmão muito bonito. —Érika jogou os cabelos loiros para trás do ombro, abrindo um sorrisinho. —O que deve ser de família, já que eu também sou linda. —Eduardo revirou os olhos, enquanto o restante de nós ria. —Mas não muda o fato de que ele não tem namorada, porque apesar de ser bonito, sua personalidade é...

—Tava demorando pra vir a ofensa, né, pirralha? —Soltou, nem deixando que Érika completasse. Claro que Érika só estava implicando com ele, mas ainda sim era engraçado ver as expressões de indignação no rosto de Eduardo. —Eu só não namoro porque eu não quero, não é por falta de opção.

Eu e as garotas gememos e revíramos os olhos, enquanto os rapazes caíram na risada vendo a expressão exultante que se abriu no rosto de Eduardo, quando ele ergueu o queixo. A conversa foi para outro lado, mas eu ainda pude notar que Érika tinha parado de olhar para Diogo e agora estava olhando para o meu irmão.

[...]

Caminhei até onde a kombi de Felipe estava estacionada. Ele tinha sumido depois de alguns minutos. Fiquei me perguntando se alguma coisa tinha acontecido, mas o encontrei deitado lá dentro, encarando o céu azul com uma expressão que deixava claro que ele estava pensando muito longe dali.

—O que você está fazendo aqui sozinho? —Indaguei, entrando ali atrás com ele, me deitando ao seu lado. Felipe se ajeitou para que eu usasse seu ombro como travesseiro, deixando o bravo ao meu redor. —Todo mundo está se divertindo juntos lá na praia.

—Eu sei. Só estou evitando que eu seja o próximo na onda de implicância. —Afirmou, me fazendo sorrir, porque quando sai de perto dos meus amigos, eles haviam pegado Manu e Bernardo para incomodar, deixando o casal um pouco constrangido.

—Que pena, estava ansiosa pra saber o que Bernardo e Eduardo iriam contar sobre você que eu ainda não sei. —Falei, soltando uma risada quando Felipe se virou e me deixou deitada, com o corpo de lado sobre o meu. O sorriso deixando seu rosto todo iluminado.

—Você já sabe tudo sobre mim, assim como eu já sei tudo sobre você. —Afirmou, inclinando o rosto para perto do meu, deixando os lábios roçarem na minha boca. —É um desastre fazendo bolos, mas é muito boa em história. Gosta de jujubas vermelhas e roxas, além de ser inquieta e pensar nos outros em primeiro lugar, mesmo que isso signifique prejudicar a você mesma.

—Eu estou pensando mais em mim nos últimos dias. —Retruquei, escondendo meu rosto na garganta dele, sentindo o cheiro de mar e praia que vinha da sua pele negra. —E no quanto eu me sinto bem quando estou com você. Então mesmo que você me ache insuportável em algum momento, eu nunca vou te deixar em paz.

—Do tipo que vai aparecer no cinema do nada só pra ficar perto de mim? —Indagou, me fazendo soltar uma risada e balançar a cabeça que sim. —Adoro a forma como você pensa, Jujuba.

Afastei meu rosto dele, observando seu rosto a centímetros do meu. Meus sentimentos inteiros transbordando como se fosse possível gostar ainda mais de Felipe. Mas eu já gostava dele o suficiente para querer que aquilo desse certo e durasse por muito tempo. E Felipe estava me olhando como se pensasse a mesma coisa.

Felipe se inclinou mais ainda, quebrando o restante do espaço entre nós dois para me beijar. Soltei um suspiro, envolvendo a nuca dele e o puxando ainda mais pra mim. Uma explosão química aconteceu dentro de mim, enquanto eu sentia os lábios de Felipe se moldando aos meus, enquanto suas mãos envolvia delicadamente meu rosto. Sorri contra o beijo, sabendo que aquele era meu lugar favorito no mundo.


Epílogo...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt