Capítulo 44: Sentar, rolar e dar a patinha.

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Acordei com Júlia me enchendo de beijos, parecendo ter voltado ao seu estado natural de animação, porque um beijo levou a outro e depois outro, a ponto de nos atrasarmos quando finalmente conseguimos desgrudar um do outro. Não estou reclamando, foi realmente bom sentir que Júlia realmente me queria e que qualquer outra coisa era paranóia da minha cabeça.

Ainda sentia que algo estava a incomodando, mas agora tinha certeza que não era nada relacionado comigo. Fui pra universidade com a cabeça bem mais leve do que no dia anterior, que parecia haver uma tempestade se formando em cima da minha cabeça, me fazendo desejar explodir o muito todo. Mas parecia que meu mal humor tinha passado de alguma forma para Bernardo.

—O que está havendo? —Cutuquei Eduardo, enquanto subíamos as escadas do prédio de química para ir para a sala onde teríamos aula. Ele olhou pra mim e depois para Bernardo, balançando a cabeça negativamente.

—Ele e a Manu brigaram. Ele chegou ontem a noite super desanimado e nem quis conversar direito. —Eduardo deu de ombros, enquanto Bernardo ia mais à frente, em um silêncio tão tenso que deixava claro que não queria conversar com ninguém naquele momento. —Parece que enquanto ele teve azar ontem a noite, você teve muita sorte, né?

—Não começa. —Resmunguei, arrancando uma risadinha sarcástica de Eduardo. —O que será que aconteceu? Eu estava com os dois ontem a noite no treino. Eles pareciam super bem, como sempre.

—Não sei, mas eu estou curioso. Queria perguntar ao Bernardo o que aconteceu, mas tenho a sensação de que ele vai me dar um soco na cara se eu fizer isso. —Eduardo ergueu a mão e passou pelo rosto, fazendo uma careta. —E não estou afim de ficar com um olho roxo hoje.

—Vocês sabem que eu consigo ouvir o que vocês estão conversando, né? —Bernardo indagou, olhando pra nós dois por cima do ombro, o que fez eu e Eduardo ficarmos em silêncio. —Eu fiz merda, foi isso que aconteceu.

—Que tipo de merda? —Indaguei, andando mas rápido para alcança-lo, assim como Eduardo fez. Cada um de nós ficando de um lado de Bernardo. —Você só falta sentar, rolar e dar a patinha pra Manu. Como conseguiu fazer merda?

—Eu deveria dar um soco na sua cara e não na do Edu. —Bernardo praticamente rosnou as palavras, fazendo nós dois rirmos, antes de eu erguer as mãos pra cima como se estivesse me rendendo. —Não foi bem uma merda. Eu estava certo... Eu estou certo. Mas eu escolhi o pior momento possível pra falar e isso machucou a Manu, mais do que ela já estava machucada. Se eu fosse ela, também teria ficado chateado. Eu só não pensei direito quando falei.

—Eu não entendi absolutamente nada. —Eduardo murmurou, parecendo estar tão confuso quanto eu, porque também não tinha entendido nada, apesar de compreender o que Bernardo tinha dito sobre falar algo em um momento errado, mesmo estando certo.

—É complicado. —Bernardo erguer a mão para esfregar o rosto, parecendo cansado e desanimado. —Eu só queria falar com ela, mas ela não atende minhas ligações e nem responde as minhas mensagens.

—Não foi você quem disse para dar o tempo pra ela se sentir confiante para falar? —O lembrei, vendo-o me lançar um olhar resignado, como se falar fosse muito mais fácil do que fazer. —Cara, fica tranquilo. Vocês dois vão se resolver logo.

Dei um tapinha no ombro de Bernardo, vendo ele soltar uma respiração desanimada e balançar a cabeça negativamente, como se não estivesse muito confiante sobre isso.

[...]

Não vi Júlia pelo restante do dia, porque ela havia me mandado uma mensagem dizendo que estava com Manu e não voltaria pra casa. Isso me fez pensar que Manu provavelmente estava tão mal quanto Bernardo, que se recusou a falar qualquer outra coisa sobre a briga deles. Eu e Eduardo não insistimos, porque percebemos que provavelmente era algo pessoal demais..

Mas na quinta a tarde, quando eu, Eduardo e Érika chegávamos em casa depois do almoço, encontramos Bernardo pegando o elevador, com uma lata de tinta e alguns pinceis. Parecia alheio a qualquer outra coisa, porque nem notou que nós três estávamos atrás dele até que entrássemos no elevador também.

—Vai pintar o que com essa tinta roxa? —Eduardo indagou, mas Bernardo apenas comprimiu os lábios e ficou em silêncio, como se não quisesse ninguém o enchendo naquele momento.

—Vai pintar o quarto da Manu, pra ver se isso faz ela perdoar ele. —Érika afirmou, analisando as unhas pintadas de um tom de rosa chamativo, chamando a atenção de nós três. —A Júlia me mandou mensagem contando.

—Caralho, não da pra fazer nada que vocês já corem pra contar umas para as outras. —Eduardo resmungou, arrancando uma risadinha perversa de Érika, como se aquilo fosse realmente verdade. —Por isso que eu guardo tudo pra mim. Vocês não sabem guardar um segredo.

Eu e Bernardo olhamos para Eduardo no mesmo instante, cruzando os braços na frente do peito e erguendo as sobrancelhas. Ele revirou os olhos com a nossa reação, enquanto Érika começava a rir sem parar.

—Bom saber que você esconde as coisas da gente, Edu. —Afirmei, bufando em descrença. —Vou me lembrar disso da próxima vez que for contar algo para o Bernardo e deixar você de proposito de fora.

—O tema da conversa era o Bernardo e do nada se voltou pra mim. —Eduardo ergueu os braços como se estivesse confuso.

Mas a porta do elevador se abriu e Bernardo saiu sem falar nada, seguindo para a porta do apartamento de Júlia e Manu. Enquanto Érika se dirigia até o nosso apartamento, eu e Eduardo paramos e trocamos um olhar demorado, como se estivéssemos pensando a mesma coisa. Nosso amigo estava precisando da gente naquele momento, mesmo que se recusasse a falar.

Fomos pro nosso apartamento e colocamos uma roupa velha, antes de ir para o apartamento da frente onde Bernardo estava. Ele pareceu surpreso quando entramos no quarto de Manu, já indo ajudá-lo a afastar os moveis das paredes para começar a pintar.

—O que estão fazendo? —Bernardo indagou, parando o que estava fazendo para nos observar.

—Ajudando, ué. —Dei de ombros, como se fosse uma coisa óbvia. —Você me ajudou a preparar aquela surpresa pra Júlia. Nada mais justo que como um dos seus melhores amigos, eu te ajudar agora também.

—Exatamente. —Eduardo concordou, abrindo a lata de tinta, que fez um som engraçado, antes de jogar um pincel para cada um de nós. —E eu vim aqui pra fiscalizar que vocês vão fazer o trabalho direito.

Bernardo olhou pra mim e depois para Eduardo, como se quisesse dizer alguma coisa, mas não soubesse como. Por fim ele soltou uma risada e deu de ombros, negando com a cabeça. Pegamos a lata de tinta e preparamos tudo, antes de começarmos a pintar as paredes, sobre o olhar atento de Eduardo, que estava mesmo fiscalizando se estávamos fazendo o trabalho direito.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Where stories live. Discover now