Capítulo 11: Irmão mais novo.

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Felipe fechou a porta antes que eu tivesse a chance de respondê-lo. Meu coração estava batendo com tanta força no meu peito que pensei por um segundo que ele fosse explodir depois de ouvi-lo dizer aquilo com tanta naturalidade, como se não fosse nada demais. Por um segundo, tudo que eu fiz for permanecer no carro, sem reação, antes de finalmente conseguir descer.

—Você não pode ficar me falando essas coisas. —Afirmei, vendo-o girar a cabeça e erguer as sobrancelhas pra mim, com um sorrisinho que respondia minha afirmação com um claro "sim, eu posso".

Aquilo me fez bufar e caminhar até o elevador como uma criança emburrada, apertando o botão com força, quase o fundindo a parede. Felipe trancou o carro, soltando uma risada quando viu o que eu estava fazendo. Quis virar e dar um soco nele, mas seu rosto era bonito demais para que eu o estragasse assim. Era um pouco irritante até.

—Você fica ainda mais bonita quando está irritada, sabia? —Afirmou, entrando no elevador junto comigo. Olhei pra ele, comprimindo meus braços enquanto cruzava os braços na frente do corpo. —Quer que eu faça um chá de maracujá pra você? Dizem que acalma.

—Eu te odeio. —Afirmei, fazendo ele rir. —Não, é sério, eu te odeio. Você aparece em todos os lugares que eu estou desde aquele dia no bar e fica flertando descaradamente comigo, falando coisas que não deveria falar.

—Por que eu não deveria falar? —Ele sorriu pra mim, fazendo meus olhos se revirarem quando percebi que ele só estava tentando me irritar mais ainda. —Eu gosto de sinceridade. Sinto muito se a minha te incomoda tanto assim.

—Não sente, não. —Retruquei, arrancando uma risada dele, antes de sair do elevador e ir direto até minha porta, querendo me trancar no meu quarto pelo restante da noite. Abri a porta do apartamento, vendo que Felipe estava parado no corredor me encarando com uma expressão divertida. Mostrei a língua pra ele, fechando a porta atrás de mim e ouvindo sua gargalhada me seguir.

—Parece que o dia foi bom. —Olhei pra trás, encontrando Manu sentada no sofá, olhando pra mim com um sorriso pequeno no rosto, provavelmente porque ouviu a risada e reconheceu como sendo de Felipe. —Vocês dois estavam juntos ou...

—Mel convidou ele pra casa dela também e ele me deu uma carona de volta, só isso. —Não era só isso, a partir do momento que eu sabia que Felipe estava determinado a me fazer mudar de ideia sobre um encontro entre nós. Mas não queria que Manu me incomodasse com isso. —O que houve com os seus pais? Bernardo estava preocupado com você mais cedo.

—Ah... —Ela sorriu sem graça, parecendo ficar subitamente tensa. Eu conhecia bem aquela reação. Já havia gosto Manu reagir daquela mesma forma todas as vezes que falei dos seus pais. Era o mesmo jeito que eu reagia sempre que alguém ousava falar do meu ex namorando. Um babaca que deveria ser apagado da face da terra. —Eles adotaram um cachorro. Nada demais. Me ligaram pra que eu fosse conhecê-la. Nina o nome.

Olhei pra ela, notando a mentira na sua voz. Não fiquei ofendida com isso, porque eu também não era 100% sincera com meus amigos em relação a tudo. Todo mundo tinha segredos e eu tinha os meus, guardados a sete chaves bem no fundo do meu coração. Então eu também entendia quando Manu preferia não contar pra mim sobre seus pais. Se a deixava desconfortável, então eu realmente entendia.

—Que legal. A gente deveria adotar um animal também. —Falei, me dirigindo até meu quarto. —Um hamster, talvez um gato ou até mesmo um furão.

—Eu voto no furão. —Manu gritou da sala, me arrancando uma risada, porque eu sabia que não íamos adotar nada, já que não tínhamos nem tempo pra cuidar de nós mesmas.

Parei de andar quando cheguei ao corredor, fazendo uma careta com o cheiro de tinta fresca. Empurrei a porta do quarto de Manu e acendi a luz, observando uma parede inteira pintada de roxo, enquanto as outras três ainda exibiam o tom creme sem graça do restante do apartamento. Abri e fechei a boca, girando o rosto para ver Manu se aproximando, parecendo um pouco sem graça por eu ter notado sua mudança no quarto.

—Parece que sua tarde foi bem movimentada. —Comentei, arrancando uma risadinha baixa dela, que corou e encolheu os ombros.

Já tinha visto ela fazer coisas desse tipo antes. Como ter uma ideia do nada de cozinhar alguma coisa, ir no mercado comprar tudo e quando começou a fazer, ficou entediada demais para continuar. Sabia que tinha a ver com o TDAH e que ela ficava sem graça quando isso acontecia, assim como não gostava quando eu precisava lembrá-la de algo que ela inevitavelmente esqueceu, mesmo que eu não me incomodasse nem um pouco com isso.

—Eu vou pintar o resto, prometo. —Ela entrou no quarto, abrindo mais as janelas para o cheiro de tinta sair. —Mas você vai precisar me ceder um espaço da sua cama hoje.

Soltei uma risada, balançando a cabeça negativamente antes de entrar no meu próprio quarto. Meu celular começou a tocar no meu bolso de novo, me fazendo soltar um suspiro pesado antes de pega-lo. Meus ombros caíram de alívio quando vi o nome do meu irmão na tela, o que me fez abrir um sorriso enorme. Fechei a porta do quarto e me joguei na cama, atendendo a ligação de vídeo.

—Olha só, pensei que nem ia te encontrar em casa. —A expressão sorridente do meu irmão mais novo iluminou a tela do meu celular quando ele apareceu. Os cabelos escuros como carvão úmidos como se ele tivesse acabado de sair do banho. —Você está sempre na rua a noite, bebendo.

—Estou tentando ser um pouco responsável de vez enquanto. —Dei de ombros, arrancando uma risada de Léo. Nós dois sabíamos que ele era o mais responsável de nós dois, que cuidou de mim mesmo quando deveria ser eu a cuidar dele.

—O que está havendo, Juju? —Léo me conhecia bem demais. Mais do que eu mesma me conhecia. Ele cerrou os olhos claros, como se pudesse ler meu rosto inteirinho. —Ele voltou a te incomodar de novo?


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora